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Diogo Severino, CEO do Grupo Vantagem da REMAX (Foto: Divulgação)

“Assistimos a uma verdadeira revolução digital no setor imobiliário” – Diogo Severino

O contexto de pandemia veio colocar o setor do imobiliário sob forte pressão. Embora não se possa falar já numa crise do setor, houve um “forte abalo” nas vendas e uma necessidade de o setor de reinventar para lá do negócio cara a cara. Em entrevista à PME Magazine, Diogo Severino, CEO do Grupo Vantagem da REMAX, fala sobre os novos desafios do setor e sobre o que esperar do mercado de vendas e de arrendamento.

PME Magazine – Como se encontra o mercado imobiliário neste momento, no que respeita a vendas e arrendamento?

Diogo Severino – A grande maioria dos setores em Portugal estão a sentir fortes retrocessos nas vendas e o setor imobiliário não é de todo uma exceção. Embora continuem a existir contactos regulares e interesse por parte dos clientes (compradores e proprietários), a visita presencial a um imóvel é sempre crítica para qualquer decisão e as restrições de saúde pública são naturalmente uma barreira muito difícil de ultrapassar. Sobre o mercado, este sofreu um forte abalo nas vendas com quebras muito acentuadas (estimadas na ordem dos 50%), o que coloca todo o setor sob forte pressão.

PME Mag. – Os arrendamentos estão a voltar com preços mais acessíveis?

D. S. – De momento, ainda é muito cedo para antecipar tendências de mercado em termos de preços. O que posso adiantar é que, com a quebra quase total das receitas do turismo, tal já se reflete na transferência de algum alojamento local para arrendamento de longa duração. Tal poderá levar a um aumento da oferta e, naturalmente, levar à consequente baixa de preços. Mas como referi anteriormente ainda é muito cedo para garantir esse movimento.

PME Mag. – Quais os principais receios/desafios de senhorios e inquilinos?

D. S. – No contexto atual o principal desafio dos inquilinos é conseguir manter os seus rendimentos, assombrados por um receio latente de potencial perda de algum posto de trabalho dentro do agregado familiar.

PME Mag. – E dos senhorios?

D. S. – No que diz respeito aos senhorios, as notícias de isenção de pagamentos de rendas e consequentes medidas de apoio do governo criou uma nuvem de preocupação e desconfiança, sem conseguir antever que proteção terão.

PME Mag. – Quais os principais receios/desafios de quem compra e vende casa?

D. S. – Situações de crise levantam sempre muitos rumores em torno de baixas de preço: clientes compradores com capitais próprios e/ou acesso a crédito que tentam capitalizar nesta situação para colocar mais pressão sobre os proprietários para baixar preço e proprietários que possam estar tentados a adiar a venda do seu imóvel na esperança de uma potencial retoma futura ou em movimento contrário a acelerarem a venda com receio de quebras de valor mais acentuadas no futuro. No final de contas, tudo se resume à máxima da oferta e da procura, isto é, com muita oferta de produto face à procura podemos esperar uma baixa de preços. Se continuarmos como estávamos até ao confinamento, especialmente nos grandes centros urbanos, com pouca oferta de imóveis face à procura, esperamos que os preços efetivos de venda se mantenham mais estáveis. O que recomendo a quem deseje comprar ou vender casa neste contexto é contar com o apoio de um bom consultor imobiliário que lhes apresente um estudo de mercado completo sobre o imóvel e que lhes assegure toda a informação assim como apoio necessário, para garantir o melhor negócio possível.

PME Mag. – Como estão os agentes imobiliários a reagir a estes novos tempos? Que estratégias foram adotadas para continuarem a atividade?

D. S. – Embora este seja – e será sempre – um mercado de pessoas para pessoas, assistimos nos últimos dois meses a uma verdadeira revolução digital no setor imobiliário com grande parte dos agentes a serem obrigados a darem o passo para uma maior presença nas plataformas digitais, bem como em redefinir as suas estratégias e prioridades de promoção. Rapidamente, o mercado passou a reunir e comunicar com os clientes quase exclusivamente através de plataformas de videoconferência. As redes sociais ganharam ainda mais preponderância na promoção dos agentes e dos seus imóveis e até assistimos a open houses feitas exclusivamente em contexto digital. Obviamente que nenhum cliente compra um imóvel sem uma visita presencial, mas estas soluções e ferramentas contribuíram em muito para manter a relação entre os agentes e os cliente, assim como para uma melhor qualificação desses mesmos clientes, na tentativa de acelerar ou garantir negócio. Por outro lado, com a reabertura das agências a 4 de maio, implementámos no Grupo Vantagem e nas suas equipas um extenso protocolo de segurança e manual de normas, aquisição de equipamento de proteção individual e desinfeção das lojas, com o objetivo de garantir a segurança, saúde e confiança de colaboradores e clientes.

PME Mag. – Que previsões até final do ano?

D. S. – Não sendo esta, por agora, uma crise financeira – as taxas de juro continuam em níveis historicamente baixas e a banca continua a dar sinais de que existe liquidez para a concessão de crédito – existindo algumas garantias da contenção da pandemia e rápidas respostas em torno da tão aguardada vacina, acredito que se possa assistir a uma rápida retoma. Gostaria, no entanto, de clarificar que o setor imobiliário é intrinsecamente lento a reagir – o tempo médio de venda de um imóvel ronda os seis meses – logo, o rápido, na minha previsão, será algo no período de um a dois anos. Acredito, no entanto, que toda esta situação de quarentena reforçou ainda mais a relação dos portugueses com a sua casa, assim como trouxe ao de cima as suas lacunas, que se podem converter num futuro em oportunidades. Estamos, então, expectantes a aguardar pelos primeiros sinais da confiança e motivação dos clientes no futuro da economia nacional, pois tudo irá depender de como irá evoluir a economia e o emprego.