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Román Cazorla, responsável do segmento MOEM na Eaton Iberia (Foto: Divulgação)

Fabrico moderno: mudar as perceções para atrair talentos

Por: Román Cazorla, responsável do segmento MOEM (Micro-Opto-Electro-Mechanical) na Eaton Iberia

No mundo digitalizado de hoje, é fácil esquecer os marcos alcançados graças ao fabrico da maquinaria moderna. Enquanto a maioria de nós está plenamente consciente do tempo que passa a olhar para um ecrã, mal nos damos conta das vezes que interagimos com produtos produzidos em massa, ou com as máquinas que tornam possível tal produção.

Hoje, podemos dizer que o desenvolvimento e a inovação no fabrico de produtos não abrandaram. As mudanças na forma como o fazemos será um dos pilares da Indústria 5.0, termo atual que destaca o poder da indústria para atingir objetivos sociais para além do emprego e do crescimento. No entanto, é a parte digital, a parte da inovação disruptiva, que capta a atenção e o interesse das empresas, meios de comunicação social e mesmo dos que entram no início da carreira.

A cadeia de abastecimento global está a sofrer grandes mudanças. Por um lado, assistimos à deslocação do fabrico de locais com mão-de-obra de baixo custo, para centros de produção locais. Por outro lado, temos a crescente procura de flexibilidade no fabrico, que origina uma transformação na geração e consumo de energia.

Durante muito tempo, o fabrico de máquinas procurou estabilidade e desempenho. As fábricas são investimentos significativos e de longo prazo; o retorno do investimento era alcançado através da conceção de máquinas que funcionavam de forma eficiente e fiável, gerando fluxos de trabalho e configurações que alcançavam a tarefa em mãos e mantinham a produtividade durante anos. Esta abordagem rígida contrasta fortemente com os tipos de engenharia de sistemas que se tornaram prevalecentes na era do software, caracterizados pela flexibilidade, agilidade e capacidade de atualização. E o mundo empresarial de hoje depende de software que se pode adaptar a este contexto.

Este foco na engenharia de sistemas reativa e flexível não se limita aos serviços comerciais baseados na nuvem. Qualquer pessoa com um smartphone está familiarizada com as características que são adicionadas às aplicações que utilizam todos os dias para que permaneçam atuais. Do mesmo modo, a digitalização está a mudar tanto o que esperamos, como as possibilidades de fabrico.

O efeito sobre os consumidores é que os prazos de entrega, que há anos eram de meses, estão a ser reduzidos a semanas ou dias, chegando mesmo a serem exigidas adaptações específicas. Da mesma forma, o fabrico de máquinas também está a tirar partido destes desenvolvimentos. A normalização da comunicação entre máquinas através de iniciativas como a Arquitetura Unificada OPC significa que os engenheiros podem modificar e repensar os processos de fabrico de forma mais imaginativa e com prazos mais curtos. Isto ajuda, por exemplo, a implementar abordagens de conceção de gémeos digitais ou modelação de inovações num ambiente virtual que corresponda à fábrica física.

“A normalização da comunicação entre máquinas através de iniciativas como a Arquitetura Unificada OPC significa que os engenheiros podem modificar e repensar os processos de fabrico de forma mais imaginativa e com prazos mais curtos.”

Isto também se aplica à forma como as máquinas interagem com o seu ambiente. Com as iniciativas da internet industrial das coisas (IIoT), os fabricantes mudaram completamente a forma como trabalham com as máquinas, passando de interações físicas nos locais (botões e ecrãs das máquinas) para uma forma mais flexível, a partir da sua inbox do email. A longo prazo, esta evolução irá conduzirá à colaboração com robôs, que operam ao lado de empregados humanos.

Como podemos ver, isto difere da imagem mental que temos da indústria, mas está lentamente a tornar-se numa realidade. A curto prazo, o fabrico de máquinas, está a tornar-se muito mais sobre dados do que sobre metal e plástico, e podemos falar dele como uma indústria onde os dados se ligam verdadeiramente ao mundo físico. O primeiro passo para obter as competências necessárias na indústria seria mostrar a realidade, a natureza moderna do trabalho e a tecnologia envolvida. Mas para tornar o fabrico de máquinas um destino atraente para estudantes e novos profissionais, é essencial considerar o objetivo do trabalho.

A produção em massa de bens é, evidentemente, uma componente indispensável das economias e estilos de vida modernos. Mas, para a sustentar, existe um objetivo que a indústria deve abordar nos próximos anos relacionado com a transição energética. A chave reside mais em processos de eletrificação do que na redução do uso de combustíveis fósseis. A indústria deve adaptar-se a um mix energético dominado pelas energias renováveis. Ao mesmo tempo, é essencial estar sempre atento às consequências ambientais da indústria, explorando tecnologias com o objetivo de reduzir os resíduos e o investimento em materiais.

Ao liderar o progresso para reduzir o nosso impacto ambiental, destacando o potencial de inovação na indústria e analisando a forma como os dados definirão a produção na próxima Indústria 5.0, podemos colocar o setor – juntamente com o software e as energias renováveis – num local onde novos profissionais podem fazer a diferença durante as suas carreiras.