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Paulo Mendes Pinto: comissário do Nómadas do Pensamento (Foto: Divulgação)

Nómadas do pensamento

Por: Paulo Mendes Pinto: comissário do Nómadas do Pensamento

A cultura é o caldo mental em que nos movemos e com o qual concebemos aquilo de que somos capazes.

Após as crises económicas que abalaram o arranque deste século, juntam-se, hoje, os fantasmas de tempos de guerra que pensávamos ultrapassados e que nos conduzem a uma necessidade de regressar ao básico e de pensar o fundamental. A cultura é, hoje, sinónimo do posicionamento que uma sociedade toma para si mesma, espelho do lugar onde quer estar para o futuro.

Não só a cultura é parte dos setores produtores de riqueza que uma sociedade não pode colocar de parte, como cada vez mais se toma consciência do seu papel nas dinâmicas da criatividade, da tomada de consciência e na possibilidade de uma sociedade ser livre. Cultura é sinónimo, já não de diversão ou lazer, como tanto era apregoado em tempos que felizmente já passaram, mas de capacidade crítica, de inovação e de vanguarda. A cultura é libertadora e é inovação.

Indo muito mais além do tradicional quadro mecenático, as empresas precisam hoje de assumir o seu papel de liderança na forma como desafiam a sociedade, criando inovação, consolidando uma mentalidade que aceita desafios, que corre riscos e que acredita que podemos melhorar. Mais do que uma “responsabilidade social” espelhada no simples apoio aos desfavorecidos ou à cultura, pede-se hoje ao empreendedor que seja agente na mudança da sociedade, pensando, ajudando a pensar e criando espaços para o pensamento.

Foi com estas tónicas que com o Pedro Abrunhosa propusemos ao município de Oeiras, através da livraria Verney da Divisão de Bibliotecas, o ciclo “Nómadas do Pensamento”, que ao longo de quatro sessões proporcionou debates com pensamento em ação, em direto e no momento, não conferencias preparadas com comunicações previamente redigidas.

O ciclo abriu com José Pacheco Pereira e João Magueijo que, no dia 8 de junho de 2021, refletiram connosco sobre um tema da máxima atualidade: “Ciência, Negacionismo e Fakenews: Os Desafios da Cidadania e do Pensamento”.

Em setembro, no dia 28, um par inesperado, mas de uma riqueza extrema, Luísa Costa Gomes e Adolfo Mesquita Nunes, levaram-nos para a complexidade d’ “A traição da memória?”.

Já em dezembro, no dia 15, Ana Gomes e Assunção Cristas deram-nos o prazer de nos levar pelos labirintos de “Falar no Feminino, num Mundo após os Feminismos?”

Terminámos este ciclo, já em 2022, a 29 de março, com um dueto improvável entre Carolina Deslandes e Richard Zimler, a embrenharem-se na profundidade da reflexão “Viver Religião. Interior. Exterior. Ser”.

Todas as sessões abriam com uma composição do Pedro Abrunhosa, interpretada por ele ao piano, que nos conduzia de imediato para a temática e para um estado de espírito propenso ao pensar.

Foram momentos que nos obrigaram a sair do espaço de conforto, catapultando-nos para a liberdade de pensar, para o ato de pensar no momento, de ser espicaçado e de ser obrigado, em resposta pessoal, a pensar, também.

Infelizmente, não é um modelo de evento que se encontre com frequência, mas a riqueza e o sucesso foram a garantia de que o modelo perdurará a novos “nómadas” que virão!