Home / Opinião / O caminho faz-se de mãos dadas: o impacto da inovação colaborativa na reciclagem de resíduos de embalagens
Ana Costa re-source reciclagem de resíduos
Ana Costa, consultora de inovação e expert do programa de inovação colaborativa Re-source (Foto: Divulgação)

O caminho faz-se de mãos dadas: o impacto da inovação colaborativa na reciclagem de resíduos de embalagens

Por: Ana Costa, consultora de inovação e expert do programa de inovação colaborativa Re-source

Segundo dados da Sociedade Ponto Verde, a recolha seletiva de embalagens registou, em 2021, um aumento de 6,4% face ao ano anterior, tendo sido entregues mais de 435 mil toneladas de resíduos de embalagens para reciclagem. Esta evolução acentuou-se em todos materiais que compõem as embalagens, tendo sido recolhidas cerca de 202 mil toneladas de vidro, 77 mil toneladas de plástico e 139 mil toneladas de papel/cartão.

Embora se verifique um aumento das taxas de reciclagem e resíduos de embalagens em Portugal, o futuro traz desafios: face ao Pacto Ecológico Europeu, as metas europeias vão ficar mais exigentes, o que significa que até 2025 Portugal deverá estar já a reciclar pelo menos 55% dos seus resíduos urbanos. Esta percentagem deve aumentar para 60% até 2030 e para 65% até 2035. No entanto, segundo os últimos dados da Agência Portuguesa do Ambiente, em 2020, apenas 8,9% dos resíduos urbanos foram enviados para reciclagem.

Mas como aumentar taxas de reciclagem se a indústria não tem ainda soluções de matérias-primas em economia circular, processuais ou mesmo de medição de dados de impacto que permitam reduzir a quantidade de matérias-primas virgens e incorporar mais matérias recicladas? Se os processos de reciclagem ainda não chegam a todas as matérias-primas? Ou mesmo se a indústria não estiver alinhada entre diferentes pontos da cadeia de valor atuando como um todo?

Outra dimensão importante necessita também ser acrescentada à equação: os consumidores.

Consumidores estes que, por um lado, estão mais conscientes, exigindo à indústria que altere as matérias primas tradicionais (nomeadamente plástico) por outras que não possuem ainda fileiras em Portugal, reduzindo a quantidade de resíduos de embalagens com destino final adequado – que assegure reciclagem; por outro, necessitam de maior compromisso com o processo, uma vez que para que a cadeia de valor da reciclagem de resíduos de embalagem funcione estes têm de fazer a sua parte, separando os resíduos (seja em casa, nos locais de trabalho, nas horas de lazer…) e colocando-os nos contentores adequados. Para isto, há que conhecer as regras de deposição, de forma a assegurar que a segregação é feita da forma mais adequada.

Neste sentido, qual o caminho? A resposta para este desafio pode estar numa metodologia a que chamamos inovação colaborativa – ou seja, trabalhar em conjunto com toda a cadeia de valor e tirar partido do ecossistema empreendedor para que juntamente com grandes empresas seja possível criar respostas disruptivas e soluções que permitam atingir os objetivos de reciclagem.

A verdade é que inovar nem sempre é tarefa fácil para grandes empresas que já têm os seus processos bem oleados. E nem sempre a ótica da cadeia de valor é implementada quando as empresas trabalham nos seus planos estratégicos de inovação individuais. Como tal, este deve ser um trabalho feito em conjunto e de mãos dadas com quem tem maior capacidade para se adaptar rapidamente aos desafios da atualidade; criando soluções que têm em consideração diferentes óticas da cadeia de valor, tornando as soluções mais robustas e de maior impacto.

Existem já programas em Portugal focados neste modelo de inovação colaborativa e aplicada à reciclagem, como é o caso do Re-Source, desenvolvido pela Beta-i e pela Sociedade Ponto Verde. Este projeto coloca empresas do setor a trabalhar em conjunto com inovadores de todo o mundo na criação de projetos-piloto que venham resolver os principais problemas atuais da reciclagem de resíduos. Em 2021, teve a sua primeira edição e contou com 13 empresas parceiras e 20 empreendedores de 10 países que desenvolveram juntos seis projetos-pilotos que foram apresentados no Demoday do programa. Entre os quais, uma solução de ecopontos inteligentes que tornam a reciclagem num hábito divertido, o desenvolvimento de rótulos com tinta magnetizável que se separam mais facilmente do plástico para uma melhor reciclagem, e a criação de um passaporte digital para embalagens, que fornece às empresas e consumidores dados sobre a usabilidade e período de vida de cada produto.

É por exemplos como estes que acredito que o presente e o futuro passam por abraçar a inovação colaborativa como uma solução para promover a disrupção no setor da economia circular. Isto, porque só em conjunto conseguiremos avançar no cumprimento das metas nacionais e comunitárias já definidas em matéria de gestão de resíduos, um conjunto onde o consumidor não pode ser esquecido e que tem de ser considerado como peça fundamental para o sucesso – em conformidade com o Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos, bem como nos compromissos assumidos pelo país no âmbito da economia circular, clima e sustentabilidade.