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Rui Gomes, country manager para Portugal da DHL Supply Chain (Foto: Divulgação)

O poder do crescimento do comércio mundial

Por: Rui Gomes, country manager para Portugal da DHL Supply Chain

Vivemos tempos confusos, difíceis de descortinar. Após a crise económica que atingiu o mundo entre 2008 e 2012, e consecutivos anos de recuperação, a economia tinha atingido um patamar algo equilibrado. Havia um rumo definido e sabíamos o que esperar a curto e médio prazo. Eis que chega o final de 2019 e entramos em 2020 ao som dos alertas de uma pandemia única, apenas comparável com acontecimentos seculares.

Foram meses de incertezas, de adaptação e resiliência. Quando, finalmente, tínhamos estabelecido e já sabíamos o que fazer, rebenta uma guerra e as ameaças económicas mundiais não se fizeram esperar. Agora, tememos uma nova recessão. Mas diferente da vivida na década passada. Uma recessão espoletada por uma guerra que teima em não terminar e cujas consequências económicas, sejamos realistas, ainda estamos longe de perceber.

Perante este panorama, foram vários os cenários negativistas delineados em torno do comércio mundial e das cadeias de abastecimento. Contudo, a resiliência e agilidade do setor provaram aos mais céticos de que estavam enganados. Não só o comércio mundial cresceu, como foi registada uma expansão acima dos níveis pré-pandémicos e é estimado um crescimento mais rápido em 2022 e 2023 do que na década anterior, de acordo com um estudo recentemente apresentado, intitulado Trade Growth Atlas.

Para este crescimento contribuiu, obviamente, o crescimento acelerado nas vendas de e-commerce durante a pandemia, ampliando, desta forma, as oportunidades para vendedores acederem a novos mercados no exterior. E as previsões indicam que o e-commerce internacional deve continuar a crescer substancialmente.

Estes anos têm provado que o comércio nos fortalece como uma comunidade global, cria emprego, impulsiona a economia e diminui a pobreza. Desde 1990, mais de mil milhões de pessoas saíram da pobreza devido ao crescimento económico, sustentado pelo comércio aberto. Mais recentemente, e, mais uma vez, durante a pandemia, o comércio ajudou a assegurar que vacinas, máscaras e outros produtos médicos que salvam vidas pudessem ser entregues em todos os cantos do mundo.

Além do mais, o comércio aumenta a resiliência através do aproveitamento de recursos de todo o mundo, para enfrentar choques onde quer que estes ocorram.

“Mais uma vez, durante a pandemia, o comércio ajudou a assegurar que vacinas, máscaras e outros produtos médicos que salvam vidas pudessem ser entregues em todos os cantos do mundo.”

De acordo com o estudo já referido, além da expansão acima do esperado, as economias emergentes aumentaram sua participação no comércio mundial de 24% em 2000 para 40% em 2012, com a China a impulsionar metade desse aumento. Apesar disto, na última década, a participação das economias emergentes no comércio mundial sofreu poucas mudanças. Estão, no entanto, a surgir novos polos de crescimento no sudeste e no sul da Ásia e a previsão é de que o crescimento do comércio sofra uma aceleração acentuada na África Subsaariana. Ou seja, após décadas de deslocamento em direção ao oriente, o centro de gravidade do comércio mundial está prestes voltar-se para sul.

Embora o comércio esteja a crescer mais rapidamente em economias emergentes, as economias avançadas continuam, no entanto, a gerar a maior parte do crescimento. Em relação ao futuro, as previsões do FMI indicam que 55% do crescimento do comércio até 2026 se darão em economias avançadas, ao passo que 45% ocorrerão em economias emergentes

Tudo isto são boas notícias. Para o comércio, para a economia e para o mundo. O crescimento do comércio é especialmente importante no atual ambiente devido à sua capacidade de acelerar o crescimento económico, reduzir a inflação e permitir que os países tenham acesso a diversas fontes de insumos básicos.