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Chris Barton, secretário-geral da Câmara de Comércio Luso-Britânica (Foto: Nuno Mousinho)

“Recebemos pedidos de empresas da Ucrânia para ajudá-las a recuperar e a expandir para novos mercados” – Chris Barton

Por: Ana Rita Justo e Diana Mendonça

A Câmara de Comércio Luso-Britânica (CCLB) organiza, esta quinta-feira, um almoço-debate com a embaixadora da Ucrânia em Portugal, Inna Ohnivets, onde serão discutidos os desafios da comunidade ucraniana deslocada e a recuperação do país face à situação de guerra. O evento contará, ainda, com a presença do embaixador britânico em Portugal, Chris Sainty, e do CEO da Galp, Andy Brown, sendo as receitas canalizadas para a iniciativa “Rebuild Ukraine”. Em entrevista à PME Magazine, Chris Barton, secretário-geral da CCLB, fala sobre o papel da câmara do comércio no apoio aos empresários ucranianos e sobre a importância de ajudar a comunidade a reerguer-se.

PME Magazine – Qual tem sido o papel da Câmara de Comércio Luso-Britânica (CCLB) relativamente à guerra na Ucrânia?

Chris Barton – Por mais de uma década, a Câmara de Comércio Luso-Britânica participa num programa financiado pela União Europeia de Erasmus para jovens empreendedores (Erasmus for Young Entrepreneurs – EYE), que visa incentivar o empreendedorismo e a mobilidade em todo o continente, combinando aspirantes a empreendedores de um país europeu com um empresário experiente noutro país. Estas experiências de mentoria ajudam os empresários novatos a melhorar a sua rápida capacidade de resposta antes de embarcarem nas suas próprias jornadas empresariais. Portugal sempre provou ser um destino muito popular para a entrada de empreendedores novatos, e estamos gratos por termos tantos anfitriões entusiastas que reconheceram logo o benefício desta experiência para as suas próprias empresas. Quando a guerra começou na Ucrânia, intensificámos os nossos esforços para apoiar os candidatos vindos daquele país. Embora o nosso parceiro ucraniano tenha conseguido recrutar muitos candidatos localmente, e nós tivéssemos sido capazes de encontrar anfitriões disponíveis aqui, ficámos surpreendidos ao saber que em vez de ver Portugal como um país onde podiam começar as suas carreiras e viver de novo, todos os candidatos estavam interessados em voltar à sua terra natal o mais rápido possível para estar com os seus compatriotas, família, amigos e colegas. Isto abriu-nos os olhos para uma nova perspetiva – afastando-nos do mero apoio humanitário e concentrando-nos agora mais na reconstrução das empresas e na garantia de estabilidade a longo prazo da economia.

PME Mag. – Já tiveram pedidos de ajuda de empresas ucranianas?

C. B. – O principal foco da Câmara de Comércio Luso-Britânica é, naturalmente, promover o comércio entre os dois países. Provavelmente, como consequência do nosso envolvimento no programa EYE e da organização do evento, no dia 23 de junho, a nossa reputação por apoiarmos as empresas ucranianas espalhou-se e, agora, estamos a receber pedidos diretamente de empresas sediadas na Ucrânia para ajudá-las a recuperar e a expandir para novos mercados. A língua inglesa é amplamente falada na Ucrânia e isso, provavelmente, foi um fator adicional para sermos mais apelativos para esta comunidade.

PME Mag. – O que esperam deste evento?

C. B. – Sendo uma câmara de comércio, temos o dever de manter os nossos membros informados sobre os eventos que podem impactar nos seus negócios e na economia. Sem dúvida, a atual situação na Ucrânia está a provocar numerosos efeitos em cadeia a nível macro e microeconómicos. Já estamos a testemunhar um aumento do custo de vida e prevê-se uma escassez em massa de alimentos. Fala-se muito de uma ‘nova ordem mundial’, e muitas das cadeias de abastecimento tradicionais da Europa oriental e antigas relações comerciais podem, agora, ter de ser restabelecidas com parceiros da Europa ocidental.  Isto abre potencial para as empresas portuguesas se expandirem para um mercado até então inacessível. Portugal tem apoiado o povo ucraniano a muitos níveis nos últimos meses e esta reputação hospitaleira será um bom presságio quando estes tentarem estabelecer novas parcerias no futuro. Esperamos que as empresas portuguesas reconheçam esta oportunidade e usem este evento como um trampolim para a expansão. A Embaixada da Ucrânia já reconheceu a nossa iniciativa e agradeceu a angariação de fundos do evento.

PME Mag. – Muitas empresas aderiram a este evento? Porquê que as empresas devem estar envolvidas nesta ação?

C. B. – As políticas de governança ambiental e social estão a aparecer com maior destaque nas estratégias e nos planos de negócios de muitas empresas. Embora a grande maioria de nós seja solidário com a situação do povo ucraniano, às vezes, ficamos sem saber que ajuda prática podemos ter. A nossa ação está focada em apoiar as empresas ucranianas que, por sua vez, devem beneficiar os negócios locais portugueses e fortalecer o vínculo e o sentimento de boa vontade entre os dois países. Ao dar acesso direto ao embaixador ucraniano, os participantes poderão ouvir, em primeira mão, o que é que estas pessoas realmente precisam e não apenas as versões que foram editadas pelos canais de notícias.

PME Mag. – Já existe algum impacto para os membros do BPCC?

C. B. – Muitas vezes, as grandes empresas consideram-se ‘empresas globais’ com escritórios em vários países. Vivemos numa época em que a mobilidade é incentivada e as forças de trabalho multiculturais são consideradas um objetivo. Segue-se, portanto, que alguns dos nossos membros têm sucursais, clientes ou fornecedores na Ucrânia ou na Rússia, ou então têm cidadãos desses países a trabalhar nas suas redes globais. Na perspetiva dos recursos humanos, isto pode significar que o que antes eram as relações cordiais entre colegas de diferentes nacionalidades agora podem estar sujeitas a tensões ou pressões que obriguem a uma reestruturação ou deslocalização. Entretanto, já vários membros reportaram estar a coordenar os seus próprios apoios através das suas sedes e/ou filiais mais próximas das zonas problemáticas.