Por: Marta Godinho
As pressões inflacionistas nas cadeias de abastecimento globais estão agora a decrescer após vaga de níveis recorde, apontam alguns indicadores. Os próximos meses vão refletir um alívio nos preços para os consumidores.
Indicadores como o preço das matérias-primas, do produtor, das taxas cobradas no transporte marítimo e as expetativas dos consumidores e empresas face aos preços ajudam a medir “o pulso” à inflação global. Estes apontam que o pico já foi atingido, o que significa um abrandamento dos preços nas cadeias de abastecimento globais nos próximos meses.
Esta expetativa de abrandamento é partilhada por vários economistas um pouco por todo o lado. Mark Zandi, economista-chefe da Moody´s Analytics, afirma que “a inflação provavelmente está no pico” e “a diminuição das pressões sobre os preços e dos constrangimentos na entrega de mercadorias prenunciam um abrandamento nos preços ao consumidor”, depois de a inflação global ter atingido um valor recorde de 12,1% em outubro deste ano, segundo estatísticas da Moody´s Analytics.
Segundo a Capital Economics, a inflação já atingiu o pico nos mercados emergentes em países como o Brasil, Tailândia e Chile, sendo que nos países mais desenvolvidos o think tank britânico (instituição/grupo de especialistas com a missão de refletir sobre assuntos relevantes) destaca sinais de enfraquecimento nas pressões sobre os preços.
“A nossa estimativa é que o efeito-preço dos alimentos e da energia vão reduzir, em conjunto, cerca de três pontos percentuais dos índices de preços ao consumidor das economias avançadas, em média, nos próximos seis meses”, aponta Jennifer McKeown, economista da Capital Economics, que aponta que a inflação global comece a desacelerar em 2023.
Nesta previsão, serão boas notícias para os bancos centrais que têm vindo a aumentar as taxas de juro aceleradamente para conseguir conter a inflação. Isto arriscou empurrar a economia mundial para a recessão.
Apesar do abrandamento das matérias-primas, os elevados preços da energia, devido à guerra na Ucrânia, são argumentados por economistas que estimam a continuação do seu preço elevado e o atraso na descida da inflação dos mesmos.
Ademais, “o preço do petróleo deverá permanecer altamente sensível às restrições de oferta e à iminente proibição da União Europeia ao petróleo russo”, afirma Susannah Streeter, analista sénior da Hargreaves Lansdown, que reforça que isto deverá continuar a alimentar a inflação no Reino Unido e na zona euro.
No entretanto, as evidências são positivas, sendo que na Alemanha os preços no produtor caíram 4,2% em outubro (a maior queda mensal desde 1948), cenário esse verificado em quase todas as economias do G20, com destaque para Espanha, Polónia, México e Portugal. Já no Reino Unido e nos Estados Unidos da América, o índice de preços no produtor está a desacelerar desde o início do verão.
O índice de preços de alimentos da Organização para a Alimentação e a Agricultura das Nações Unidas (FAO) desacelerou 1,9% depois de atingir o pico de 40% em maio de 2021.
O preço do gás TTF de referência europeia está atualmente inferior a 130 euros por MWh, muito abaixo do pico de 311 euros em agosto deste ano.
Já no transporte marítimo, as taxas cobradas voltaram aos níveis pré-pandemia depois de terem aumentado cinco vezes mais devido aos constrangimentos nas cadeias de abastecimento.