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João Pedro Tavares
João Pedro Tavares, Consultor de Sustentabilidade para a PWN Lisbon (Fonte Divulgação)

Lições da Paternidade para uma liderança inclusiva

Por: João Pedro Tavares, Consultor de Sustentabilidade para a PWN Lisbon


Quando me apresento diante dos outros, em particular em contexto profissional, procuro sempre fazê-lo a partir da minha realidade pessoal, as fundações da minha vida, e que são: sou católico, casado e pai de 4 filhos. Estas fundações são mais determinantes para o edifício da pessoa que sou do que todos os títulos que normalmente se apresentam e que são temporários, efémeros, passageiros. Temos de distinguir “quem sou?” de “onde estou?”.

Nunca pensei que ao fazê-lo, teria diante de mim um enorme salto qualitativo, que trazia em si novas descobertas. Antes de mais, apresentava-me como pessoa e não como profissional. Falava a partir da minha realidade, com maior verdade e não a partir das minhas medalhas e sucessos. Poderia construir nas minhas fragilidades e derrotas, dos meus medos e dificuldades, aceitando-me como sou, em integralidade. Perante as minhas equipas, de facto perante todos, passei a apresentar-me como pessoa e passaram a responder-me do mesmo modo. As perguntas e conversas deixaram de ser estritamente profissionais e técnicas e passaram a ser pessoais, mais amplas, abrangentes e, sobretudo, mais profundas.

Outro salto enorme foi ao nível da confiança mútua que se experimentou, seja com clientes, fornecedores ou colegas, entre outros. Afinal, uma mesma pessoa, quando retira as suas máscaras e defesas passa a ser ela mesma, mais autêntica, as relações e com isso a confiança passam a mover-se a outro nível, porque acompanhadas de maior verdade, entre outros tantos fatores que se praticam e exercem como sejam respeito mútuo, entendimento, espírito de serviço, disponibilidade ou ainda, humildade, proximidade, e até, amor, compaixão, entre outros.

E assim se faz o caminho, nessa integralidade, inteireza, da pessoa que não muda de fato, que não é diferente consoante as circunstâncias. Entendi que me apresentava com tudo o que tenho e sou, em cada momento. Afinal, sem o mencionar, vinham comigo o católico, o pai e o homem casado e todos os que completam as minhas circunstâncias. Passava a olhar os outros a partir destas realidades. E, por isso mesmo, olhava as pessoas com quem trabalhava a partir do ser paternal, de forma comprometida. Queria, quero, que vivam na mesma integralidade, livres de máscaras, inteiras. Procuro em cada circunstância o que é melhor para cada um, na sua situação especifica. E por isso mesmo luto para que tenham oportunidades para o ser e fazer, que haja maior sentido de justiça, de inclusão, de acesso. Esforço-me para que consigam ser o que não me foi ainda possível, que possam ir mais além, serem plenas, em liberdade interior. Não à minha imagem, mas sim na melhor imagem delas mesmas, construindo a partir das suas próprias características e realidades pessoais, potenciando-as.

Que pobre seria o mundo se os outros fossem parecidos comigo. Que pobre seria eu se aqueles com quem me cruzo e, em particular, com quem trabalho, não pensassem de forma diferente da minha, se não me desafiassem a entender outros pontos de vista distintos, formas diferentes de pensar, de me mostrar que as realidades são bem mais ricas do que aquilo que está ao meu alcance. Por tudo o que fui descobrindo sou por isso um grande promotor desta diversidade, seja no pensamento, no conhecimento, na forma de pensar, nas histórias de vida, no cruzamento de gerações, de pessoas que escolhem diferente, de géneros. As minhas equipas, foram sempre mais ricas na diversidade e eu fui mais além também nestas circunstâncias. Completei-me nas minhas pessoas – na família, no trabalho, nos amigos – que passaram a fazer parte de mim por tanto que me ensinaram, por tanto que nos comprometemos, por tanto que nos ligamos.

Na PWN Lisbon – Professional Women Network, organização que promove a igualdade de oportunidades, a diversidade e, em particular, para as mulheres – assisti a esta cultura de inclusão. Por um lado, emana do propósito da organização, mas sobretudo, da cultura instituída muito fruto das pessoas que a lideram. Também elas trazem em si esta integralidade das suas realidades de vidas, são autênticas, genuínas, descentradas de si mesmas, com espírito de serviço. Por aquilo que são as suas vidas profissionais sabem que os resultados do seu empenho será em benefício de outros e não em proveito próprio, para que as pessoas tenham oportunidades equiparadas, sem se distinguir com base em preconceitos ou deformações enraizadas.

Sou profundamente agradecido por tudo e com isso sou feliz. Sou livre porque me apresento como pessoa e construo na fragilidade e não no que alcancei. Não mudo de fato consoante as circunstâncias ou conveniências. Busco a verdade, porque almejo a integralidade. Trago em mim as fundações e não as medalhas do sucesso. Em casa, no trabalho, na sociedade.

 

Parceria PME Magazine/PWN Lisbon 
Este artigo faz parte de uma parceria editorial estabelecida entre a PME Magazine e a PWN Lisbon (Professional Women’s Network).