Por: Ana Vieira
Um estudo do Observatório Social para a Inteligência Artificial (IA) e Dados Digitais no setor jornalístico, da Universidade Nova, recomenda a qualificação dos profissionais, a proteção dos direitos de autor e a adoção de práticas éticas.
Com o propósito de fortalecer o papel do jornalismo enquanto pilar fulcral na democracia, o estudo “Jornalistas e Inteligência Artificial: Perceções, práticas, desafios e oportunidades”, conclui que há, no setor da comunicação social, um desconhecimento e pouca formação relativa às ferramentas com recurso a IA.
Contudo, importa ressalvar a pouca representatividade do estudo em que do universo de 5287 jornalistas com Carteira Profissional de Jornalista, e sem contar equiparados ou colaboradores, apenas se contabilizam 74 participações.
Paulo Vicente, coordenador do estudo, explica à PME Magazine a fraca participação com a distribuição do questionário pelo Sindicato dos Jornalistas, parceiro do estudo, “pelo que a amostra é circunscrita a jornalistas sindicalizados”.
“Este é um ponto de partida para um futuro estudo de âmbito nacional, com processo de auscultação mais robusta e alargada”, acrescenta Paulo Vicente.
Maioria dos jornalistas não tem conhecimentos sobre IA
Na amostra, em que quase 80% possui mais de 20 anos de experiência na área, 59,5% diz que já ouviu falar sobre IA, mas não tem conhecimento aprofundado.
Quase 84% diz que nunca recebeu qualquer formação na área, mas mostra-se interessado. Quanto à sua utilização, 40,5% aponta o objetivo de otimizar o tempo e 36,5% na potencialização da pesquisa.
Para o Observatório Social devem as empresas de media investir em programas de formação contínua sobre IA como workshops e certificações, as organizações profissionais desenvolver guias e recursos educativos e as entidades estatais criar incentivos financeiros ou subsídios em programas de apoio a jornalistas.
Jornalistas defendem diretrizes para usar IA
Sem margem para dúvidas, 98,6% dos profissionais consideram fundamental a existência de uma estratégia editorial, assim como diretrizes específicas para o uso da IA, com mais de metade dos inquiridos a afirmar que, atualmente, a empresa em que trabalha não tem quaisquer guidelines.
Assim, sugere o Observatório Social para a Inteligência Artificial e Dados Digitais, que as empresas de media implementem estratégias editoriais e diretrizes específicas para o uso da IA, em colaboração com os jornalistas e entidades académicas. Que as organizações profissionais elaborem um conjunto de boas práticas para o setor e as entidades estatais promovam normativas que exijam transparência e responsabilidade, garantindo a salvaguarda dos direitos dos cidadãos.
Livro Branco sobre IA para o jornalismo
Depois da auscultação aos jornalistas, o coordenador do estudo, Paulo Vicente, considera “ainda que de base exploratória, existe agora esta base de evidência de que são necessárias medidas tripartidas: pelas empresas de media, pelas entidades públicas e pelas entidades profissionais”.
Defende ainda a importância de chegar a medidas concertadas como o Livro Branco sobre Inteligência Artificial, aplicada ao jornalismo, que é mesmo uma das medidas previstas no Plano de Ação para a Comunicação Social, apresentado pelo governo de Luís Montenegro, em outubro de 2024.