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Vitor Enes Luís Simões entrevista
Vitor Enes, diretor-geral de Business Development da Luís Simões (Foto: D. R.)

“O controlo de qualidade deve ser mais exigente” – Vítor Enes

Por: Afonso Godinho

A empresa operadora logística de referência na Península Ibérica, Luís Simões, viu o seu Centro de Guadalajara a ser recentemente reconhecido com a certificação IFS Logistic, sistema que certifica a segurança dos alimentos nas atividades de transporte e armazenagem, posicionando-se como player preferencial nestas áreas. Este reconhecimento vem na sequência das melhorias implementadas na empresa, ao nível de recursos técnicos e humanos, que permitiu, ainda, ficar classificada no Top 10 do Prémio de Sustentabilidade da Nestlé.

Em entrevista à PME Magazine, Vítor Enes, diretor-geral de Business Development da Luís Simões, faz o balanço dos últimos anos da empresa, que culminaram na atribuição destas distinções, abordando as alterações provocadas pela atual situação pandémica e perspetivando os desenvolvimentos futuros da transportadora.

PME Magazine – Como caracteriza o desenvolvimento da empresa nos últimos anos?

Vítor Enes – Iniciámos a nossa atividade, em Loures, em 1948 e estamos no mercado espanhol há mais de 30 anos. A Luís Simões (LS) é atualmente um operador logístico de referência e líder no mercado de fluxos rodoviários entre os dois países ibéricos. Fazemos a gestão de uma frota de 2.100 viaturas (próprias e subcontratadas) e percorremos 200 milhões de quilómetros por ano. Em média, produzimos 4,5 milhões de unidades de picking/mês, realizamos 840 rotas de distribuição/dia, preparamos 27 milhões de unidades de copacking/ano e transportamos, anualmente, mais de 7 milhões de toneladas. No pico da pandemia, as nossas operações de e-Commerce realizaram uma média de 11.000 expedições/dia a nível ibérico – um volume de distribuição equiparável ao que registávamos habitualmente nas épocas-chave do consumo, como o Natal ou a Black Friday. Nos últimos 10 anos, investimos 100 milhões de euros em inovação logística, grande parte dos quais foi dedicada à renovação e automatização dos nossos centros de operações logísticas. A LS conta com cerca de 2.500 colaboradores diretos e presta serviços integrados de logística em toda a Península Ibérica em mais de 25 armazéns, que superam os 400.000m2 de capacidade instalada em dez regiões diferentes da Península Ibérica.

A Luís Simões é, atualmente, um operador logístico de referência e líder no mercado de fluxos rodoviários entre os dois países ibéricos.

PME Mag. – De que forma é que a atual situação pandémica veio alterar ou impedir o desenvolvimento da empresa e dos seus objetivos? O que considera que mais mudou ao longo deste último ano?

V. E. – Apesar da natural e relevante quebra de atividade nos setores logístico, de distribuição e de transporte, na Luís Simões desenvolvemos uma estratégia coordenada entre Portugal e Espanha que nos permitiu fazer frente às novas exigências da procura, distintas do habitual, e ao mesmo tempo assegurar a proteção dos nossos colaboradores e a excelência do nosso serviço ao cliente. Os processos de produção de muitos dos nossos clientes foram afetados por esta situação e, em consequência, tivemos também que ajustar as nossas operações para podermos continuar a prestar um serviço de qualidade, garantindo o fornecimento dos produtos. Em simultâneo, aplicámos rigorosos protocolos para garantir a segurança dos nossos colaboradores (e dos restantes elos da cadeia de abastecimento) em todos os momentos. Por entre os desafios (e foram muitos) que este último ano nos apresentou, não pudemos nunca esquecer a nossa missão: dedicamo-nos, principalmente, à logística de bens essenciais, que não podem nunca deixar de chegar às famílias e às empresas. Esta missão crítica não mudou durante o último ano. Antes reforçou-se enormemente, provando também a importância crescente dos operadores de distribuição e do setor da logística como um todo. Escolhemos encarar esta nova etapa com otimismo e na certeza de que dispomos das capacidades e recursos necessários para superá-la, que é o que continuamos a provar todos os dias.

PME Mag. – Como foi feita a vossa adaptação a esta nova realidade? Como é feita a distribuição em períodos como o da atual situação pandémica?

V. E. – A distribuição continua a ser feita como sempre: da melhor forma possível, assegurando um serviço de excelência em todas as nossas áreas de operação. Já ficou claro, no entanto, que os consumidores vão continuar a apostar na conveniência que lhes traz o e-Commerce. Mesmo quando a pandemia tiver passado, acreditamos que há tendências que vão manter-se e esta é uma delas, bem como um regime de trabalho híbrido (presencial e teletrabalho) que, de novo, traz maior conveniência e flexibilidade a todas as pessoas. É este o caminho do futuro ao qual nós, enquanto operador logístico, estamos a adaptar-nos desde já, e acreditamos que só assim é possível acompanhar o mercado. Não fazemos entregas ao consumidor final, mas no que diz respeito às entregas urbanas (cada vez mais comuns) podemos dizer que conseguimos identificar alguns grandes desafios – que trazem também, naturalmente, oportunidades significativas. Por um lado, os clientes são cada vez mais exigentes quanto à rapidez das entregas no e-Commerce e querem os seus produtos em casa no mesmo dia ou nas 24 horas seguintes. Isto leva a questões de espaço, nomeadamente de relocalização dos armazéns, porque os stocks terão que estar cada vez mais próximos dos pontos de entrega para se poder ter essa exigência de velocidade, e não temos dúvidas de que se terão de aproximar as plataformas às cidades, para que os veículos de distribuição urbana façam o mínimo possível de quilómetros e garantam o melhor e mais otimizado serviço. Por outro lado, esta situação leva-nos também a questões de qualidade, que não pode, de forma alguma, perder-se com a rapidez. Antes pelo contrário: o controlo de qualidade deve ser cada vez mais rigoroso e exigente para garantir a satisfação total do cliente final.

A distribuição continua a ser feita como sempre: da melhor forma possível, assegurando um serviço de excelência em todas as nossas áreas de operação.

PME Mag. – Como encara a classificação no Top 10 do Prémio de Sustentabilidade da Nestlé?

V. E. – Para contextualizar, gostaria de reforçar o quanto a sustentabilidade é uma área essencial para nós – de facto, a par da inovação, é mesmo um dos dois eixos fundamentais que nos conduzem. Há muitos anos que estabelecemos um compromisso para com a oferta de um modelo logístico e de transporte mais sustentável, que assegure a qualidade do serviço ao cliente e, ao mesmo tempo, contribua para a consecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável definidos pela Agenda 2030. Em 2019, por exemplo, conseguimos reduzir em 1.313 toneladas as nossas emissões de CO2 e incorporámos 14 novas iniciativas pensadas para reduzir a nossa pegada ecológica, através de uma abordagem holística que aplicamos a nível ibérico. Dito isto, foi com muita honra e orgulho que recebemos esta classificação por parte da Nestlé – consideramos que reconhecer as boas práticas de sustentabilidade não é apenas importante, é vital nos dias de hoje, para que mais e mais empresas possam ganhar consciência sobre o tema e aplicá-las também nas suas próprias operações. Na LS já o fazemos há muitos anos em toda a nossa cadeia de valor e é sempre muito valioso para nós que nos reconheçam nesta área em particular.

PME Mag. – Como encara o reconhecimento com a certificação IFS Logistic?

V. E. – Este reconhecimento é também muito importante para nós, na medida em que certifica a segurança dos alimentos nas nossas atividades de transporte e logística, tanto em meios de transporte como na armazenagem. Como já tive oportunidade de comentar, o transporte de bens essenciais é uma das nossas missões vitais e esta certificação vem confirmar o nosso posicionamento enquanto player preferencial nas áreas de logística e transporte de produtos alimentares.

Esta certificação vem confirmar o nosso posicionamento enquanto player preferencial nas áreas de logística e transporte de produtos alimentares.

PME Mag. – Quantos colaboradores têm em Portugal? Estão previstas contratações?

V. E. – Em Portugal contamos com cerca de 1450 colaboradores diretos. A nossa prioridade absoluta, e na qual estamos firmemente empenhados, é a de manter os postos de trabalho que asseguramos atualmente.

PME Mag. – O que podemos esperar para o futuro? Quais os planos e projetos a ser desenvolvidos?

V. E. – Destacamos o nosso Centro de Operações Logísticas no Polígono Puerta Centro – Ciudad del Transporte, em Guadalajara (Espanha). Este complexo, composto por três naves, dispõe de uma operação completamente automatizada e oferece múltiplas vantagens nas operações de e-Commerce e também na distribuição tradicional, como o aumento da rentabilidade dos processos ao minimizar a possibilidade de erro, o aumento da rastreabilidade da mercadoria e a diminuição do tempo e recursos das operações e que, ao mesmo tempo, garante o distanciamento social agora imposto. A Luís Simões aposta na transformação digital e consideramos que o desenvolvimento da área de e-Commerce que a pandemia nos trouxe será uma grande oportunidade para o setor – continuará a consolidar-se e teremos de continuar também a evoluir e a adaptar-nos para garantirmos a satisfação do cliente final: o consumidor. Os nossos investimentos continuarão a ser no sentido de acompanhar em tempo real as evoluções e necessidades do setor.

Os nossos investimentos continuarão a ser no sentido de acompanhar em tempo real as evoluções e necessidades do setor.

PME Mag. – O que caracteriza a Luís Simões? O que a diferencia de outras empresas da área?

V. E. – Somos uma empresa familiar, que nasceu há mais de 70 anos numa pequena aldeia nos arredores de Lisboa com o propósito de criar valor para todos, para que houvesse comida, trabalho e futuro. Ao longo de todas estas décadas crescemos, internacionalizámo-nos, tornámo-nos líderes do setor e evoluímos constantemente – mas os nossos valores e a nossa cultura mantiveram-se iguais na sua essência. Ainda hoje temos motoristas que nos acompanham e que se lembram de sermos uma família bem mais pequena do que somos hoje. Eles sabem o quanto tudo mudou, e o quanto nos mantivemos fiéis aos nossos valores e aos nossos princípios. O que nos diferencia é o facto de termos entendido desde cedo que as pessoas são a nossa força. Entendemos a importância de as valorizarmos, da sua formação contínua, da qualidade de serviço como valor para o mercado. Somos feitos de pessoas e elas são a nossa prioridade acima de todas as outras – somos uma família na verdadeira aceção do termo, e não há nenhuma outra igual. E o nosso caminho está só a começar.