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Estela Brandão de Bastos
Estela Brandão de Bastos, CEO e co-fundadora da Visual Thinking (Foto: Divulgação)

“Portugal tem um longo caminho a percorrer no digital” – Estela Brandão de Bastos

Por: Sara Fonseca

Estela Brandão de Bastos, CEO e co-fundadora da Visual Thinking é uma das oradoras do Building The Future. Em entrevista à PME Magazine, falou sobre a tranformação digital em Portugal e os desafios com que as organizações se deparam.

 

PME Magazine (PME Mag.) Como vê a transformação digital nas organizações em Portugal?

Estela Brandão de Bastos (E.B.B.)- Portugal tem ainda um longo caminho a percorrer na área do digital, desde as organizações públicas às PME que compõem o tecido empresarial, e de uma forma geral e transversal a todos os setores. Felizmente, através das tecnologias e ferramentas disponíveis no mercado, não será um caminho árduo e isso permitirá às organizações posicionarem-se  de forma competitiva perante os seus players e produzir o mesmo ou maior valor acrescentado, com maior eficiência. A questão fulcral prende-se com a forma como a transformação digital irá operacionalizar-se. O maior ou menor sucesso de um plano de transformação digital depende de uma estratégia de implementação alinhada com o core value da organização, nomeadamente as pessoas que a compõem. É ainda necessário um aporte de competências digitais às pessoas, de uma forma geral, para que o processo de transformação digital ocorra a todos os níveis nas organizações. Há, também, um outro fator relevante no suporte à transformação digital, a medição dos resultados alcançados através dos dados. Ainda vemos muitas organizações a trabalharem os seus dados de forma estática, o que, nos dias de hoje, já pouco sentido faz. Existem ferramentas simples e ágeis que permitem, por um lado, cruzar informação de fontes de dados dispersas e, por outro lado, devolver insights indispensáveis a uma gestão eficiente. É o caso do SAFTboard, uma ferramenta construída em Microsoft Power BI, que permite a transformação de ficheiros SAFT, automaticamente, em relatórios e dashboards intuitivos e interativos, permitindo a gestão assente em informação, ao invés da habitual gestão por instinto, ainda muito comum no seio das organizações em Portugal.

PME Mag. – A segurança está também a ser acautelada à medida que as organizações vão evoluindo nos seus processos?

E.B.B. – A segurança, e em concreto a cibersegurança, é um tema que tem de estar em cima da mesa quando falamos de transformação digital. Desde o storage à partilha da informação, acautelar a segurança permite às organizações fluírem os seus processos de adoção e implementação digital sem receios. No entanto, há ainda muito trabalho a fazer no awareness de boas práticas de storage/comunicação/colaboração. Felizmente, a tecnologia disponível, por exemplo, na adoção de ambientes Microsoft (desde o Azure ao M365), por força dos protocolos robustos de segurança e compliance, permite às organizações aceder a tecnologia e soluções digitais com a salvaguarda intrínseca das próprias soluções.

PME Mag. – A pandemia veio acelerar estes processos?

E.B.B. – A pandemia veio acelerar muita coisa… Desde a necessidade à imposição do trabalho remoto, tornou-se crucial a aceleração na adoção de formas de trabalhar à distância, individualmente ou em equipa. A aposta em storage na cloud, a banalização de reuniões virtuais, bem como a utilização de plataformas de comunicação e colaboração, como é o exemplo do Microsoft Teams, que veio apressar a adoção de ferramentas e formas de trabalhar digitais. No entanto, já diz o ditado, “a pressa é inimiga da perfeição” e nem sempre foram adotadas as formas mais eficientes na digitalização de processos. À boa maneira portuguesa, conseguimos “desenrascar-nos”, com mais ou menos dificuldade, mas sem delinearmos uma visão e uma estratégia para o digital. É por isso importante munir as organizações em Portugal de recursos tecnológicos e competências para que a transformação digital ocorra alinhada e adequada àquilo que são as reais necessidades e desafios de negócios das organizações. Na Visual Thinking apoiamos quer a definição da estratégia, como a implementação da transição digital, sempre com a missão de fazer refletir as reais necessidades das organizações em processos ágeis que potenciem a produtividade das organizações.

PME Mag. – Sendo fundadora da CASMI e passando para a área da saúde, em que medida é que a tecnologia pode potenciar a saúde mental? Conseguia dar exemplos?

E.B.B. – A tecnologia pode e deve potenciar a saúde mental no sentido em que deveria desempenhar um papel na agilização e automatização de processos, libertando os profissionais para tempo de qualidade, quer no exercício das suas funções, quer na sua vida quotidiana. A tecnologia pode potenciar a saúde mental, quer do lado do profissional de saúde, quer do lado do paciente. O papel da tecnologia na humanização das consultas, por exemplo, pode ser extraordinário. À primeira vista, pode parecer um contrassenso mas se pensarmos bem, por exemplo se um psicólogo se munir de soluções tecnológicas no seio da sua profissão, conseguirá libertar tempo de qualidade para os seus pacientes e para o seus trabalho de reflexão/investigação sobre diagnósticos e propostas de tratamento com vista à prática clínica cada vez mais pacient-centric. Por outro lado, as ferramentas de analytics e inteligência artificial disponíveis potenciarão a investigação sobre padrões de sucesso/insucesso de tratamentos na área da saúde mental, premente nos dias que correm, principalmente por força da pandemia a que a humanidade se encontra exposta há quase dois anos. Enquando co-fundadora do CASMI, espero poder contribuir para o diagnóstico e tratamento da saúde mental recorrendo a tecnologias inovadoras e diferenciadoras daquilo que é a prática corrente.

PME Mag. – Quais são as suas expectativas para esta edição do Building The Future?

E.B.B. – Enquanto oradora pela primeira vez neste evento, confesso estar expectante relativamente à experiência e partilha. O Building the Future 2022 promete vir a ser o evento digital do ano, face à diversidade de temas versados, potenciando o interesse e entusiasmo do público em geral. Desde a construção do futuro, passando pelas pessoas até à educação, temas assentes no papel que a tecnologia pode ditar no seu desenvolvimento, acredito que o BTF 2022 terá um impacto muito positivo na audiência portuguesa. Poderá mesmo vir a ser o mote inspirador para muitas pessoas e organizações nos seus processos futuros de transformação digital.