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Ricardo Parreira e Pedro Caseiro, criadores do cobertor Blanky (Foto: Divulgação)

“O problema de sono em Portugal é real” – Pedro Caseiro

Por: Afonso Godinho

Dois jovens portugueses lançaram a primeira marca ibérica de cobertores pesados, com o objetivo de ajudar as pessoas com problemas de sono a terem uma alternativa natural a ansiolíticos. A marca, Blanky, desenvolveu o referido cobertor em Portugal, com o mesmo a estar clinicamente comprovado para a população em geral.

Em entrevista à PME Magazine, Pedro Caseiro, responsável pela área de Marketing e Vendas da Blanky, fala-nos um pouco sobre o surgimento deste novo conceito, bem como do desenvolvimento da marca e dos planos futuros. 

PME Magazine – Como surgiu a ideia para este novo conceito?

Pedro Caseiro (P. C) – A ideia surgiu quando eu vivia em Londres e trabalhava em consultoria – o stress acumulado do dia-a-dia e o tipo de vida que levava criavam-me imensos problemas de sono e eu sentia, cada vez mais, que não conseguia ter uma noite de sono descansada. Passei algum tempo à procura de uma solução que não passasse por comprimidos para dormir e foi então que, numa das minhas pesquisas, me cruzei com o conceito do cobertor pesado. Decidi experimentar e fiquei agradavelmente surpreendido: comecei a dormir muito melhor e, inclusivamente, desapareceram-me algumas dores musculares que tinha, por estar sempre sentado com uma má postura.  Falei do produto ao Ricardo, que é um amigo de longa data e ex-colega de curso e, através de um estudo de mercado, percebemos rapidamente que o problema de sono em Portugal e Espanha existe, é real e precisa de soluções que não passem necessariamente por medicação. Para mim fazia-me muita impressão o conceito de tomar medicamentos para conseguir dormir aos 30 anos.

PME Mag. – Poderia explicar, mais detalhadamente, em que consiste o produto?

(P. C.) – O cobertor pesado é um cobertor confecionado de forma especial para nos ajudar a dormir melhor. Isto acontece devido ao peso e ao modo como é distribuído, pois ativa uma técnica chamada DTP e que, por isso, ajuda o nosso corpo a relaxar e a dormir melhor. Os efeitos positivos do cobertor no nosso sono estão estudados – saiu por exemplo um artigo, em 2020, no Journal of Clinical Sleep Medicine a demonstrar os efeitos conclusivos da utilização do cobertor no tratamento da insónia crónica. O blanky é feito com tecidos antialérgicos e naturais, algodão orgânico ou de 200 fios acetinado e preenchido por grãos de areia de vidro tratado, material que confere o peso adicional. Utilizamos ainda técnicas avançadas de tecelagem para garantir uma perfeita distribuição do peso no seu cobertor. 

Um artigo de 2020, no Journal of Clinical Sleep Medicine, demonstra os efeitos conclusivos da utilização do cobertor no tratamento da insónia crónica.

PME Mag. – Como avalia a evolução da empresa ao longo deste último ano? De que forma é que a pandemia interferiu com os objetivos e planos da mesma?

(P. C.) – Para nós, a pandemia acabou por ser uma oportunidade, sobretudo a primeira fase, porque acabou por nos dar tempo, a mim e ao Ricardo, para trabalharmos e começarmos a materializar esta ideia. A crise económica poderá estar a ter algum impacto nas nossas vendas, mas dado que lançámos a empresa já durante a pandemia, torna-se difícil ter um termo de comparação para estimar qual. A verdade é, também, a de que nesta fase, com as moratórias em vigor, há muita gente que ainda não sente essa crise. O nosso 2020 acabou por ser francamente positivo – conseguimos desenvolver um cobertor com qualidade superior, lançá-lo no mercado Português e Espanhol, e ter a primeira produção portuguesa deste tipo de cobertores que são uma inovação na intersecção dos mercados têxtil e de saúde. O desafio, agora, passa por manter este nível de crescimento em 2021.

PME Mag. – O novo cobertor pode ser utilizado por qualquer pessoa com problemas de sono? Existe alguma contraindicação para algum caso em específico?

(P. C.) – A nossa perspetiva é a de que o blanky deve ser utilizado por qualquer pessoa que procure melhorar a sua qualidade de sono. A verdade é que todos nós já acordámos a meio da noite e tivemos problemas para voltar a adormecer. Um cobertor pesado não elimina todas estas situações, mas ajuda a que aconteçam menos vezes e a diferença, mesmo para quem “dorme bem”, acaba por ser visível. O blanky é eficaz em, mais ou menos, 90% das situações e na maioria dos casos mais comuns de problemas de sono. Não existem contraindicações propriamente ditas, mas nós aconselhamos a consulta de um especialista para qualquer problema de sono mais agudo ou, inclusivamente, condições específicas adicionais (como por exemplo, uma gravidez). De resto, mesmo no sistema de saúde nórdico, em que o cobertor é bastante aconselhado por médicos, a recomendação do mesmo ocorre várias vezes em conjunto com outras terapias.

A verdade é que todos nós já acordámos a meio da noite e tivemos problemas para voltar a adormecer.

PME Mag. – Existiu alguma parceria no desenvolvimento deste cobertor? Tiveram apoio de equipas médicas especializadas? Como se desenvolveu o processo?

(P. C.) – O processo de desenvolvimento e produção atravessa várias fases – ao início, e na fase de especificação, trabalhámos conjuntamente com especialistas internacionais na produção deste tipo de cobertores para que pudéssemos chegar não só ao efeito, mas também à qualidade e conforto que pretendíamos. Para além disso, desde o início que queríamos produzir em Portugal, mas por ser um produto têxtil inovador, nenhuma das fábricas que visitámos estava familiarizada – nem com o produto, nem com o processo de produção. Após alguns “desafios” ao nível da produção, conseguimos fechar a parceria com a fábrica LEIPER – especializada em têxteis do lar – em Guimarães, para o fabrico dos cobertores pesados “made in Portugal”. Neste momento, uma parte dos cobertores é produzido em Portugal, mas outra parte é ainda produzida na Ásia devido ao nosso parceiro português não conseguir acompanhar a escala de produção de que precisamos.

PME Mag. – Em termos de adesão dos consumidores, o novo produto está a receber um bom feedback? Tem havido muita procura?

(P. C.) – Tem superado todas as expectativas. A ideia que nos dá é a de que os portugueses tinham aceite que dormir mal era um facto consumado ou de que têm de recorrer a comprimidos para resolver este problema. Com o lançamento do blanky, temos vindo a alterar essa mentalidade junto dos nossos clientes com ótimos resultados. Temos recebido feedback incrível de clientes que nos dizem que mudámos a vida deles para melhor e que ajudámos os filhos a dormirem a noite inteira. Vemos também já o efeito do “passa-palavra” – quem experimenta gosta e diz aos amigos, que depois vêm ter connosco para comprar mais um blanky. Há também quem compre primeiro para si e depois para os pais, para os sogros e para os filhos que já saíram de casa. Esse feedback em que a carteira acompanha as palavras é das coisas que mais alegria nos dá – é bastante claro o efeito que temos nessas pessoas. Um dos elementos que tem sido nossa aposta desde o princípio e que achamos que somos diferenciadores, da maioria das marcas em Portugal, é a qualidade do nosso serviço ao cliente. Temos recebido elogios não só pela política de 30 dias para devolução e troca (que permitem comprar sem risco), mas também pela velocidade de resposta e até a personalização do atendimento que damos a cada caso. Os portugueses têm más experiências de comércio on-line e a nossa abordagem mais cuidada ao canal tem claramente marcado a diferença, o que muito nos alegra.

A ideia que nos dá é a de que os portugueses tinham aceite que dormir mal era um facto consumado ou de que têm de recorrer a comprimidos para resolver este problema.

PME Mag. – Quais os objetivos futuros para a marca? Existe algum tipo de aposta no sentido da internacionalização da mesma?

(P. C.) – Somos, desde o primeiro dia, uma empresa exportadora – sempre reconhecemos que o produto fazia sentido para o mercado ibérico e que a empresa só fazia sentido se estivesse presente, desde o primeiro dia, nos dois países. Assim, o grande desafio continua a ser dar a conhecer o conceito em Portugal e em Espanha – há ainda muitas pessoas que nunca ouviram falar de cobertores pesados, nem da blanky e que precisam de ajuda para dormir melhor. É para elas que estamos a trabalhar durante 2021. Se as podemos ajudar a ter um melhor sono, então queremos fazê-lo. A longo prazo, a visão da empresa é a de ser uma empresa portuguesa de projeção internacional na área da saúde do sono. Existem outros produtos relacionados com o cobertor que poderão ter sucesso no mercado ibérico e ajudarem igualmente as pessoas a dormir melhor. Para além disso, também já recebemos os primeiros inquéritos de outras geografias que gostariam de contar com o blanky e que podem eventualmente vir a representar avenidas de crescimento.