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Ângela Santos, board member e responsável pela gestão de talentos da Abaco Consulting (Foto: Divulgação)

Sabia que o teletrabalho também tem mitos?

Por: Ângela Santos, board member e responsável pela gestão de talentos da Abaco Consulting

Estamos há quase dois meses em teletrabalho (umas empresas há mais do que outras…), desde meados de março que as nossas vidas mudaram, assim como as formas de trabalho.

Nem todos os negócios, culturas organizacionais ou mesmo culturas de um povo convivem bem com o teletrabalho. Em alguns casos, apesar de ser uma tendência crescente nos últimos anos, ainda seria acompanhado de algum cepticismo ou preconceitos. Quando trabalhamos de forma remota, sem contacto físico e interação próxima com os colegas e clientes, é fundamental que tenhamos consciência de que existem algumas formas simples de reduzir essa desconfiança que pode surgir.

Além da desconfiança ou cepticismo, existe ainda a ideia de que trabalhar remotamente significa que se pode perder parte significativa da informação (ou da cultura), mas isto apenas acontece se permitirmos interpretações erradas – por ignorância ou desconhecimento – ou porque temos processos que falham.

Neste sentido, é fundamental que se adotem determinados comportamentos e políticas, de modo a que possamos facilmente encontrar no trabalho remoto uma forma bastante efetiva de prestarmos serviços aos nossos clientes. Para tal, é necessário identificar alguns mitos que podem acompanhar o teletrabalho para mais facilmente percebermos como os desconstruir:

Mito #1: “As pessoas que trabalham remotamente não trabalham tanto como deviam” – Para este primeiro mito, é bastante importante que se aumente o ritmo das comunicações, ou seja, mais pontos de situação, mais reuniões de equipa. E, no final, documentar/contabilizar com muito rigor o nosso trabalho. Se isto estiver claro e for cumprido, o mito será desconstruído. Muitas pessoas entendem esta situação como se “não os vemos, logo não estão a produzir”, mas é essencial que dentro de uma organização exista liberdade, flexibilidade, responsabilidade, compromisso e confiança. Só que nem todas as empresas têm esta cultura, nem todas as pessoas vivem e trabalham sob este mote e muitas vêem o mundo pelo prisma do que lhes impõem a elas, dos medos de que são vítimas, da falta de confiança que exista no seu trabalho.

Assim, para que este mote possa funcionar é fundamental comunicar frequentemente e de forma clara, as expetativas acerca de resultados a atingir, tarefas e prazos a cumprir. É, sobretudo, da responsabilidade dos líderes de equipa, gestores de projeto e qualquer um de nós, se acordarmos um plano de trabalho com outra pessoa, tornar estas informações claras, verbalizá-las, escrevê-las, verificar se todos compreenderam, principalmente se se tratar do Cliente.

Mito #2: “Cabe ao trabalhador remoto provar constantemente que está a trabalhar” – Definir regras com os clientes, e com quem interagimos, relativamente à forma como organizamos a nossa agenda é muito importante. Definir de forma transparente “deep work periods” ou que estamos em “deep Work mode” e tornar isso visível, assim como estabelecer períodos em que estamos disponíveis para as nossas equipas, é fundamental. Embora este mito derive do primeiro, é mais fácil de desconstruir, uma vez que atualmente e de forma generalizada as pessoas estão em trabalho remoto. Porém, continua a ser preciso tempo para mergulhar a fundo em temas e focarmo-nos em terminar tarefas e entregar resultados (itens constantemente em Work In Progress são os inimigos da produtividade e entrega de resultados).

Para isso, é preciso foco e respeito pela agenda de cada um. Mas, nem todas as empresas/pessoas têm este mindset e, portanto, é necessário explicar, comunicar e definir regras com quem interagimos.

Mito #3: “Os trabalhadores em modo remoto estão disponíveis a todas as horas” – Afinal estão sempre em casa, não há problema em responderem a algo rápido, a qualquer hora, certo? Não, totalmente, errado. Mais uma vez, é importante o que referimos no Mito #2, identificar, de forma transparente, os períodos de concentração, os períodos em que estão disponíveis para os outros, os períodos para reuniões, as ausências e pausas. E, sobretudo, as horas a que começa e acaba o dia. É, essencial definir, para si, e para os outros, as regras de Work-Life Separation.

Mito #4: “O trabalho remoto significa que a cultura da empresa esmorece” – O convívio e camaradagem são importantes para manter viva a cultura de uma empresa. Quando estamos a trabalhar remotamente é verdade que as idas ao café já não existem, o chat no corredor também não. Mas é possível agendar momentos de dinâmica remota para manter vivo este convívio, aliás, é fundamental utilizar ferramentas de comunicação online que permitam a utilização de câmara. Apenas num minuto de interação cara a cara com outra pessoa, vêem-se cerca de 10.000 pistas de linguagem não verbal. As conferências com a câmara ligada são essenciais para manter e desenvolver a relação com outras pessoas (é um Game Changer no mundo do trabalho remoto).

Perante o contexto em que vivemos, tornou-se essencial consciencializar as empresas e as suas pessoas para temas tão fundamentais como reforçar a confiança, a liberdade com responsabilidade, a flexibilidade e o compromisso dentro de uma organização. Guiar, definir responsabilidades e entregas e dar espaço aos colaboradores para o poderem fazer demonstra que existe confiança, independentemente de estarmos, ou não, a “ver” a outra pessoa.

Dar espaço não significa “abandonar” a pessoa. É preciso comunicar, estabelecer rotinas de pontos de situação e orientação. Fomentar esta confiança recíproca irá permitir impulsionar o sentimento de pertença e compromisso face à organização.