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Em 2023, cerca de 60% das PME inquiridas disse não conhecer, medir ou ter planos que aferissem o impacto ambiental da sua atividade (Fonte Freepik)

4º Barómetro – Sustentabilidade: modelos de gestão, qualidade e impacto ambiental

Por: Ana Vieira

4º Barómetro PME Magazine 2024

 

A 4ª edição do Barómetro PME evidencia que, apesar dos desafios contínuos relacionados com os recursos humanos, as empresas estão cada vez mais a direcionar as suas atenções para a sustentabilidade.

Uma alteração que torna evidente uma sensibilização crescente sobre as questões ambientais e sociais, bem como uma compreensão mais profunda dos impactos a longo prazo, numa busca não só pela maximização de lucros, mas pela criação de valor a longo prazo, quer para funcionários, clientes, comunidade ou meio ambiente.

Como estão as PME sensibilizadas para a importância do uso de modelos de gestão?

  • Em 2024, apenas 11,2% das PME inquiridas confirmou que usava modelos de gestão estratégicos e 21,7% operacionais.

Perante os números, Isabel Mendes, Vogal da Direção da Associação Portuguesa de Ética Empresarial (APEE), considera que “as PME munem-se de meios ajustados à sua natureza e dimensão e aos recursos de que dispõem, não significando necessariamente a ausência de mecanismos de controle e gestão dos seus negócios”.

No entanto, sob pena de aumentar o risco de fragilidade competitiva, Isabel Mendes sublinha a importância das “práticas de gestão se adaptarem a contextos de complexidade crescente, designadamente na capacidade para implementar modelos mais sofisticados de suporte à gestão, que acompanhem o crescimento e desenvolvimento do negócio”.

Também Laetitia Arrighi de Casanova, diretora da B Lab Portugal, acredita que numa empresa de “dimensão média ou pequena é natural haver um menor formalismo” e, onde os recursos são muitas vezes escassos, “é preciso focá-los no que cria mais valor”.


Estão as PME preparadas para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável?

  • Em 2023, o número de empresas com processos de qualidade ou certificações reduziu para 34,6%, quando em 2022 chegava aos 49%.

Para o economista João Duque, os resultados apresentados pelo 4º Barómetro podem não representar a realidade, pois a tendência é a aposta em processos de certificação sob pena das empresas ficarem fora das cadeias de valor.

“As empresas exigem aos seus clientes certificações, para poderem depois eles próprios serem reconhecidos como certificados”, não cumprindo os parâmetros exigidos, “ficam de fora”.

Também Isabel Mendes, da APEE, considera não haver desinvestimento neste tipo de processos, já que “estes são condição obrigatória nos setores em que operam as suas atividades, sendo condição de sobrevivência manterem o alinhamento com padronizações globais exigidas nas cadeias de valor em que estão integradas”.

Mais ainda no caso das PME exportadoras, “este alinhamento é crucial e urgente, porquanto as novas exigências são já uma realidade impactante sobre a sua atividade, na medida em que as empresas de maior dimensão, diretamente abrangidas pelas diretivas, são obrigadas a escrutinar o desempenho de sustentabilidade das suas cadeias de valor”.

Impactos ambientais? A maioria das PME continua a não conhecer, medir ou fazer planos

  • Em 2023, cerca de 60% das PME inquiridas disse não conhecer, medir ou ter planos que aferissem o impacto ambiental da sua atividade.

Pese embora o cenário, o professor e presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão – ISEG olha com “esperança” para o futuro através de duas ações: formação e implementação de uma cultura de sustentabilidade dentro das empresas.

Considerando que o caminho está a fazer-se, já que “Não há ninguém que em todas as suas ações respeite integralmente as boas práticas e normas da sustentabilidade”, importa estipular metas e critérios mensuráveis para avaliar o desempenho e melhorá-lo.

Isabel Mendes, da Associação Portuguesa de Ética Empresarial, destaca a “crescente preocupação das empresas com o meio ambiente, impulsionada por uma combinação de fatores regulatórios, de mercado e de consciência social”.

Realçando que os setores com maior risco ambiental, tais como agricultura, energia ou transportes, têm pouca representação na amostra do estudo em análise, defende a tendência do mercado em tornar-se “mais exigente na incorporação das preocupações de natureza ambiental, sob pressão de diversas partes interessadas – clientes e consumidores, movimentos ambientalistas, exigências das cadeias de valor – reforçadas pelas disposições legais e pelos seus mecanismos fiscalizadores e sancionatórios”.

Com um olhar positivo, Isabel Mendes recorda um dos pilares das PME portuguesas: “a sua capacidade para se adaptarem às condições de mercado com um grau de agilidade superior ao das empresas de maior dimensão”, aliado ao facto de “muitas [PME] que já iniciaram este caminho, comprovaram que ser sustentável acarreta valor acrescentado e é condição de sucesso para os seus negócios”.

Para Laetitia Arrighi de Casanova, da B Lab Portugal, conhecer esta realidade trata-se de uma inevitabilidade para as PME com a aplicação, em 2025, da Diretiva de Reporte Corporativo de Sustentabilidade.

Esta diretiva, explica Laetitia Arrighi de Casanova, “leva as empresas com mais de 500 colaboradores, cotadas ou consideradas de interesse público, que por enquanto são as únicas abrangidas, a precisar de conhecer de modo profundo as suas cadeias de valor, e a pedir quantidades por vezes consideráveis de dados aos seus fornecedores e parceiros”.

“Deste modo, para continuar a fazer negócio e fornecer os seus bens & serviços e aceder ao capital em condições favoráveis, as PME vão, na prática, ter de desenvolver a recolha e monitorização de dados relativos a informações não financeiras, nomeadamente em matéria de sustentabilidade e responsabilidade empresarial”.

A diretora da B Lab Portugal mostra-se ainda preocupada com o facto de apenas 19% dos inquiridos sentir-se ameaçada pelos riscos de emergência climática, quando, realça, na “Europa, e na bacia do Mediterrâneo em particular, é suscetível de sentir os seus efeitos amplificados em 20%. Estamos a constatar uma cegueira que só pode levar a uma ausência de antecipação e menor resiliência do tecido empresarial nacional”.