Por: Paulo Doce de Moura, manager de banca e investimentos
A crise da Zona Euro é uma crise financeira em curso que, para alguns países da Zona do Euro, entre os quais Portugal, tornou difícil ou mesmo impossível o pagamento ou o refinanciamento da sua dívida pública sem a ajuda de terceiros.
As causas da crise variam de país para país. Em alguns países, as dívidas privadas decorrentes da bolha de especulação imobiliária, foram transferidas para a dívida pública como resultado dos resgates do sistema bancário e respostas governamentais à desaceleração das economias no período pós-bolha. A estrutura da Zona Euro enquanto união monetária (i.e., uma única moeda) sem união fiscal (i.e., impostos e regras de pensões públicas diferentes) contribuiu para a crise e limitou a capacidade dos líderes europeus para encontrar respostas. Esta situação é reforçada pelas preocupações relativamente à solvência dos sistemas bancários europeus, onde se inclui o sistema bancário português.
Para além das medidas políticas e programas de resgate implementados para combater a crise, o Banco Central Europeu (BCE) também contribuiu com a redução das taxas de juro e proporcionando créditos baratos, para manter os fluxos monetários entre os bancos europeus. O BCE também procurou acalmar os mercados financeiros anunciando apoio ilimitado e sem custos a todos os países da Zona Euro com programas de resgate ou preventivos.
Em Portugal a crise resultou de uma complexa combinação de fatores, como a globalização dos mercados financeiros; facilidades nas condições de crédito no período que encorajaram práticas com elevados riscos de crédito; desequilíbrios no comércio internacional; o fim da bolha imobiliária; a recessão global; política orçamental resultando em défices crónicos; as soluções usadas para resgatar a banca e investidores em dificuldades, transferindo para a dívida pública o passivo dessas entidades.
As sucessivas operações para salvar os bancos portugueses, envolvendo somas enormes de fundos públicos, conseguiu travar o agravamento da situação e o consequente colapso da banca portuguesa, mas não impediu o alastramento da crise à restante economia e às empresas em particular.
Ao mesmo tempo, tiveram que se adotar planos de ajuste das finanças publicas, inaugurando uma era de austeridade, onde pontificaram o aumento de impostos e a redução da despesa.
Surge uma renovada ansiedade sobre as dívidas públicas excessivas, levando os investidores a exigir taxas de juro cada vez mais altas a um país como o nosso, com elevados níveis de dívida, de défice público e de défice da balança corrente. Por sua vez, isso dificultou a continuação do financiamento desses défices, sobretudo nos casos onde a economia cresce pouco, como acontece com Portugal.