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Diogo Maurício, CEO da Gwiker
Diogo Maurício, CEO da Gwiker (Fonte Divulgação)

“Estamos sempre a pensar em criar produtos” – Diogo Maurício

Por: Ana Vieira


A Gwiker quer deixar um legado sustentável para as gerações futuras. Para um planeta mais saudável, é nas Caldas de Rainha, no distrito de Leiria, que acontece o processo produtivo de mais de 70 referências de produto com o aproveitamento de frutas e legumes saborosos, mas imperfeitos, que seriam desperdiçados.

Diogo Maurício, CEO da Gwiker, destaca a sustentabilidade dos processos utilizados na transformação em subprodutos. “Todos os excedentes ‘fora do formato’ são encaminhados para a nossa fábrica através de parcerias de economia circular e transformados em alimentos 100% naturais, sustentáveis, vegan e sem adição de açúcares, corantes ou conservantes”, conta em entrevista à PME Magazine.  

Sempre com novos produtos em desenvolvimento, o próximo a chegar às lojas são as barras de vegetais, que se juntam, por exemplo, ao preparado de risotto, cereais de arroz ou granola com frutas e nozes.

 


PME Magazine (PME Mag.) – Como surgiu a Gwiker e que significado tem o nome?
Diogo Maurício (D. M.) – Foi fundada em 2016. Somos uma startup que se dedica à produção de soluções de alimentação saudável e que procura deixar um legado sustentável para as gerações futuras através de escolhas conscientes e sustentáveis.

O nome Gwiker surgiu de um trabalho intenso de desenvolvimento de marca. Nesse estudo inicial procurámos um nome que se adaptasse aos diferentes mercados (nacional e internacionais), que foneticamente soasse bem e que nas diferentes línguas soasse de forma semelhante. A assinatura Earthfood vem complementar o nosso posicionamento de produtos alimentares de verdade, sem ingredientes escondidos ou altamente processados.

(…) deparámo-nos com o desperdício alimentar e acabou por se tornar uma força motora para o desenvolvimento e crescimento da Gwiker.

Inicialmente, começámos por nos dedicar apenas à produção de cogumelos Shiitake biológicos. Contudo, logo no início, deparámo-nos com o desperdício alimentar e acabou por se tornar uma força motora para o desenvolvimento e crescimento da Gwiker enquanto projeto de transformação. A verdade é que não conseguíamos escoar todo o cogumelo que produzíamos na nossa unidade, devido a pormenores meramente estéticos do produto. Para evitar e eliminar este problema, críamos uma unidade de transformação para a secagem dessa matéria-prima. Tivemos a oportunidade de nos dedicar à transformação de fruta e de legumes “imperfeitos” que, noutras circunstâncias, não seriam aceites pelo mercado, e por essa razão não chegariam ao consumidor. Todos os excedentes “fora do formato” são encaminhados para a nossa fábrica através de parcerias de economia circular e transformados em alimentos 100% naturais, sustentáveis, vegan e sem adição de açúcares, corantes ou conservantes. Atualmente, temos um processo de desidratação que tira partido do sol em todo o processo de secagem.

Este processo sustentável permite disponibilizar no mercado três grandes gamas – pequeno-almoço, snacks e refeições –, com uma grande variedade de produtos, como granola, papas de aveia instantâneas, preparados de refeições – risotto –, fruta desidratada e barras e bolas energéticas.


PME Mag. – Como é feito o caminho dos alimentos e produtos que a Gwiker utiliza? 
D. M. – De modo a combater o desperdício, estabelecemos parcerias não só com grandes retalhistas e outras empresas a operar em Portugal, mas também com os produtores através das centrais fruteiras locais, que nos fornecem fruta e artigos hortícolas “fora do formato” ou com imperfeições para venda ao consumidor – produtos com alguns defeitos externos, mas que ainda assim são adequados para consumo.

(…) nas Caldas da Rainha, tratamos de todo o processo produtivo de mais de 70 referências de produto, embalamento e expedição.

Na nossa fábrica em São Gregório, nas Caldas da Rainha, tratamos de todo o processo produtivo de mais de 70 referências de produto, embalamento e expedição. Efetuamos “in-house” a receção das matérias primas que diariamente nos chegam, o seu armazenamento, a lavagem, a preparação, o corte, a secagem e posteriormente o respetivo embalamento e rotulagem para distribuição logística.

Uma vez que cada produto assume características e especificidades distintas, o tipo de corte e o tempo de secagem pode variar até que o produto esteja dentro dos padrões de Qualidade e Segurança Alimentar pelos quais regemos toda a nossa operação. Quando essas duas etapas são finalizadas, fazemos os respetivos testes finais de qualidade e embalamos os produtos – já agora, dizer que fizemos rebranding no início deste ano, tornando toda a nossa gama mais apelativa e as nossas embalagens são 100% recicláveis. Posteriormente, o produto final é vendido no mercado nacional e também exportado para outros países da Europa, África e Ásia, quer com a marca Gwiker quer através de projetos em private label.


PME Mag. – Como funciona o projeto da Gwiker implementado numa escola do Entroncamento, no distrito de Santarém. Como foi a aceitação das crianças? Pretendem replicar o conceito noutros estabelecimentos escolares?
D. M. – Este projeto foi especialmente desenvolvido para uma escola no Entroncamento para ajudar a reduzir o consumo de açúcar e proporcionar às crianças refeições mais saudáveis, equilibradas e nutritivas, mas igualmente deliciosas. Criámos uma gama de cereais “taylor made” de aveia com arroz, farinha de maçã e canela, 100% naturais, sem corantes nem conservantes, e que é servida ao lanche dos alunos da pré-escolar e do primeiro ciclo.

(…) estes cereais tornaram-se nos preferidos de algumas crianças.

De modo geral, todas as crianças têm tendência a preferir produtos doces, com mais açúcar, mas a verdade é que este projeto foi recebido de forma muito positiva pelos alunos desta escola. Podemos inclusivamente dizer que estes cereais tornaram-se nos preferidos de algumas crianças, o que para nós é um orgulho. No seguimento deste sucesso, estamos em conjunto com esta escola a testar um conceito de papas de aveia com banana desidratada para os alunos ainda mais jovens – também este projeto está a ter uma recetividade elevada.

Sem dúvida que o sucesso deste projeto-piloto nos leva a querer implementar em mais instituições de ensino, de norte a sul de Portugal, não só com o objetivo de promover uma alimentação saudável e equilibrada entre as crianças e os jovens, mas também de incentivar à economia circular e consumo consciente.


PME Mag. – Em que ano arrancou a internacionalização da empresa e qual a estratégia delineada?
D. M. – Começámos a exportar em 2020 e tivemos logo uma receção muito positiva. Atualmente, fornecemos para Angola, Noruega, Suécia e Japão, o qual tem mostrado muito interesse por exemplo nas nossas papas de aveia instantâneas.

Estamos em processo de negociação para entrar em mais mercados, quer para projetos marca Gwiker como com projetos de private label. Em maio, participamos na World of Private Label International Trade Show, em Amesterdão, através da PLMA –Private Label Manufacturers Association International Council.


PME Mag. – Como foi feita a escolha dos mercados externos?
D. M. – Sempre que abordamos um determinado mercado procuramos apresentar soluções disruptivas, inovadoras e essencialmente que vão ao encontro das necessidades dos consumidores. Sabemos que os mercados nórdicos têm uma apetência maior para a tipologia de produtos que produzimos e que o próprio consumidor valoriza aspetos como a sustentabilidade e economia circular. Por essa razão estes foram os primeiros mercados a abordar. Nos restantes casos, a abordagem ao mercado nasce pela necessidade identificada para um determinado produto através do contacto com distribuidores, retalhistas ou representantes destes mercados.


PME Mag. – Estão a preparar o lançamento de novos produtos?
D. M. – Sim, estamos sempre a pensar em criar produtos. Em breve lançaremos no mercado as nossas VEGGIE BARS (barras de vegetais), um novo produto e formulação na qual já estamos a trabalhar há muito tempo. Estarão disponíveis na nossa loja online e no Food Lab das lojas Continente.


PME Mag. – Em 2023, quantas toneladas de subprodutos comercializaram e qual o volume de faturação?
D. M. – Nós utilizamos subprodutos de indústria ou produtos inteiros, que não estão perfeitos para venda ao cliente final, para transformar em novos produtos. Anualmente saem da nossa fábrica mais de 1 milhão de embalagens das várias referências do nosso portfólio.

Os primeiros anos de uma empresa são sempre anos de investimento, e particularmente nos dois últimos anos esse investimento tem sido maior. Mudámos para uma unidade fabril maior e investimos em novos equipamentos. Reformulámos e melhorámos alguns processos e avançámos para a certificação de gestão da Qualidade e Segurança Alimentar de âmbito internacional – IFS Food. Em 2023, faturámos cerca de 267 mil euros e acreditamos que este ano registaremos um crescimento significativo.