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Vítor Ferreira, CEO e co-fundador da Startup Leiria (Fonte Divulgação)

O que é nacional (e local) é bom

Por: Vítor Ferreira, CEO e co-fundador da Startup Leiria


Não é por acaso que cada vez se ouve mais falar de startups e do ecossistema empreendedor. Longe vai o tempo em que apenas as grandes multinacionais recebiam a atenção dos média e do público.

Atualmente, as startups e as Pequenas e Médias Empresas são uma das forças motrizes da nossa economia, representando 99,7% do número de empresas registadas em Portugal, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE) e a IAPMEI (Agência para a Competitividade e Inovação).

Neste artigo, focar-me-ei nas startups, que merecem especial atenção da minha parte por serem a base do meu trabalho, na Startup Leiria, e pelo facto do seu impacto ocorrer tanto a uma escala local como global, apesar da sua tradicional pequena dimensão.

As startups são motores de crescimento económico, uma vez que contribuem para o Produto Interno Bruto, através da criação de novos produtos, serviços e mercados, e aumentam a produtividade e a competitividade da economia local e nacional. Operam em diversas indústrias, desde tecnologia e saúde, até ao turismo e energia renovável, por exemplo, o que ajuda a diversificar a economia e a reduzir a dependência de setores tradicionais. Por outro lado, estas são empresas que geram um alto valor acrescentado, não estando totalmente dependentes de cadeias de valor globalizadas, onde a inovação é esmagada pela pressão de preço de uma qualquer multinacional.

Estas empresas criam novos empregos, tanto diretamente, em áreas especializadas inerentes ao seu negócio (tecnologia e inovação) como indiretamente, nos ramos financeiro, jurídico e de recursos humanos, etc. Para além disso, tendem a ser mais dinâmicas e abertas a recrutar jovens, incluindo recém-formados, dando-lhes a oportunidade de ingressar no mercado de trabalho e adquirir experiência no ramo de estudo ou interesse. Este aspeto é altamente significativo para a competitividade do país e é uma das principais razões pelas quais o governo português deve apostar no fomento das startups.

Com a presença destas empresas no mercado de trabalho, a procura por profissionais qualificados aumenta, levando ao desenvolvimento e retenção de talento no ecossistema. Muitas startups investem em programas de formação e mentoria para os seus trabalhadores, colaborando com universidades e institutos de ensino superior, a fim de elevar o nível de competência da sua equipa. Além disso, participam em eventos de networking, hackathons e programas de aceleração que ajudam os empreendedores e integram-nos em comunidades onde são partilhadas aprendizagens e experiências.

Ao existirem oportunidades locais mais atrativas, os jovens qualificados tendem a permanecer em Portugal, em vez de procurar emprego no exterior, contrariando a tendência que tem marcado o cenário atual do país há largos anos.

Felizmente, a construção de hubs tecnológicos e a criação de incubadoras e programas de aceleração em Portugal têm vindo a aumentar, principalmente desde que Lisboa foi selecionada para receber a Web Summit. O surgimento dos “Business Angels”, de apoios governamentais, como o Portugal 2020 e o InvestEU, iniciativas como crowdfunding e eventos de pitch também tem sido mais frequente e contribuído significativamente para o desenvolvimento de startups e de projetos empreendedores.
Ainda assim, os apoios que o governo português oferece às startups são escassos, o que pode impactar consideravelmente a sua escalabilidade.

O ambiente regulatório em Portugal é caracterizado por ser burocrático e complexo, tornando-se um obstáculo à agilidade dos projetos, cujos atrasos e dificuldades desincentivam, muitas vezes, os empreendedores e investidores.

Paralelamente, embora existam vários programas governamentais de financiamento, como fundos e subsídios, o acesso a capital continua a ser um desafio, principalmente na fase inicial de crescimento. Porém, não é só nesta etapa que se impõem limitações. A internacionalização de uma startup é imprescindível, na maioria dos casos, para a sua escalabilidade. Contudo, grande parte dos apoios focam-se especialmente na incubação e primeiros investimentos, negligenciando a importância de todo o percurso destas empresas.

Além disso, a complexidade do sistema fiscal e a falta de melhores incentivos, comparativamente a outros países, fazem com que Portugal não consiga atrair e reter tantas startups e talento quanto poderia suportar.

Nesse sentido, é crucial que se construa um ecossistema no qual as startups e os empreendedores sintam que podem alcançar todo o seu potencial e onde estas questões sejam abordadas de forma abrangente. Este ambiente mais favorável beneficia as startups nele inseridas e capta novas empresas e investidores, resultando no fortalecimento de Portugal e das suas regiões no contexto global do empreendedorismo.

Neste contexto, a Startup Leiria emerge como um exemplo de como uma incubadora pode desempenhar um papel central na criação de um ecossistema empreendedor robusto. Ao oferecer suporte contínuo, promover parcerias estratégicas e facilitar a conexão entre empreendedores, investidores e instituições, a Startup Leiria impulsiona o crescimento das startups locais para um contexto global e contribui significativamente para a projeção de Leiria como um polo de inovação e empreendedorismo a nível nacional e internacional. É através de iniciativas como estas que conseguimos transformar desafios em oportunidades, criando um ambiente onde o empreendedorismo prospera e gera impacto real na economia e na sociedade.