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Luís Bravo, CEO da Papiro (Foto: Divulgação)

O que esperar do ano que aí vem?

Por: Luís Bravo, CEO da Papiro

O mundo mudou de forma lenta, mas tão rápida, e enquanto se ouvia falar de um vírus lá longe, o mundo era cada vez mais global, em aceleração. Mas, de repente, esse vírus estava no nosso território, provocando alterações que nenhum de nós pensaria meses antes. O tão simples ato de apanhar um avião tornou-se complicado, não possível, sujeito a escrutínio. Já não podíamos estar juntos, falar cara a cara, seduzir da mesma forma como antes o tínhamos feito de maneira genuína, treinada e até profissional, aplicado às relações humanas e comerciais.

Sem saber, entrámos em casa uns dos outros por canais que num ápice passaram a ser vocabulário comum. Que desafio. Mas logo vimos que a transformação digital, que precisava de um empurrão, passou a ser moda usual e com forte procura. O e-commerce virou risco com grau 75 de inclinação nos mais difundidos mapas da sua evolução.  A ciência procurou outras formas de combate e até já cozinhávamos em casa todos os dias ou uberizávamos mais esse apetite. Tudo conceitos conhecidos, mas que se intensificaram e vieram para ficar. Até outra radical mudança de tempos?

E agora? O que esperar do ano de 2022? Estamos mais preparados para este novo ano? Em resultado de toda esta junção de fatores é de esperar uma acrescida dificuldade na obtenção de matérias-primas e subsequentemente um aumento de preços em todos os fatores de investimento. A gestão da cadeia logística demorará a atingir a estabilidade, obrigando a um repensar dos investimentos previstos e melhor planeamento na gestão de encomendas. Não sendo de prever aumentos significativos nos preços do petróleo para níveis acima dos 100 dólares, é quase inevitável um acréscimo da inflação.

O retorno à tranquilidade é o mais desejado, onde, sendo Portugal um país que depende do turismo, todos desejamos que o verão de 2022 seja o verão mais normal dos últimos anos, o que, sendo assim, rapidamente Portugal poderá atingir níveis de turismo antes da pandemia, no entanto, prevêem-se dificuldades neste e noutros setores quando falamos de mão-de-obra. Será eventualmente um dos fatores de maior preocupação a escassez de mão-de-obra que se poderá constatar no ano de 2022, principalmente em alguns setores de atividade. A pandemia originou transferências de mão-de-obra para outros setores que poderão não ter retorno, sendo que o turismo e a construção civil estão onde esse fator mais se destaca.

A taxa de juro revela, atualmente, uma tendência de crescimento que, a verificar-se, penalizará tanto o mercado de consumo final como o forte endividamento das empresas, debilitando muitas que estão a sair de um período menos bom. Outros fatores de instabilidade, nomeadamente os conflitos geopolíticos, deverão ser acompanhados por todos aqueles que não querem ser tão afetados pelos fatores surpresa, uma vez que são estes muitas vezes geradores de oscilações significativas das tendências de crescimento.

O que os últimos dois anos nos ensinaram foi que vamos precisar de estar preparados, em regime de contingência, a novas variantes da Covid, mas é de prever uma progressiva normalidade no regresso ao trabalho, trabalho esse que adotará regimes híbridos, com alguns dias em teletrabalho e outros de permanência nos locais normais de trabalho.

Mas será definitivamente 2022 o ano da transformação digital? O ano em que passaremos a usar de forma massiva as assinaturas digitais? Onde os serviços do Estado crescem de forma ágil e rápida na resolução dos temas do dia-a-dia dos cidadãos?  Entraremos no mundo da hiper-automação com sistemas cada vez mais ágeis e uma gestão global de API? O ano de 2022 será o ano de oportunidade para todos refletirem sobre onde não estavam preparados para as reviravoltas repentinas que um fator surpresa nos trouxe, como foi a Covid-19.