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SalesShaker
Domingos Folque Guimarães, empreendedor português, business angel e Campeão Digital da União Europeia (Foto: Divulgação)

“Ou as PME apanham o comboio da digitalização ou vão morrer” – Domingos Folque Guimarães

Por: Eduarda Coelho

Empreendedor português, business angel e Campeão Digital da União Europeia em Portugal, Domingos Folque Guimarães já empreendeu em diferentes áreas durante o seu percurso profissional. Hoje, afirma que o seu principal objetivo é “colocar o seu know-how em algo de útil para a sociedade”. Ao considerar-se uma voz regular na tentativa de levar a economia para a direção do impacto social, é sob este mote que o empreendedor responde ao desafio “Próxima Geração Educação Comercial”, na conferência SalesShaker, a decorrer online dia 26 de outubro. Em entrevista à PME Magazine, media partner do evento de vendas B2B, Domingos Folque Guimarães, um dos oradores convidados, fala sobre o seu percurso profissional e as suas ambições para o futuro.

Domingos Folque Guimarães iniciou a sua carreira no mundo empresarial em 2006, não por coincidência, pelo setor do entretenimento. O empreendedor, antes de poder ser assim chamado, fez formação em cinema e, por este motivo, iniciou o seu trajeto de gestor pela área em que mais tinha conhecimento – o entretenimento.

PME Magazine – De que forma acredita que a entrada no mercado pelo setor de entretenimento o fez chegar onde está hoje?

Domingos Folque Guimarães – Normalmente, o trajeto de um gestor consiste em tirar gestão de empresas, mas eu venho do trajeto oposto. Eu venho da arte, tirei um curso de ator, por isso, o meu primeiro negócio é uma editora de livros porque era o mundo que eu conhecia (da arte e do entretenimento). Acho que isto me trouxe uma vantagem competitiva mais tarde, isto é, hoje, no mundo dos negócios, o que me distingue é que eu vim do mundo da arte e fiz o caminho para o mundo da gestão. Fiz curso de gestão na IESE em Nova Iorque, arduamente e assiduamente li livros de gestão, até perceber que a gestão é uma ciência e, assim, a partir dela, melhorar os processos da empresa. Ao mesmo tempo, nunca perdi o meu lado criativo, de capacidade de procurar soluções um bocadinho diferentes – se a gestão é uma ciência, é possível ensinar-se contabilidade, mas como se ensina criatividade? Neste sentido, acho que os gestores devem ter um ângulo de criatividade, estes deveriam perceber que é no cruzamento destes dois mundos que vai existir a diferença. Num mundo em que se prepara para ser completamente automatizado, o que vai distinguir a qualidade da gestão é também a capacidade criativa dos gestores, pois isto será mais difícil de ser replicado por um software ou um robô.

PME Mag. – E o que o motiva a continuar a empreender?

D. F. G. – Primeiro é ter o bicho do empreendedorismo, isto é, quando temos vontade fazer acontecer, sonhar e tentar realizar, isto é algo que dificilmente desaparece. Regularmente, gosto de ser desafiado, arriscar, inovar – e isto eu nunca perdi, sempre fui aumentando o tamanho do desafio que me força a aprender e ter a capacidade de ir em direção às minhas paixões. Tive uma editora de livros, uma produtora de DVD, uma empresa que fazia live streaming, ainda antes do YouTube. Depois, criei um grupo de publicidade digital – que ainda hoje existe com cinco empresas – e uma empresa de impacto social. Neste sentido, desde criança tive sempre uma mente ligada às vendas, mas também um ângulo social desenvolvido. Hoje, o que quero fazer é ser uma das bandeiras do empreendedorismo social em Portugal, quando se trata de um novo projeto, sempre penso que além dos fins lucrativos, que o mesmo tenha um impacto positivo na sociedade.

PME Mag. – No sentido de gerar um impacto positivo na sociedade, lidera projetos que visam a educação e a formação, tendo em vista a mudança social, como é o caso da Academia de Código. De onde surgiu a ideia deste projeto e como está a correr atualmente?

D. F. G. – Quando já estava realizado em outros aspetos da vida, comecei a sentir uma vontade muito forte dentro de mim de ser agradecido às coisas que me correram bem e comecei a procurar como poderia colocar o meu know-how em algo de útil para a sociedade. Quando surgiu a ideia da Academia de Código, estávamos numa altura de crise gigantesca, por volta de 2013, em que havia muito desemprego em Portugal. Na altura, o que foi percebido é que não há desemprego na área da programação e o desemprego não parava de aumentar em Portugal. Assim, inspirados em trabalhos e bootcamps, desenvolvemos este trabalho na Academia, que em 14 semanas transforma um desempregado em programador – criamos emprego e tiramos pessoas do desemprego. Hoje, a Academia de Código já gerou mais de 1500 empregos e é um projeto que continua a fazer todo o sentido, inclusive, sendo necessária a existência de outras academias, pois estamos a viver um momento de transformação e digitalização da economia e, com isso, uma transformação do que eram os postos de trabalho. Este é o momento no qual as empresas privadas e o Estado precisam de olhar para a formação e adaptação das competências às necessidades do mercado.

PME Mag. – É também business angel. Porque optou por investir em novos negócios e o que o faz acreditar no potencial dos mesmos?

D. F. G. – Eu faço parte de uma grande associação de business angels chamada Investers.PT. Os business angels são os primeiros a arriscar, normalmente economicamente, num novo negócio. Eu faço-o em alguns, porque já estive na mesma situação, mas não faço em tantos quanto gostaria. Sempre que vejo uma oportunidade – e isto não tem muito que ver com uma ideia ou conceito do projeto, pois muitas vezes vai-se alterando com o tempo – procuro mais é o talento, a vontade, a energia, o entusiasmo e a determinação de fazer. Há um outro ângulo também, que tem que ver com a mentoria, e este faço muito. Logo no primeiro ano da Startup Lisboa, ganhei o prémio de empreendedor do ano e, desde este momento, dedico uma percentagem relevante do meu tempo a tentar ajudar empreendedores a lançarem os seus projetos. Eu próprio ainda vou à procura de mentores para mim, para me ajudarem a tomar algumas decisões. O trabalho da mentoria é muito importante, não só pelas trocas de experiência, mas também dentro das empresas, porque isto será positivo para elas. Todas as vezes que gasto tempo para ajudar alguém, é tempo que eu ganho. Por um lado, este propósito de ajudar o próximo preenche-me e, por outro, eu consigo estar a beber regularmente da água que está a sair da fonte. Na minha vida tenho como lema aprender todos os dias.

PME Mag. – A criação da plataforma streaming de música ao vivo Central Musical e da agência de marketing Live Content foram os primeiros passos em direção ao mundo digital. O que o motivou a dar esse passo? E de que forma as suas empresas se destacam das demais, considerando a enorme concorrência no cenário digital?

D. F. G. – Estas empresas são inovações. A Live Content foi a primeira agência a fazer estratégia de social media, estratégia de comunicação digital. Não tenho dúvidas de que a economia está num caminho de digitalização, seja para o processo de venda, branding, ou dar a conhecer um produto. Hoje, não há uma empresa que não tenha de ter serviços digitais. O que fiz nestas duas empresas foi olhar para onde o mercado se está a mover e ir na mesma direção. Olhando para o tecido das PME, ou elas apanham o comboio da digitalização ou vão morrer – apostar nas redes sociais, um website, claro, um ecommerce, perceber como a equipa pode ganhar competências digitais, acelerar os processos da empresa. A Europa vai, por um lado, para o ângulo da digitalização e, por outro, da sustentabilidade. Sobre isso, não há hipótese de escapar. Há uma obrigação da economia toda de olhar e perceber onde está a sua pegada, o que está a causar um impacto negativo e o que pode ser feito para reduzir este impacto.

PME Mag. – O Domingos será um dos oradores do SalesShaker. Por que acha a sua participação relevante neste evento?

D. F. G. – Eu gosto de ser uma voz regular no tentar levar a economia para o impacto social. Todos os dias lido com dezenas de empresas, especialmente no setor da economia social e há uma questão muito importante que o SalesShaker discute: as vendas. No mundo do impacto, o que se encontra são empreendedores com um coração gigante, só que, como gestores, têm às vezes um preconceito com as vendas – por um lado, querem criar impacto, mas por outro, têm de vender como qualquer empresa. Estar ligado ao impacto social ou à sustentabilidade não nos retira a necessidade de vender – pelo contrário, temos de vender ainda mais do que as outras empresas. Projetos como o SalesShaker fazem parte da formação, passagem de informação, e perceção do estado da tecnologia das vendas.

PME Mag. – Qual é a mensagem principal que deseja transmitir?

D. F. G. – Por um lado, a digitalização das vendas, a necessidade de formar internamente as nossas equipas e como podemos utilizar as ferramentas digitais para vender mais e melhor. Por outro lado, tudo o que é a parte de formação contínua dentro das empresas, porque esta transformação regular da economia e da sociedade obriga a que estejamos constantemente atualizados. Também quero trazer a mensagem do impacto social, falar sobre as vendas que causam um impacto positivo na sociedade.

PME Mag. – E o que espera aprender?

D. F. G. – Temos de estar constantemente a construir pontes. Eu sou um empreendedor e quero saber quem são estas pessoas que lá estão, sentir o pulsar do mercado e perceber onde estamos agora para também levar as pessoas para a direção certa.