Domingo, Novembro 3, 2024
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Podem o trabalho e a família fazer parte da mesma equação?

Por: Diogo Fabiana, Chief Innovation Officer & sócio do IDEA Spaces


Em pleno período de férias escolares, e com as escolas fechadas, muitos pais são obrigados a encontrar soluções para deixar os filhos durante as suas horas de trabalho. Para os que não têm familiares disponíveis para ficar com as crianças, pagar por um ATL pode ser a única solução, representando um custo acrescido no orçamento familiar, além da preocupação em respeitar horários.

Nenhum de nós é apenas uma “coisa” e os nossos papéis profissionais e pessoais são, claramente, indissociáveis. Isto porque, uma chamada do ATL porque a criança está doente vai alterar a nossa agenda profissional, da mesma forma que uma reunião de última hora pode exigir alguma ginástica na vida pessoal. Da ponta da língua diria que, sendo obrigado a escolher, sem dúvida que, num dos casos acima, a minha prioridade seria sempre a família. Esta realidade, transversal a tantas famílias, leva-me a questionar sobre como é que as empresas se podem adaptar para permitir que a sua equipa consiga ter um equilíbrio saudável entre a vida profissional e a vida familiar.

Com o conceito de “emprego para a vida” a perder força, as empresas enfrentam desafios acrescidos no que toca à captação e retenção de talento. Afinal, o fator atrativo num cargo e numa empresa já não é somente a remuneração nem a garantia de ter um emprego. As pessoas já não procuram apenas um salário tradicional e preferem escolher uma empresa que respeite a vida pessoal, familiar e o bem-estar. Que seja flexível nos horários para que se possa entrar mais cedo, com o objetivo de sair mais cedo para levar os filhos à dança, à ginástica ou simplesmente ver um pôr-do-sol em família.

Correndo o risco de me repetir, mas tendo em conta a importância da temática, volto a dizê-lo: já não basta uma boa remuneração. Enquanto empreendedores, temos de privilegiar medidas que deem liberdade aos colaboradores para que estes se possam sentir felizes e realizados nos dois campos, pessoal e profissional. 

O trabalho deve contribuir para a felicidade das pessoas e não deve ser apenas uma obrigação ou um peso. Apesar da crescente incorporação do teletrabalho nos modelos de trabalho, isto já não basta. É preciso ir mais além e que as empresas tenham mais ambição, mudança e empatia, de modo a criar um
impacto positivo significativo e profundo na vida das pessoas.

Abrir horizontes e pensar nos colaboradores, não olhando apenas para os números e para as contas, pode ter um impacto enorme na saúde da empresa, a todos os níveis. Está provado que trabalhadores felizes são mais produtivos e contribuem de forma significativa para o crescimento das empresas.

Uma medida bastante simples e que pode fazer toda a diferença para os colaboradores é o alargamento dos benefícios como o seguro de saúde aos membros da família. Esta é uma medida que pode ter um grande impacto na gestão interna do orçamento familiar, fortalecendo o vínculo entre a empresa e a
sua equipa.

Outro exemplo nada complexo é o alargamento da licença parental. Isto porque, apesar da extensão de três meses já ser possível, essa opção reflete-se num corte significativo no orçamento familiar. Assim, muitos podem não optar por esta opção sob risco de comprometer os seus rendimentos familiares. Ainda neste seguimento, a assistência à creche, bem como a disponibilização de sessões de aconselhamento familiar podem contribuir para o bem-estar dos funcionários.

No fundo, tudo se resume à flexibilidade e empatia e, para isso, temos de conhecer, de um modo mais aprofundado, as pessoas com quem trabalhamos. Estes incentivos devem também ser aplicados no local de trabalho de uma maneira mais regular e “pessoalizada”, já que passamos grande parte da nossa
vida a trabalhar.

Um exemplo muito simples passa pelos eventos de teambuilding, onde também se podem envolver os familiares dos colaboradores. Estes momentos podem ser fundamentais para os valores da equipa se alinharem, criando um espaço para partilha e promovendo a compreensão pelas histórias e contextos de cada um, bem como as suas estruturas familiares. 

Sem querer tocar no cliché de “somos uma família”, a realidade é que os dois mundos são inseparáveis, ao mesmo tempo que se devem separar. Com pequenos passos e medidas, é possível criar uma dinâmica familiar dentro da própria empresa, onde impera a empatia e a compreensão, resultando no bem-estar do maior ativo das empresas: as pessoas.

Ao incluirmos a família e o trabalho na mesma equação de bem-estar todos saem a ganhar, mas para isso é necessário iniciarmos essa mudança na cultura das próprias empresas.

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