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Paula Perfeito, presidente da PWN Lisboa
Paula Perfeito, presidente da PWN Lisbon (Fonte: Divulgação)

Ser referência na construção da liderança (diversa)

Por: Paula Perfeito, presidente da PWN Lisbon (Professional Women’s Network) 


Começo com uma “história”.

Uma famosa gravura do alemão Albrecht Dürer (1471-1528), de 1514, citada no Doutor Fausto, de Thomas Mann, inclui um famigerado quadrado mágico que vemos por vezes por aí, numa espécie de persuasão (é o que me sugere, pelo menos, a mim) sobre a possível existência da perfeição.

À margem de um amontoado de equipamentos científicos que cercam um intelectual absorto em pensamentos aparentemente sem saída, aparece nessa gravura, no canto superior direito, uma tabela de números em desenvolvimento aritmético. Nessa tabela, o famoso quadrado mágico, a soma dos vários números em cada coluna, linha ou nas duas diagonais (em qualquer sentido) é sempre, sempre igual: 34. Numa transferência do quadrado mágico, no seu invólucro de perfeição, para os nossos dias, surge-nos, mesmo que mais subtil do que súbita, uma inspiração sobre os vários caminhos que podem levar a uma solução, numa simbologia da solução partilhada, com o envolvimento das várias partes de um grupo, de uma equipa, de uma comunidade, nos seus diferentes olhares, percursos e estádios de desenvolvimento e maturidade. O quadrado mágico de Dürer constitui uma verdadeira inspiração sobre o caminho certo, o qual, por sua vez, vem cheio de caminhos. É plural.

Hoje, longe do tempo de Dürer, enfrentamos desafios internos e conflitos internacionais dentro de uma moldura conjuntural com consequências, para além de económicas e financeiras, também políticas, sociais e culturais de dimensão ainda por calcular e medir, no país e no mundo. Há que separar, contudo, a conjuntura de uma necessária atitude estrutural. Este ambiente catalisador de incerteza constitui um laboratório de inestimável significado para a resiliência, a capacidade de liderar, a vocação para antever e indicar uma direção coletiva.

No atual contexto de mudança, crise e imprevisibilidade, são os países, as sociedades, as organizações, as comunidades, as famílias e os indivíduos chamados a fazer a parte que lhes compete. Se for em regime de colaboração, então, teremos todos («todos, todos, todos»), garantidamente, a ganhar. Os grandes desafios encaram-se com grandes respostas, humanistas e humanizadoras. Lideranças fortes, humanistas e humanizadoras. Estes tempos exigem, admitamo-lo sem reticências, uma tomada de consciência mais firme sobre o valor holístico da diversidade, enquanto fator fundamental de desenvolvimento económico e capacidade competitiva.

Ora, falar de diversidade (por exemplo) organizacional – que pressupõe falar, não vale a pena escamotear, de governance – implica, infelizmente, ainda hoje, falar das mulheres enquanto género sub-representado nos principais lugares de decisão. Mesmo que as mulheres, diz-nos o Pew Research Center, se destaquem em vários fatores decisivos da liderança corporativa, como a valorização e integração de pessoas oriundas de diferentes backgrounds, a consideração do impacto social das decisões de negócio, a mentoria e o cuidado com colaboradores mais jovens ou o sentido de justiça face às condições e ao estatuto remuneratório. Está, de resto, amplamente provado que organizações com lideranças mais diversas alcançam resultados e situações financeiras mais robustas e sustentáveis.

O Dia Internacional da Mulher, que (ainda) celebramos neste mês de março, teve a sua forma embrionária num protesto de mulheres em Nova Iorque em 1909; com a advogada dos direitos da mulher Clara Zetkin em 1910; o envolvimento de mais de um milhão de pessoas na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça; e, desde 1975, com o patrocínio das Nações Unidas. Deve ser comemorativo e promotor das mulheres que estiveram na dianteira, marcaram corajosamente posições e rasgaram cânones. Mas a força anímica que a atualidade exige não deve ficar nos parâmetros conceptuais do Dia Internacional da Mulher. Deve romper as fronteiras de um discurso segmentado e ousar promover, de forma absolutamente inclusiva, uma visão para a diversidade sem condescendências.

Não sendo a única organização a atuar no campo da diversidade, a Professional Women’s Network Lisbon (PWN Lisbon), organização global com uma visão para a liderança e o talento, mantém-se firme, ao cabo de 12 anos ininterruptos de atividade em Portugal, na prossecução da sua missão, que não sendo fácil, nem neutra, procura com uma visão para a sociedade servir o país, as organizações, os profissionais, as pessoas.

Com um propósito: ser referência na construção e consolidação da liderança, numa visão inclusiva, assente nos critérios da diversidade, equidade e inclusão e procurando o desenvolvimento da pessoa numa perspetiva integral, ao longo da vida. Apesar de estar sempre implícita essa motivação, aliás essa inegável necessidade, não é de empoderamento de mulheres que falamos. Mas de uma preparação para liderar e gerar novos líderes. Novos líderes que não sejam quadrados (permitam-me a palavra), mas que percebam o salto quântico do quadrado tão “perfeito” e “mágico” de Dürer.

 


Parceria PME Magazine/PWN Lisbon 
Este artigo faz parte de uma parceria editorial estabelecida entre a PME Magazine e a PWN Lisbon (Professional Women’s Network).