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Aquila Clean Energy
Manuel Silva, Head of Development & Construction da Aquila Clean Energy em Portugal (Foto: Divulgação)

“Este projeto evitará a emissão para a atmosfera de mais de 477 mil toneladas de CO2 por ano” – Manuel Silva

Por: Marta Godinho

A Aquila Clean Energy é a plataforma de energias renováveis da Aquila Capital na Europa que desenvolve e opera ativos de energia limpa em tecnologia solar, eólica e hídrica, mas também de armazenamento em baterias. Foi, recentemente, criada uma parceria com a Universidade de Évora com o objetivo de criar uma coexistência da produção de energia com a manutenção de práticas agrícolas na área da central. Em entrevista à PME Magazine, Manuel Silva, Head of Development & Construction da Aquila Clean Energy em Portugal, fala-nos um pouco sobre a parceria, o conceito agrivoltaico que pretendem implementar e as vantagens de implementar este projeto na localidade de Santiago do Cacém.

PME Magazine (PME Mag.) – O que é a Aquila Clean Energy?

Manuel Silva (M. S.) – A Aquila Clean Energy é a plataforma de energias renováveis da Aquila Capital na Europa que desenvolve e opera ativos de energia limpa em tecnologia solar, eólica e hídrica, mas também de armazenamento em baterias, em território europeu. Atualmente, a Aquila Clean Energy gere uma capacidade total de aproximadamente 960 MW em ativos solares e hídricos em Portugal, mantendo a ambição de expandir a carteira de investimentos em energia limpa no país, com o objetivo de ter um papel fundamental na transição energética em Portugal e de acelerar a descarbonização da economia de uma forma sustentável.

PME Mag. – Qual é o principal objetivo desta parceria?

M. S. – É uma parceria para implementar um projeto pioneiro e inovador em Portugal, que tem como grande objetivo permitir a coexistência da produção de energia com a manutenção de práticas agrícolas na área da central. Numa central solar com as dimensões da do Cercal, temos que nos esforçar ainda mais para maximizar os impactos sociais e ambientais positivos do projeto no território. Por isso, e para responder a uma das principais preocupações colocadas localmente que questionava a viabilidade da produção agrícola nas terras onde serão instalados os módulos solares, procurámos um parceiro capaz de criar conhecimento científico independente, que ainda não existe em Portugal, com o objetivo de identificar as melhores práticas agrícolas e espécies a cultivar na área de implantação da central.

PME Mag. – Quais são as fases pelas quais o estudo vai atravessar?

M. S. – Com base no estudo que agora se inicia vai ser possível determinar os locais específicos onde se poderá implementar o projeto-piloto, bem como serão identificadas as melhores espécies para cultivar. Prevemos o arranque deste projeto-piloto no terreno numa fase mais avançada da construção da central. Além desta parceria com a Universidade de Évora, a Aquila Clean Energy já firmou uma outra parceria, em 2022, com a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) para fazer um estudo prévio da situação de referência dos solos na área da nova central, bem como para monitorizar a temperatura na área da central. Esta parceria vai ainda resultar na produção de conhecimento científico em português, sendo expectável a publicação de artigos científicos em revistas da especialidade.

“É um projeto que também ajuda Portugal a alcançar as suas metas de descarbonização e de aumento da incorporação de energias renováveis no mix energético”

PME Mag. – Fale-nos um pouco sobre o projeto-piloto e sobre o conceito agrivoltaico.

M. S. – O conceito de agrivoltaico significa a coexistência de produção elétrica a partir de módulos solares com práticas de agricultura no mesmo local. Este é o princípio que orienta o trabalho de estudo que a Universidade de Évora está a colocar em prática para identificar as melhores práticas agrícolas e espécies a cultivar na área de implantação da central. O cultivo terá lugar tanto entre filas de módulos (com exposição solar direta), como diretamente por baixo destes (com momentos de sombra durante o dia). Após a definição das melhores práticas e espécies a cultivar serão implementados os projetos-piloto que colocarão em prática as conclusões do estudo.

“Este é o momento para mitigar a gravidade da crise climática e para trabalhar para um futuro mais sustentável”

PME Mag. – Quais são as vantagens de fazer uso de uma central como a Central Solar Fotovoltaica do Cercal, em Santiago do Cacém?

M. S. – Considerando que aproximadamente 25% das emissões de CO2 na Europa são geradas pela produção de eletricidade, este projeto solar fotovoltaico em Cercal do Alentejo representa um passo crítico e importante rumo à descarbonização do setor da eletricidade em Portugal. Este projeto, uma vez em funcionamento, produzirá cerca de 596 GWh de eletricidade renovável por ano, o suficiente para alimentar mais de 141.000 casas e evitará a emissão para a atmosfera de mais de 477 mil toneladas de CO2 por ano. É assim um projeto que também ajuda Portugal a alcançar as suas metas de descarbonização e de aumento da incorporação de energias renováveis no mix energético. Recorde-se que Portugal previa ter uma incorporação de 80% de energias renováveis na produção de eletricidade em 2030, mas reviu esse objetivo e provavelmente conseguirá atingi-lo já em 2025. Essa aceleração deve-se, claramente, a projetos como o do Cercal do Alentejo. Adicionalmente, este projeto vai contribuir para o crescimento e desenvolvimento da região e terá um impacto económico positivo a vários níveis. Desde logo na fase de construção, com a criação de um número substancial de postos de trabalho que, na medida do possível, serão preenchidos pela população local, passando também pelo alojamento local dos trabalhadores não-residentes (seja via arrendamento, seja em unidades hoteleiras) e também pelo consumo que será feito a nível local (restauração, mercearias, etc.). Por outro lado, será privilegiada a aquisição local de materiais e equipamentos de construção, na medida do possível. Relativamente à fase de operação, está prevista a criação de dezenas de postos de trabalho diretos e indiretos, nomeadamente com serviços de operação e manutenção. Por outro lado, serão pagas rendas aos proprietários cujas terras serão utilizadas para a produção de energia. O pagamento de impostos, tais como a derrama municipal e o IMI, constituirá também uma fonte de receita relevante para o município onde se insere este projeto.

“É uma parceria para implementar um projeto pioneiro e inovador em Portugal, que tem como grande objetivo permitir a coexistência da produção de energia com a manutenção de práticas agrícolas na área da central”

PME Mag. – A proteção das comunidades locais é o principal fator deste estudo?

M. S. – A nossa ambição é apostar no desenvolvimento de projetos na área das energias renováveis que permitam reduzir as emissões de gases poluentes e acelerar a transição verde em Portugal e nos mercados em que operamos. Este é o momento para mitigar a gravidade da crise climática e para trabalhar para um futuro mais sustentável. Isso requer uma ação urgente e os cientistas estimam que o contributo substancial de novas centrais solares fotovoltaicas (pequenas, médias e grandes) é crucial para inverter a tendência do aquecimento global. Neste caso específico de Cercal do Alentejo, decidimos adotar um conjunto de medidas adicionais e complementares, para além das exigidas em sede de avaliação ambiental, para gerar um impacto ambiental positivo sempre que possível. Foi, por exemplo, implementado um Plano de Integração Paisagística. Como exemplos, no Cercal temos a garantia de que nenhuma árvore será cortada; aliás, serão plantadas seis mil novas árvores na área do projeto, incluindo arbustos de espécies autóctones. Na maioria do projeto, a camada superior do solo não será alvo de qualquer intervenção e, adicionalmente, estamos a tentar assegurar que será possível compatibilizar a produção de energia elétrica limpa com o cultivo e a prática agrícola nos respetivos terrenos, podendo, inclusive, concluir-se pela possibilidade de pastoreio neste território. A estratégia de desenvolvimento do projeto, e é também esse o ADN da Aquila Clean Energy, visa evitar os efeitos potencialmente negativos sobre o ambiente e, ao mesmo tempo, alcançar efeitos positivos adicionais para as comunidades locais.