Por: Sofia Manso, CEO Academia da Felicidade
Vamos ser honestos. Se és dono ou gestor de uma PME em Portugal e ainda não estás a investir na felicidade dos teus colaboradores, estás a perder a corrida. E não estamos a falar de distribuir brindes ou organizar uma festa anual. Estamos a falar de uma revolução. Uma mudança de mentalidade que vai além do lucro imediato e que se foca num conceito tão subestimado como poderoso: a felicidade no local de trabalho.
Vários estudos já o disseram, e os números não mentem. Em empresas onde a felicidade é promovida, a produtividade aumenta até 13%. E se achas que isto é uma realidade apenas para grandes multinacionais, pensa outra vez. Os dados mais recentes do INE revelam que as PME são responsáveis por cerca de 80% do emprego em Portugal. O impacto destas empresas no tecido económico é inegável, mas quantas já perceberam que o verdadeiro crescimento começa no bem-estar emocional dos seus colaboradores?
Porque é que ainda estamos a discutir isto?
Vamos fazer uma viagem rápida pela história. Nas décadas de 1950 e 60, a ideia de felicidade no trabalho era inexistente. A lógica era simples: trabalha, recebe o teu salário e vai para casa. A produtividade era medida em horas passadas no escritório, independentemente da qualidade do trabalho produzido. Agora, avança para os anos 2000, e o cenário é completamente diferente. Empresas como Google e Zappos, por exemplo, construíram impérios com base numa filosofia disruptiva: se os seus colaboradores forem felizes, a empresa prosperará.
Então, o que está a impedir as PME em Portugal de adotar esta estratégia? A resposta, na maioria das vezes, é uma visão antiquada da gestão. Ainda existe uma crença de que felicidade e produtividade não podem coexistir. Que para ser eficiente, o trabalhador precisa de estar sob pressão constante. É uma ideia que está a sufocar o crescimento das empresas, porque a verdade é esta: colaboradores felizes são mais produtivos, criativos e leais.
O Preço Oculto de Negligenciar a Felicidade
Achamos que não apostar na felicidade não custa nada. Errado. Custa e muito. Empresas que não investem no bem-estar dos seus colaboradores enfrentam índices elevados de absentismo, rotatividade e, consequentemente, uma queda na qualidade do trabalho. Mais grave ainda, o relatório do INE de 2023 sobre a produtividade laboral em Portugal indica que as PME são as que mais sofrem com a falta de inovação e com níveis preocupantes de produtividade estagnada.
Um dado interessante do World Happiness Report destaca que, nos países mais felizes, a produtividade é mais alta, e os índices de inovação estão diretamente ligados ao bem-estar no trabalho. Os países nórdicos, campeões de felicidade, não são apenas exemplos de bons índices de qualidade de vida. Eles também lideram rankings de inovação e de crescimento económico. Continuar a ignorar a felicidade é basicamente caminhar para a irrelevância.
Como Transformar Felicidade em Crescimento Empresarial?
Já chega de ver a felicidade como uma “nice-to-have”. A felicidade no trabalho é uma ferramenta de crescimento empresarial. Ponto final. A questão é: como podemos implementá-la de forma eficaz e mensurável? Aqui ficam três ações disruptivas que podes adotar hoje mesmo para transformar a tua PME:
1. Autonomia: Liberta os Teus Colaboradores
O controlo excessivo é o inimigo da inovação. Não, não estamos a sugerir que deixes de liderar. Estamos a sugerir que dês liberdade. Autonomia significa confiar nos teus colaboradores, dar-lhes espaço para tomar decisões e serem responsáveis pelos seus resultados. Estudos demonstram que colaboradores com mais autonomia são significativamente mais felizes e produtivos.
Uma PME portuguesa, que implementou um modelo de gestão mais autónomo, registou uma queda de 35% no absentismo e um aumento de 18% na produtividade ao longo de dois anos. Isto não é um acaso. Quando deixas que as pessoas sejam donas do seu trabalho, elas tornam-se mais dedicadas.
2. Alinha a Empresa com o Propósito
Queres que os teus colaboradores deem 110%? Então ajuda-os a perceber que o trabalho deles tem significado. As novas gerações, especialmente os millennials e a geração Z, estão à procura de mais do que um salário. Querem sentir que o seu trabalho importa, que estão a contribuir para algo maior.
Definir um propósito claro e alinhar as metas individuais dos colaboradores com os objetivos da empresa cria uma sensação de pertença. As empresas com propósito claro têm 400% mais probabilidades de manter o talento de topo. No contexto português, especialmente num cenário económico desafiador, esta pode ser a chave para reduzir o turnover e construir uma cultura de sucesso.
3. Feedback Constante: E Não, Não Basta Dizer “Bom Trabalho”
Há uma regra não escrita nas PME que tem de ser quebrada: dar feedback só em avaliações formais. Esquece isso. O feedback tem de ser constante e construtivo. E mais do que elogios vagos, é preciso ser específico. Um estudo do Global Emotions Report mostra que 80% dos colaboradores preferem receber feedback contínuo e concreto.
Tens de ser honesto com os teus colaboradores. Mas mais do que apontar os erros, incentiva o crescimento. Faz com que o erro seja visto como uma oportunidade de aprendizagem, e não como um fracasso. A cultura de feedback positivo é o motor da inovação e do sucesso contínuo.
O Novo ROI: Retorno sobre a Felicidade
Se ainda precisas de mais provas, aqui vai: empresas que promovem a felicidade no local de trabalho têm uma rentabilidade até 21% superior. O INE também aponta que empresas com baixas taxas de absentismo têm uma produtividade 7% superior à média nacional. Portanto, se não estás a medir a felicidade no teu local de trabalho, estás a desperdiçar dinheiro. A felicidade é o novo ROI. E este ROI não se traduz apenas em mais dinheiro no final do ano, mas em inovação, resiliência e crescimento sustentável.
O Desafio às PME de Portugal
Se a tua empresa ainda não está a apostar na felicidade, é hora de perguntar: porquê? Medo de mudar? Preconceito? Desconfiança de que algo tão simples possa ter um impacto tão grande? Deixa-me dizer-te algo. As empresas que ignoram a felicidade estão a traçar o seu próprio fim. A tua equipa não é apenas uma linha de custos. É o motor que impulsiona a inovação, a produtividade e o sucesso.
Portanto, o que vais fazer a seguir? Vais continuar a gerir a tua empresa com as velhas regras, ignorando os benefícios claros de uma cultura de felicidade? Ou vais ser parte da revolução que coloca as pessoas no centro e garante que o sucesso não é apenas possível, mas inevitável?
Portugal tem nas suas PME o potencial para liderar uma nova era de crescimento. A felicidade não é o oposto do lucro. É o caminho para ele.