Por: Miguel Malaquias Pereira, Country Manager CI&T Portugal
A Inteligência Artificial (IA) tem ocupado o centro das atenções, trazendo consigo desafios, mas também inúmeras oportunidades.
Ao adotar a IA, as organizações podem obter diversas vantagens: melhorar a tomada de decisão, simplificar e otimizar operações e até criar novos fluxos de receita. Já estão a surgir exemplos práticos em várias áreas e setores de atividade.
Aspetos como visão estratégica, infraestrutura e ferramentas adequadas, entre vários outros, são importantes na adoção bem sucedida da IA em qualquer organização. No entanto, para se desbloquear verdadeiramente o potencial desta tecnologia, o foco deve estar no elemento mais crucial das empresas: as pessoas.
Obstáculos à “fluência em IA”
Estudos recentes mostram que uma crescente percentagem de profissionais em todo o mundo já utiliza IA generativa (GenAI) em diversas funções. Desde a obtenção de insights à análise de dados, passando pela otimização de tarefas administrativas até à automatização de processos, entre outros, a GenAI já se integra nas rotinas de muitas empresas.
Contudo, um número significativo de profissionais ainda sente que necessita de mais formação para lidar com as mudanças que a IA traz, e trará no futuro. Há também preocupações éticas e receios sobre a possível eliminação de postos de trabalho.
Superar essas lacunas e mitigar esses receios exige que as empresas e as suas lideranças tomem medidas proativas. É essencial capacitar os colaboradores, esclarecer dúvidas, fomentar o envolvimento colaborativo e motivar as equipas.
Mas como é que uma organização se torna verdadeiramente focada em IA, ou ‘AI-first’?
Desbloquear o potencial de IA: O Fator Humano
A formação em IA surge como uma das principais áreas de desenvolvimento indicadas como interessante e relevante para muitos profissionais. Lançar ou apoiar programas de certificação pode ser uma ótima solução para os capacitar em GenAI, um passo estratégico e essencial para que as empresas se mantenham competitivas. Naturalmente, como encontrar tempo para aprender enquanto se mantém a produtividade no trabalho pode ser um desafio, os líderes devem apoiar ativamente os seus colaboradores, oferecendo oportunidades tangíveis de crescimento.
Ainda assim, é necessário mais do que “apenas” competências técnicas individuais. Para uma organização ser verdadeiramente “AI-first”, é fundamental promover uma cultura de experimentação, de aprendizagem contínua e de inovação (a adoção deverá ser gradual, avaliando impactos e ajustando e expandindo a utilização de acordo com os resultados), e uma cultura colaborativa, envolvendo todos e todas as áreas, e dinamizando oportunidades frequentes de partilha de experiências. Em suma, é necessário criar um verdadeiro ecossistema de talentos e ideias, propenso à mudança, diversificado e multidisciplinar.
IA como amplificadora das capacidades humanas
Para além disso, a IA deve ser entendida como uma ferramenta que potencia as capacidades humanas, e não como uma substituta. Por exemplo, melhorando a produtividade através da automatização de tarefas repetitivas e processuais, e assim libertando tempo para que as equipas se foquem em aspetos mais criativos e estratégicos do trabalho. Também pode fornecer insights e recomendações que levem a tomadas de decisão mais informadas, fundamentadas e ágeis, em ambientes complexos e incertos.
Abordar de forma transparente as preocupações existentes e dirimi-las, deve, naturalmente, fazer parte da jornada. Não se pode, nunca, descurar a componente ética. Desde a possível parcialidade e viés dos algoritmos, às preocupações com a diversidade e inclusão e a privacidade dos dados, entre outros aspetos, navegar o panorama ético da IA exige vigilância e responsabilidade constantes. As organizações devem priorizar práticas de governança, transparência e justiça, mas também capacitar os seus colaboradores para questionarem e desafiarem o status quo de forma regular, contribuindo para a evolução saudável da implementação da IA.
O caminho para o sucesso
Para que as empresas desbloqueiem o verdadeiro potencial da IA, é essencial que a tecnologia seja implementada de forma humanizada. Ao garantir o foco nas pessoas, que as equipas estão bem preparadas, alinhadas e motivadas com o potencial da IA, e que a cultura e as práticas são as corretas e adequadas, as organizações podem maximizar a utilidade das ferramentas e da tecnologia e impulsionar um futuro cada vez mais centrado na IA.
À medida que nos aproximamos cada vez mais do limiar de uma nova era, a escolha das empresas parece cada vez mais evidente: adaptar-se e prosperar utilizando a IA como uma aliada valiosa ou arriscar-se a ficar irremediavelmente para trás. Embora esta jornada seja desafiadora, a recompensa poderá ser significativa para aqueles que forem suficientemente ousados para dela tirar partido, liderando o caminho da inovação.