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Nuno Oliveira, Diretor de Recursos Humanos da Zurich Portugal (Foto: Raquel Wise)

Os desafios do modelo de trabalho híbrido

Por: Nuno Oliveira, diretor de Recursos Humanos da Zurich em Portugal

No rescaldo de um período associado a grandes mudanças em todas as facetas da vida em sociedade, o futuro do trabalho tem sido um dos temas quentes. Flexibilidade e adaptação tornaram-se palavras de ordem nestes tempos extraordinários, à medida que assistimos ao processo de reinvenção dos modelos tradicionais de trabalho.

A possibilidade de trabalhar remotamente e a partir do conforto das suas casas, trouxe aos colaboradores um renovado equilíbrio entre as esferas profissional e pessoal e uma liberdade da qual já não abdicam, mesmo num cenário de pós-pandemia. De acordo com o estudo Workforce Protection, desenvolvido pelo Grupo Zurich em parceria com a Universidade de Oxford, é possível concluir que este equilíbrio, assim como a liberdade de poder escolher onde, quando e como trabalhar, são os elementos mais valorizados pelas novas gerações na procura de emprego, e constituem fatores decisivos à retenção de talento jovem nas empresas. Se dúvidas existissem, parece agora evidente que os formatos de trabalho à distância vieram para ficar, e se as empresas pretenderem manter a sua vantagem competitiva ao nível da atração e da retenção de talento têm mesmo que estar preparadas para esta nova realidade.

No entanto, o trabalho presencial não deverá desaparecer. É este modelo que torna possíveis os momentos de colaboração inter e intra-equipas e os momentos sociais informais entre colegas, completamente fundamentais na motivação, produtividade e bem-estar dos colaboradores.

A capacidade de conjugar as duas realidades – o remoto e o presencial – num modelo híbrido está a ser, incontornavelmente, um caminho que os colaboradores e as empresas pretendem adotar. Contudo – e como todas as grandes disrupções de que há memória – , o modelo híbrido não surge desprovido dos seus desafios e o caminho para uma transição bem-sucedida requer uma adaptação de processos e dinâmicas de interação entre e com os colaboradores.

O modelo híbrido não surge desprovido dos seus desafios e o caminho para uma transição bem-sucedida requer uma adaptação de processos e dinâmicas de interação entre e com os colaboradores.

O modelo híbrido apresenta desafios no que diz respeito à manutenção de uma cultura organizacional coesa, gestão de espaços, comunicação eficaz entre as equipas, planeamento e organização pessoal, estilos de liderança, flexibilidade e saúde mental dos colaboradores.

De facto, a resposta do teletrabalho para conter o contágio da Covid-19 enfatizou a importância de priorizar a saúde e o bem-estar, tendência que já vinha a ser trabalhada por muitas organizações. É por isso que a implementação de iniciativas com vista à promoção do equilíbrio emocional, vida saudável e satisfação dos colaboradores é, atualmente, imperativa para assegurar um ambiente de trabalho próspero, mitigando o risco de cenários como a alta rotatividade e a destabilização da produtividade das equipas.

Também os escritórios devem acompanhar esta mudança de paradigma. Apostar em espaços que privilegiam a sustentabilidade e o conforto, o trabalho colaborativo, políticas flexíveis de lugares, espaços de concentração e ainda de lazer e bem-estar são mais uma forma de promover maiores níveis de motivação, produtividade e experiências positivas.

Apesar de não existir ainda uma estratégia definitiva de adaptação à nova realidade do trabalho – que dependerá das características específicas de cada organização –, a flexibilidade e adaptação constituem princípios incontornáveis neste processo. Acredito que a chave do sucesso passa pelo adequado equilíbrio entre os formatos de trabalho presencial e virtual, conjugando a agilidade que o teletrabalho confere com o importante aspeto relacional característico do trabalho presencial, o que, em última instância, irá permitir criar condições para assegurar uma força de trabalho mais resiliente e capaz de enfrentar os desafios do futuro do trabalho.