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Evolução tecnológica tem ajudado a melhorar cuidados de saúde prestados (Foto: Unsplash)

“Quando pensamos em medicina e tecnologia o céu é o limite” – Bernardo Conde Moreira Maria

Por: Sara Fonseca

Bernardo Conde Moreira Maria, médico assistente de cirurgia de medicina geral no Hospital de Santa Maria, foi um dos oradores do evento Building The Future, que começou esta quarta-feira, e falou com a PME Magazine sobre medicina holográfica, a evolução da medicina e os impactos da Covid.19.

PME Magazine (PME Mag.) – Quais são as suas expectativas para esta edição do Building The Future?

Bernardo Conde Moreira Maria (B.C.M.M.) – É a primeira vez que participo no evento BTF, mas o painel de oradores preenchido por figuras proeminentes nas respetivas áreas deixa-me com a expectativa de que este seja um evento de enorme valor educativo e didático em temas com o maior interesse.

PME Mag. – Como é que os hologramas estão a ajudar na evolução da medicina? 

B. C. M. M. – No campo da medicina, a tecnologia holográfica está a começar a ser aplicada dentro do campo da realidade aumentada, interagindo com dados de exames de imagem de doentes obtidos previamente, possibilitando caso a caso a discussão em âmbito de Reunião Multidisciplinar. Isto permite uma verdadeira medicina personalizada, em que se constatam, por exemplo, dados como o tamanho, margens e relações de uma lesão tumoral em determinado órgão, e de seguida se estabelece o melhor plano de tratamento, dando primazia à cirurgia poupadora de órgão e de função, possibilitando uma cirurgia menos invasiva e com menor morbilidade, sem comprometer o intuito curativo.

PME Mag. – Conseguia dar alguns exemplos de sucesso do uso desta tecnologia no Centro Hospitalar de Lisboa Norte?

B. C. M. M. – A tecnologia holográfica está a ser implementada através do projeto Holocare”, uma parceria estabelecida entre a Universidade de Oslo e a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (integrada no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte), com o apoio da Microsoft: neste momento estão ser desenvolvidos projetos que vão permitir aplicar esta tecnologia a casos reais, possibilitando uma discussão multidisciplinar e multicêntrica (isto é, envolvendo até mais do que um centro hospitalar) e um planeamento terapêutico personalizado, sempre com o melhor interesse do doente em vista. Os departamentos de Cirurgia, Gastroenterologia e Imagiologia do CHULN estão a implementar um projeto que vai permitir aplicar esta tecnologia no planeamento cirúrgico de tumores do fígado – este é um passo à frente no conceito de “Cirurgia Poupadora de Órgão”, visando o tratamento cirúrgico adequado deste tipo de tumores com o melhor outcome possível em termos de função hepática pós-operatória (o que contribuirá para diminuir a taxa de complicações cirúrgicas e para preservar a qualidade de vida após a cirurgia).

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Bernardo Conde Moreira Maria, médico assistente de cirurgia de medicina geral no  Hospital de Santa Maria

PME Mag. – De que forma a Covid-19 impactou os serviços de cirugia no CHLN? 

B. C. M. M. –  A pandemia da Covid-19 trouxe profundas mudanças ao paradigma nacional e mundial e a área da saúde esteve no epicentro dessas mudanças. Por várias razões conhecidas, no período inicial da pandemia, houve um decréscimo acentuado nos números de cirurgias realizadas, sobretudo no campo da cirurgia eletiva, que foi transversal a todos os centros hospitalares nacionais, levando a um aumento de listas de espera nas várias patologias, com efeitos na morbilidade e mortalidade das mesmas claramente demonstrados. Vive-se agora uma fase de retoma, havendo uma mobilização de recursos e um esforço acrescido para se conseguir dar resposta às necessidades dos utentes do Serviço Nacional de Saúde, mesmo com algumas limitações que a atual fase da pandemia Covid-19 ainda possa colocar.

PME Mag. – Quais são os próximos passos primordiais a dar no que toca à junção da medicina e tecnologia?

B. C. M. M. – Quando pensamos em medicina e tecnologia o céu é o limite. É de enorme importância que os avanços tecnológicos conquistados nas várias áreas da Engenharia consigam ter a sua maior aplicação ao serviço da humanidade, e a saúde é uma área fulcral desta aplicação. Será extremamente interessante poder aplicar inovações como aplicações de nanotecnologia na área da Cirurgia, desenvolvendo ainda mais o já avançado conceito de “Cirurgia Minimamente Invasiva”; de igual forma, a aplicação de algoritmos de inteligência artificial com meta-análise de extensas bases de dados (Big Data) em campos como diagnóstico e planeamento terapêutico poderão vir a complementar a prática da medicina com enormes benefícios para os doentes. Deixo também a minha significativa expetativa em relação à tecnologia holográfica, que poderá levar não só a importantes avanços no conceito de medicina personalizada como poderá, através de softwares de realidade aumentada, ajudar a revolucionar a área da cirurgia no futuro.