Por: Sara Ferreira, Commercial and Marketing Manager da Multitempo by Jobandtalent
Dezembro é o momento de refletirmos sobre as tendências para 2023. Não nos aventuramos a fazer uma previsão em outras áreas, nem que tivéssemos uma bola de cristal, pois vivemos num contexto multinacional, político e macroeconómico caracterizado por uma “rigidez frágil”, ansioso, não linear e incompreensível, designado por Mundo BANI.
Mas, no que toca aos Recursos Humanos, a nossa experiência diz-nos que 2023 não será para “corações fracos” e que os profissionais desta área continuarão a ser colocados à prova. Não é de admirar que os recentes estudos chamem a nossa atenção para os riscos de burnout. Os últimos anos ensinaram-nos a pôr tudo em perspetiva e a não partir de grandes pressupostos. Colocámos em causa uma série de paradigmas. Estes tempos de mudança, ajudaram a acelerar algumas tendências que já tinham dado “o ar da sua graça”.
A forte escassez de talentos, a gestão das “sequelas” decorrentes da pandemia COVID-19, o Quiet Quitting (mais ou menos evidente), a crescente importância e transversalidade do Employer Branding, dificultam o trabalho dos profissionais de RH, no âmbito da captação, gestão, motivação e retenção de colaboradores.
Partilho, então, as cinco tendências sobre as quais acredito que estarão virados os holofotes em 2023, em matéria de RH:
1) Digitalização “Humanizada” dos processos
Vamos continuar a assistir ao desenvolvimento da digitalização da área de RH. A tecnologia é, cada vez mais, um facto incontornável nos processos associados à gestão de pessoas: gestão de assiduidade, recrutamento assente em meios digitais, entrevistas e testes utilizando plataformas online, aplicações para a gestão do engagement, formação e gestão de trabalho híbrido. You name it!
Em particular na área do recrutamento, as evoluções são tremendas. A inteligência artificial já é, neste setor, uma realidade há algum tempo.
Parecendo um contrassenso, existe também uma tendência para a conjugação entre a tecnologia e o “voltar às bases”, às Pessoas. As soluções estratégicas omnicanal continuarão a ser importantes apesar da vertente digital ter vindo para ficar, continuando a ser essencial a valorização de outros meios para a captação de candidatos, como por exemplo o word of mouth e ações presenciais de ativação.
Acreditamos também, e muito em particular no âmbito do recrutamento, em soluções estratégicas omnicanal, pois nem só de digital vive o Homem!
2)Competências digitais com posição reforçada
A transformação digital, que tem ocorrido de forma transversal em praticamente todos os setores de atividade, tem provocado alterações profundas no mundo do trabalho. Há cada vez mais um equilíbrio entre a importância das soft skills e das hard skills na gestão de pessoas, sendo que, com as digital skills, se cria aquilo a que se pode vir a designar como o “triângulo perfeito da empregabilidade”, tendência da qual não prescindiremos em 2023.
3)Mudança para uma contratação baseada em competências
Perante a necessidade de produzir resultados a curto/médio prazo, as organizações optam, preferencialmente, por contratar colaboradores com base em competências apoiadas na experiência, acabando por, às vezes, valorizá-las em detrimento do grau académico, nos critérios de contratação. Esta tendência traz desafios acrescidos na integração dos jovens no mundo do trabalho, que acabam por abraçar oportunidades de aprendizagem e integração através do trabalho temporário, programas de estágios e aprendizagem, que fornecem uma experiência relevante no desenvolvimento das suas competências.
Esta tendência materializa de forma mais “vincada” os já bem conhecidos conceitos de upskilling e reskilling, que trazem o mindset de desenvolvimento de competências e aprendizagem ao longo da vida.
4)A procura incessante pela eficiência
As constantes mudanças nos objetivos e planeamento estratégico das organizações levam à procura da relevância e competitividade. Independentemente do mercado e do setor, a procura pela eficiência por parte das organizações colocará, em 2023, um foco ainda maior no recrutamento e retenção de colaboradores, com base nas capacidades e competências que contribuem diretamente para os resultados da organização. Por outro lado, acentuar-se-á a tendência de analisar os dados acumulados pelos departamentos de RH, para ser possível uma constante otimização das equipas e dos seus resultados.
Exemplo disso é a crescente importância do People Analytics nas organizações, que traz novas ferramentas para analisar conhecimentos, competências e até comportamentos dos colaboradores, para prever cenários e planear ações que permitam a prevenção de riscos, que possam colocar em causa os resultados da organização.
5)O Employee Experience
A gestão da experiência do colaborador e o seu bem-estar integram o leque dos principais desafios atuais das organizações. Prova viva é o crescimento da oferta de formação avançada e até executiva sobre a gestão da felicidade e bem-estar organizacional.
Os colaboradores, estando cada vez mais conscientes das suas competências, desafiam as organizações na definição de estratégias com vista à sua atração, engagement e retenção, garantindo uma “harmonia” entre os colaboradores e a cultura, missão e propósito da organização.
Prevejo que, em 2023, se acentuará a tendência de se conhecer mais e melhor as preferências e motivações dos colaboradores, uma vez que, também neste campo, não há soluções one size fits all.