Quinta-feira, Dezembro 5, 2024
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“O ISEG responde a necessidades específicas das empresas” – Vítor Gonçalves

Por: Mafalda Marques

Recebeu-nos com o The Wall Street Journal na mesa. Em conversa com a PME Magazine, Vítor Gonçalves, presidente do Departamento de Gestão do ISEG, revela como a escola de gestão mais antiga do país se reinventa e aponta as principais necessidades das PME portuguesas na área da formação.

 

PME Magazine – Do ponto de vista de oferta de cursos do ISEG, a procura por parte dos executivos, ao nível das PME, está mais focada na gestão ou na economia?

Vítor Gonçalves – Não há dúvida de que o foco está na gestão, principalmente no caso das PME. A área da economia tem mais procura nas grandes empresas, licenciados e mestres em economia. O que não quer dizer que um licenciado em economia não possa depois fazer um programa, uma pós-graduação ou mestrado na área de gestão.  A formação inicial em economia não vai condicionar em absoluto que esse licenciado com formação adicional não possa trabalhar numa PME, ou numa empresa qualquer, em gestão – até porque os nossos licenciados em economia também têm cadeiras de gestão. Hoje em dia com o plano Bolonha e com as licenciaturas em economia feitas em apenas três anos e o mestrado em dois, o que acontece é que as licenciaturas – dado que têm um numero menor de disciplinas e menos tempo – estão mais concentradas no seu aspeto fundamental.

 

PME M. – A procura de cursos é transversal por parte das PME para a área de gestão? Sentem alguma procura de outros setores de atividade, como a banca?

V.G. – No que toca à formação pós-licenciatura, o ISEG tem uma oferta muito extensa. Temos cerca de 20 mestrados, 30 pós-graduações e vários programas no âmbito dos cursos executivos. Temos a frequentar à volta de três mil alunos, sem contar com as licenciaturas, obviamente. Chegam-nos aqui pessoas de vários quadrantes. Normalmente quem faz uma pós-graduação ou um programa de executivos fá-lo em regime part time, porque está a trabalhar. Noutros casos quem está a fazer mestrado está a tempo inteiro ou fez uma pausa para fazer o mestrado, ou ainda não entrou no mercado de trabalho. No entanto, aqueles que já trabalham, que correspondem a uma percentagem muito significativa, são de variadíssimos setores de atividade: banca, seguros, telecomunicações, energia…

 

PME M. – Que desafios enfrentam as PME na procura de formação?

V.G – As necessidades são enormes, principalmente de finanças para não financeiros, gestão e marketing. Muitas PME são familiares, com duas e três gerações no ativo, aparecendo-nos a geração mais nova a procurar formação específica em marketing digital para se adaptar aos tempos que correm. Ainda assistimos a ideias muito inovadoras, mas sem plano de negócio, sem consciência de viabilidade financeira. Mas temos cursos para todos, basta que queiram aprender ou reciclar.

 

PME M. – Há uma estratégia da parte do ISEG para promover diferentes ofertas para os vários tipos de público?

V.G Há. No âmbito da nossa formação, temos também formação setorial. Por exemplo temos mestrado de ciências setoriais, de matemática financeira, de contabilidade, fiscalidade, isto numa perspetiva mais funcional. São mestrados especializados funcionalmente, mas cujas disciplinas são especializadas deste mestrado, são consumidas desde início com um foco específico em matemática ou finanças etc. Seguidamente temos também programas de natureza setorial por exemplo: administração de organizações religiosas, agribusiness, management and business consulting, wine business. O curso mais recente e que agora está a ter uma enorme procura é o de marketing digital, de tal forma que não vai ser possível aceitarmos todas a candidaturas.

 

PME M. – Tiveram então o cuidado de fazer especializações setoriais.

V.G. – Desde cedo que temos programas setoriais. Por exemplo, marketing farmacêutico, gestão da distribuição e logística… Depois temos programas especializados por áreas funcionais como finanças, marketing, recursos humanos etc. Desde sempre optámos por cobrir estas duas vertentes, seja um setor de atividade ou por áreas funcionais. Obviamente que é relevante este tipo de atuação tanto para grandes empresas como para as PME, pois podem surgir PME com necessidades na área de marketing como outras vezes há necessidades de marketing mais avançado em grandes empresas. Como há empresas grandes na área da distribuição, como há PME. Muitas vezes, a existência de pessoas com experiência de trabalho e de alunos oriundos de empresas de grande dimensão, bem como de PME, é extremamente enriquecedor para a dinâmica do grupo em sala porque as realidades são diferentes, os problemas têm razões diferentes, mas as maneiras de abordar, as relações que se estabelecem são muito enriquecedoras na formação dos nossos alunos, até porque dão uma visão mais abrangente do que é a economia.

 

Formação à medida

PME M. – A realidade do mercado muitas vezes faz com que trabalhadores de grandes empresas tenham que enveredar pelo próprio negócio, seja por extinção do posto de trabalho ou despedimento, e podem começar com uma start up ou evoluir rapidamente para uma PME. Têm muitos alunos que vão procurar formação para investir no próprio negócio?

V.G. – Sem dúvida e também temos programas de empreendorismo para pessoas que queiram criar o seu próprio negócio. A constituição de nova atividade tem características específicas, mas há um conjunto de áreas funcionais que é necessário dominar. Como grande escola que somos não estamos posicionados apenas para as PME ou grandes empresas, mas sim para satisfazer as necessidades de formação das micro, das pequenas, das grandes empresas. Por outro lado, dentro da nossa atuação o que o ISEG tem é a capacidade para responder a necessidades específicas de empresas, ou seja, muitas vezes somos contactados por uma determinada empresa que deseja criar um programa de formação para determinados tipos de cargos de alta direção ou diretores de primeira linha. Nós criamos esses cursos, desenhamo-los à medida, em conjunto com a empresa, para responder a esse tipo de necessidades.

 

PME M. – Estes cursos são lecionados num ano letivo normal?

V.G. – Não, são lecionados de acordo com a necessidade da empresa. Acontece muitas vezes serem lecionados na própria empresa, outras que são lecionados aqui – deixamos isso à escolha. Aconselhamos que sejam lecionados aqui na escola para que as pessoas possam sair do seu ambiente de trabalho. Também têm acontecido situações em que uma parte é lecionada na empresa e outra nas nossas instalações. Seguindo este modelo temos grandes e médias empresas dos seguros, banca, telecomunicações, também da distribuição…

 

PME M. – A nível internacional o ISEG é reconhecido como uma escola de qualidade. Há alguma estratégia associada?

V.G. – O ISEG é a mais antiga escola de economia e gestão em Portugal. Pode-se dizer que o ISEG está na origem de todas as escolas de economia e gestão do país uma vez que foram formadas por professores que andaram nesta escola, exceto a Faculdade de Economia do Porto. Por outro lado, é a escola de economia e gestão da maior universidade portuguesa, a Universidade de Lisboa, que está no top 200 das melhores universidades do mundo. Durante bastante tempo, o ISEG não deu muita atenção à questão das acreditações internacionais, que é um problema muito típico das instituições que são conhecidas como incumbentes: as mais antigas, as maiores… Essa posição mudou e nos últimos anos a escola tem sido acreditada internacionalmente pela AMBA [n. d. r. Associação de MBA], pelo RIGS [Royal Institution Chartered Surveyors], é membro associado da AACSB [International Association. Advance Collegial School of Business] e outras certificações.

 

PME M. – Como é que uma instituição tão antiga se reinventa, mantendo a qualidade e a reputação?

V.G. – Somos uma universidade com tudo o que isso implica. Uma universidade tem que contribuir para a criação do conhecimento e tem que participar na divulgação desse conhecimento. Nós assumimo-nos como uma universidade de investigação onde essa característica é algo fundamental. Sendo nós a escola de economia e gestão em Portugal que mais investiga e publica em revistas internacionais, com um output superior a todas as outras, estamos atentos ao que se passa neste mundo e estamos atentos àquilo que pensamos serem necessidades atuais e futuras da economia portuguesa e das empresas. Por isso, lançámos já há alguns anos esta formação de executivos e formação pós-graduada e assumimos uma posição de liderança e inovação – não é por acaso que temos cerca de 50 programas pós-graduados e todos com grupos significativos de alunos. Respondemos efetivamente às necessidades das empresas e das pessoas que trabalham nas organizações.

 

PME M. – Como é que se reinventa a relação da universidade com o mercado, com as empresas, com os stakeholders ou com o Estado?

V.G. – Fazemos consultoria para instituições públicas, privadas, para o governo e para o Estado – sem qualquer conotação partidária – ao longo do tempo. Até porque desta escola saem governantes nos vários partidos políticos, principalmente porque somos uma universidade que tem uma visão abrangente. Temos pessoas com uma visão política mais de esquerda, mais de direita, mas o que é importante é a excelência do ponto de vista académico e científico.

 

Manter a ligação à escola

PME M. – O ISEG premeia não só os seus alunos pelas ideias criativas, mas também tem uma associação dinâmica de ex-alunos que, estando já a liderar outras empresas, mantêm uma relação com a universidade.

V.G. – É a maior associação de antigos alunos em Portugal. Não é uma coisa muito comum em Portugal, contrariamente ao que se vê no mundo anglosaxónico, em que os alunos mantêm uma forte ligação com a sua alma mater. Talvez por o ISEG ser a instituição mais antiga, procuramos cultivar essa ligação com os nossos antigos e atuais alunos, afinal são eles o nosso grande ativo. Posso até mudar de clube, mas se estudei aqui não posso deixar de ser antigo aluno do ISEG. Mantemos a relação com os nossos antigos alunos através de encontros frequentes, conferências, debates, há ainda o Dia do Antigo Aluno.

 

PME M. – Estimulam a criatividade e a criação de projetos novos de empreendedorismo. Nascem várias ideias que acabam por se tornar PME?

V.G.  – Estimulamos isso diretamente através de cadeiras de empreendorismo. Tanto a nível de licenciaturas, como de final de mestrados e até em programas de doutoramento que temos em parceria com universidades americanas na área do empreendorismo. Além desses cursos específicos, a questão da inovação e criatividade é muito apreciada aqui na escola até porque se dinamiza muito o trabalho aplicado, que procura que os alunos resolvam problemas concretos de empresas e que trabalhem em grupo. Temos um objetivo muito concreto que é formar do ponto de vista técnico e humano, mas estamos a formar pessoas para serem economistas e gestores competentes para ajudarem a resolver problemas reais da nossa economia e por isso têm que ter uma orientação para a prática e para a realidade organizacional.

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