Sexta-feira, Novembro 29, 2024
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“Mais do que nunca, é pedida velocidade nos processos de fabrico” – Francisco Tenente

A 3DWays, empresa portuguesa especializada em desenvolvimento e industrialização de produtos via impressão 3D, nasceu em 2016 e criou agora um portefólio de artigos facilitadores de segurança para combater a Covid-19. Francisco Tenente, managing partner da empresa com apenas 27 anos, fala sobre a história e sobre a viragem que fará com que o negócio consiga chegar a um volume de faturação de 500 mil euros até final do ano.

PME Magazine – Como nasceu a 3DWays?

Francisco Tenente – A minha mãe conta histórias de como eu lhe descrevia a minha máquina de teletransporte aos seis anos e como ia inventar um robô que aspirava a casa sozinho para ela poder descansar mais. Sempre fui um bocado idiota. Depois de terminar Engenharia Eletrónica no ISTA, aos 23 anos, o meu primeiro emprego consistia em desenvolver scripts de automação de testes de qualidade a software. Aí, tive a sorte de encontrar outro “idiota” que alinhou em desenvolver uma ventoinha automática para tendas de campismo. Íamos dominar o mercado dos festivais de verão e ajudar todos os jovens ressacados a dormir mais com uma ventoinha criada por nós que se ligava automaticamente quando a tenda começava a aquecer. Despedi-me com nove meses de trabalho, em vias de ganhar o bónus anual, subsídio de desemprego, alinhado para uma promoção… Atirei-me de cabeça para um produto em que acreditava e nunca me vou arrepender! Eu não fazia a mínima ideia de como desenvolver um produto, prototipar, testar, escalar e implementá-lo no mercado. Nesta resiliente busca do processo de desenvolvimento da ventoinha apercebi-me de duas coisas: primeiro, ter uma boa ideia não chega; segundo, o atual processo de industrialização de uma ideia é demasiado complexo.

“A minha mãe conta histórias de como eu lhe descrevia a minha máquina de teletransporte aos seis anos e como ia inventar um robô que aspirava a casa sozinho para ela poder descansar mais. Sempre fui um bocado idiota.

Decidimos então patentear a ventoinha, arrumar na gaveta e criar uma nova ferramenta de inovação que permitisse a todos os “idiotas” do mundo tornarem a sua imaginação realidade, de uma forma simples e com elevados padrões de qualidade. Começámos por ganhar muita experiência interna em desenvolvimento de produto e prototipagem rápida, acumulando mais de 3.000 produtos para mais de 30 mercados diferentes (dispositivos médicos, manutenção hoteleira, arquitetura, entre muitos outros) e mais de 500 mil horas de impressão 3D. Apercebemo-nos de que esta tecnologia é a ferramenta ideal para a prototipagem rápida e produção de pequenas e médias quantidades. Por essa razão, desenvolvemos internamente as nossas próprias impressoras 3D, sistemas de automação de várias operações destas máquinas e um software de gestão de fábricas de impressão 3D. Desenvolvemos uma forte parceria com o Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ) com o intuito de criar processos de validação de qualidade ágeis o suficiente para este novo paradigma de personalização massiva; mudámo-nos para as suas instalações e desenvolvemos um processo de elevada qualidade que nos permite, neste momento, passar de ideia a produto em três dias (o nosso recorde é de uma hora), a uma pequena produção em duas semanas e industrialização em um mês. A pedido dos nossos clientes, passámos a acompanhar a escalabilidade da produção, afirmando-nos assim como uma verdadeira ferramenta de inovação e industrialização de produtos. O racional foi simples: os produtos que ajudámos a desenvolver estavam prontos para passar para outras matérias-primas como metais, ou estavam prontos para produção em grande escala (centenas de milhares ou milhões) e se nós falamos a mesma linguagem que as empresas de fabrico tradicional, se temos uma mentalidade centrada na confiança e parceria de longo prazo, se já tivemos e temos continuamente o trabalho de conhecer as melhores fábricas para cada aplicação e os seus desafio, então conseguimos poupar muito tempo, dinheiro e dores de cabeça na passagem para outras tecnologias de fabrico. Quando precisarem de ajustes ao produto ou novas versões, sabem que todo o processo é ágil e de alta qualidade. A 3DWays que os nossos clientes e parceiros veem hoje foi criada com muita resiliência, atenção à necessidade dos nossos clientes e com o apoio de parceiros de elevadíssima qualidade. Vamos certamente continuar a aprender, evoluir, inovar e crescer por muitos mais anos pois os “idiotas” felizmente nunca vão desaparecer!


PME Mag. – Quantas pessoas empregam?

F. T. – Atualmente, somos uma equipa de seis pessoas a full-time, temos uma rede de parceiros de alta confiança nas mais diversas áreas e um processo de integração que nos permite uma agilidade enorme na resposta a qualquer desafio.

PME Mag. – Porque decidiram dedicar-se às peças de acessibilidade e segurança?

F. T. – Porque o nosso país – e o mundo! – precisa e nós temos capacidade para rapidamente colocar soluções relevantes no mercado. Somos da opinião de que, se cada cidadão fizer a sua parte, tornamo-nos todos gigantes e com um potencial enorme quer durante uma crise como a que vivemos, quer durante períodos de crescimento e prosperidade, por isso, a nossa parte podemos garantir e assim talvez motivar alguns a fazer a sua também.

PME Mag. – Têm tido muitas encomendas?

F. T. – Algumas, mas, infelizmente, não as suficientes. Sendo uma empresa de engenheiros e makers, marketing nunca foi o nosso forte. Começamos agora a perceber realmente a importância de divulgar o nosso valor e o nosso trabalho. Todas as encomendas que tivemos foram entregues com muito bom feedback, mas realmente falta-nos uma maior divulgação destes produtos e principalmente da qualidade dos nossos serviços de desenvolvimento de produto e fabricação.

PME Mag. – Qual a vossa atual capacidade diária de produção?

F. T. – Toda a nossa estrutura e processo de produção estão dimensionados para serem altamente escaláveis e descentralizados pelo que conseguimos rentabilizar produções de 100 unidades diárias como 100 mil unidades diárias, utilizando diferentes processos de fabrico e redes descentralizadas de fabrico. Temos capacidade para começar a produzir este produto ou uma adaptação do mesmo (dimensões, personalização com logótipo de marca, etc.) no próprio dia da adjudicação, 5.000 unidades na seguinte semana e escalar para séries de milhões de unidades em um mês.

PME Mag. – Isto está a impactar positivamente o vosso negócio, tendo em conta o contexto de pandemia?

F. T. – A pandemia veio validar o valor da nossa atividade e abordagem ao mercado. Mais do que nunca, é pedida velocidade nos processos de fabrico e redução da dependência dos grandes centros produtivos mundiais, valorizando a descentralização da produção e a produção próxima do mercado final. Sentimos uma clara retração do mercado e uma insegurança no investimento, mas uma vez que o nosso trabalho é reduzir custos de fabrico e otimizar os processos de fabrico dos produtos dos nossos clientes, temos tido muitas novas oportunidades e desafios.

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