Por: Ana Rita Justo
A arte da manufatura continua a acompanhar os destinos da Twintex, fábrica têxtil do Fundão com mais de 40 anos de história e que, hoje, emprega mais de 400 pessoas, mas que não deixa por isso de ser uma empresa familiar. Falámos com os irmãos e administradores Bruno e Mico Mineiro, que contaram à PME Magazine a visão para o futuro da empresa.
Tudo começou em 1979, quando António Mineiro decidiu avançar com a criação de uma fábrica têxtil no Fundão, que deu origem ao que agora é a Twintex. Segundo revela Bruno Mineiro, um dos atuais administradores e filho do fundador, era muito natural para as famílias daquela região, próxima da Covilhã – também conhecida como a “Manchester portuguesa” pela sua veia industrial – dedicarem-se ao setor têxtil. Hoje, a Twintex emprega mais de 400 pessoas e é um exemplo na manufatura têxtil de Portugal para o mundo.
“É uma herança quase geográfica. Hoje, existem muito menos empresas de lanifícios e também de confeções, mas, dada a sofisticação que temos conseguido, produz-se muito mais do que se produzia antigamente”, começa por explicar Bruno Mineiro, que herdou a administração da Twintex juntamente com o irmão, Mico Mineiro.
Se, inicialmente, a Twintex começou por fabricar para o mercado português, hoje, não há nada na produção da empresa que não seja exportado. Todos os 28 clientes da fábrica do Fundão são internacionais, marcas do segmento premium da moda e que pertencem a mercados como a Escandinávia, Países Baixos, França, Reino Unido, Estados Unidos da América, num total de 26 países diferentes.
“Há mais de 25 anos que não temos um cliente no mercado português”, sublinha.
Diariamente, da fábrica da Twintex saem entre 1200 e 1350 peças de roupa, todas destinadas à exportação. Para isso, contribuem também os dois centros logísticos da empresa: um no Porto, que serve as empresas satélite que trabalham para a Twintex na zona norte, onde é feito o controlo de qualidade das peças antes de serem expedidas; e o mais recente a cinco quilómetros da fábrica mãe, no Fundão, com cinco mil metros quadrados, e onde é possível ter até 35 mil peças penduradas antes de seguirem para exportação.
Ambiente e comunidade nos desígnios
É neste segmento premium que a Twintex quer continuar a destacar-se, razão pela qual iniciou, em 2009, uma série de medidas sociais e ambientais que a distinguem da concorrência, a começar pela redução da pegada ecológica da empresa.
“O primeiro passo foi parar de usar gasóleos ou naftas nas caldeiras de aquecimento industrial e começar a usar gás natural. Fomos dos primeiros a conseguir criar uma central de produção de energia elétrica fotovoltaica”, explica o irmão Mico Mineiro.
Nos últimos cinco anos, esta central fotovoltaica produziu mais de 300 mil quilowatts-hora de energia, permitindo uma redução de emissões de dióxido de carbono para a atmosfera de mais de 80 toneladas.
Para breve, está prevista a montagem de mais 200 painéis fotovoltaicos no centro logístico do Fundão, o edifício mais recente da empresa.
Outras iniciativas, como a separação de resíduos, comprar maquinaria com “o mínimo de produção de emissões possível e com a maior eficiência energética possível”, acrescenta Mico Mineiro, janelas com película especial contra raios ultravioleta ou o uso de tecnologia LED também acompanham o sentido de responsabilidade ecológica da Twintex.
No que respeita à responsabilidade social, anualmente, é feito o rastreio do cancro da mama a todas as funcionárias, já com resultados bastante positivos.
“Conseguimos detetar e salvar três funcionárias. A empresa esteve presente não só no rastreio, mas em todo o processo de tratamento e é um momento muito gratificante. Há coisas que o dinheiro não pode pagar e salvar vidas é uma delas”, sublinha Mico Mineiro.
Além disso, a empresa dá um cartão a todos os funcionários, através do qual estes beneficiam de descontos em diversos pontos comerciais da cidade. São, ainda, organizadas várias iniciativas no sentido de melhorar a qualidade de vida dos seus trabalhadores, como sessões de live cooking, entre outras.
Além de todas estas iniciativas, a Twintex sentiu necessidade de criar a sua própria academia, que é, hoje, um centro de formação interna e externa.
“Formamos costureiras, modelistas, funcionários nossos para mudarem de um departamento para outro. Tem sido também muito importante na definição que queremos para a fábrica e naquilo que os clientes podem esperar e encontrar quando decidem trabalhar connosco”, sublinha Mico Mineiro.
Um legado deixado pelo pai e fundador, António Mineiro, que continua a ter um papel preponderante nas decisões tomadas pela dupla de irmãos.
“O nosso pai continua a vir à fábrica todos os dias, não tem um desempenho executivo, mas continua a servir de inspiração. O facto de ser o homem com maior experiência e que fundou tudo o que aqui está continua a ser para nós um aport importantíssimo. Continuamos a seguir a linhagem dele, a pensar segundo as suas diretrizes e a tentar levar a bom porto tudo aquilo que ele criou”, refere Bruno Mineiro.
Covid-19 sem parar um único dia
A pandemia trouxe desafios acrescidos ao setor, mas a Twintex conseguiu passar pelo período de confinamento sem parar de laborar um único dia. O recurso ao lay-off simplificado só aconteceu em meados de maio, devido à falta de abastecimento de matérias-primas.
“O lay-off simplificado permitiu-nos reduzir uma hora por dia ao nosso volume de trabalho. Não parámos dia nenhum e, ao fim de uma semana, começámos a receber abastecimento e a cortar imediatamente esse regime”, revela Mico Mineiro.
Sempre atenta, a empresa conseguiu sensibilizar, logo no início do confinamento, todos os trabalhadores para o uso de máscara, mas as diretrizes iniciais contrárias da Direção-Geral da Saúde (DGS) acabaram por criar confusão nos trabalhadores.
“Conseguimos pôr toda a gente da fábrica a trabalhar de máscara a meio de março, porque eram as indicações que vinham do exterior. E a diretora-geral da saúde conseguiu, num fim de semana, dizer que a máscara não era assim tão importante e, na semana a seguir, obrigou-nos a voltar ao zero e a uma caminhada muito mais lenta”, conta.
O negócio, cujo volume rondava entre os 15 e os 20 milhões de euros por ano, sofreu quebras de 40% e as empresas satélite que também confecionam para a Twintex são atualmente cerca de oito, quando numa altura normal seriam cerca de 15.
Ainda assim, Mico Mineiro mostra-se confiante no futuro: “Temos uma equipa boa, fornecedores bons que querem continuar a trabalhar connosco e todos os nossos satélites. É um momento de apreensão, mas que não tem de tocar no nosso otimismo”.
Já Bruno Mineiro diz estar a trabalhar para criar a “fábrica de confeções do futuro” e para um novo lema dentro da empresa.
“Somos a marca das marcas e fazemos as marcas acontecer. As marcas têm todo este espetro criativo e compete-nos fazer com que isso aconteça. É esta a nossa visão de futuro.”