Segunda-feira, Novembro 25, 2024
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“Esperamos que o que nos falta alcançar seja muito mais” – Pedro Correia

Por: Marta Godinho

António Correia e Rita Moreira criaram, em 1970, a ANCOR. Hoje, juntamente com os pais, Pedro Correia, managing partner, tomou as rédeas da empresa, conhecida pelas suas grandes fábricas de produtos de papelaria e embalagem, localizadas no Norte de Portugal.

Em entrevista à PME Magazine, Pedro Correia fala um pouco sobre o percurso da empresa, os principais objetivos e barreiras do negócio, as diferentes necessidades do mercado atual, as prioridades para 2023 e os planos a longo prazo, num ano em que espera faturar 17 milhões de euros.

PME Magazine – Vivemos numa realidade onde a inflação e os preços das matérias-primas têm vindo a aumentar gradualmente. Como fazem para gerir a relação qualidade-preço?

Pedro Correia – A qualidade é, sem dúvida, um dos critérios diferenciadores da nossa oferta que estrategicamente valorizamos e queremos manter como pilar de desenvolvimento no futuro. É evidente que a atual conjuntura económica dificulta a manutenção destes níveis de qualidade com uma oferta de preço similar ao passado, mas cabe-nos a nós, enquanto organização, criar processos, melhorar a produtividade e competitividade por forma a oferecer ao consumidor a melhor relação qualidade preço do mercado. É para isto que trabalhamos e é este o nosso compromisso para com os nossos clientes. É, portanto, no que podemos melhorar internamente que está a solução para a oferta da melhor relação qualidade-preço já que os fatores exógenos, como a inflação, não podemos controlar.

PME Mag. – Esse aumento tem-se refletido numa quebra do volume de negócios?

P. C. – O nosso volume de negócios tem vindo a crescer consistentemente, tendo sido somente quebrado no ano da pandemia… Este ano será, seguramente, o nosso melhor ano de sempre em termos de volume de negócios, cerca de 17 milhões de euros.

PME Mag. Como lidam com a falta de disponibilidade de papel?

P. C. – A Ancor sempre privilegiou as suas relações com parceiros tão importantes como são os seus fornecedores. Este relacionamento torna possível um diálogo franco e aberto e com que possamos planear com alguma antecedência e segurança aquilo que é o volume fundamental de fornecimentos da nossa principal matéria-prima: o papel. É claro que no contexto atual de escassez e de inflação nem sempre é fácil conseguir ter níveis de fornecimento como gostaríamos. Os fatores de imprevisibilidade que são gerados, quer ao nível da entrega quer ao nível de preços, criam problemas de várias ordens que temos de estar aptos a resolver. A medida mais importante que tomamos neste contexto foi a de, atempadamente, aumentar os níveis de stock de segurança. Os constrangimentos que esta causou, quer em termos financeiros, quer em termos logísticos, foram mais tarde compensados pela qualidade das soluções que conseguimos dar em termos de disponibilidade aos nossos clientes.

PME Mag. – Quais são as medidas que adotam para reduzir os custos operacionais e aumentar a vossa eficiência industrial?

P. C. – A melhoria de eficiência dos nossos processos é a única forma de nos mantermos viáveis no atual contexto da indústria na Europa. Não seremos capazes de nos manter saudáveis no médio prazo se não conseguirmos tornar os nossos processos mais eficientes. Esta melhoria passa, inevitavelmente, por vários vetores de força, nomeadamente nas componentes de automatização, informatização, estruturação e formação. No fortalecimento destes pilares reside a solução para a continuidade saudável da nossa organização.

PME Mag. – Quais são os principais desafios atuais para a empresa?

P. C. – Os desafios que se deparam para os próximos tempos são, na prática, os mesmos que temos vindo a enfrentar nos últimos anos. Estamos obrigados a melhorar a nossa performance a vários níveis, nomeadamente, no que está ligado à produtividade dos vários processos, sejam estes produtivos ou não. É imperioso que no atual contexto de ameaças aos nossos produtos, quer no que diz respeito à desmaterialização de arquivo, quer ao aumento da componente digital no ensino, quer ainda à diminuição gradual do número alunos, nos mantenhamos na liderança do custo. É a única forma de nos mantermos rentáveis a médio prazo.

PME Mag. – Quais são as prioridades estipuladas para 2023?

P. C. – No atual contexto de escassez e inflação que trazem inevitavelmente um aumento de incorporação de matérias-primas no produto e em que os custos de mão de obra estão com crescimento acelerado, é fundamental compensar estes aumentos com a melhoria de eficiência global da empresa. Esta será com certeza uma das principais prioridades não só para o próximo ano como para os seguintes. Não menos prioritário e importante é a continuação da aposta na diferenciação dos produtos nas suas várias vertentes, sejam elas a sustentabilidade ambiental, o design quer ao nível gráfico quer de função, ou a criação de empatia entre o produto e o utilizador. Por último, mas não menos importante, devemos ser para os nossos clientes a garantia da maior segurança no que respeita à satisfação das suas necessidades. Nos atuais tempos de enorme incerteza, será com certeza uma grande ajuda para que possamos todos ultrapassar os tempos que se avizinham com alguma normalidade.

PME Mag. – O que é que ainda falta alcançar e como é que se posicionam em termos de negócio?

P. C. – Embora ao longo destes mais de 50 anos de existência já tenhamos alcançado muito, esperamos que o que nos falta alcançar seja muito mais. Queremos fazer evoluir a organização como um todo, desenvolver e fabricar produtos que proporcionem aos nossos clientes negócios com valor acrescentado, e que ultrapassem as melhores expectativas dos utilizadores.

PME Mag. – Quais são os planos a longo prazo?

P. C. – Estamos apostados em cada vez mais reforçar o reconhecimento das nossas marcas, nomeadamente, junto dos consumidores finais. É fundamental que os elos emocionais criados na compra sejam correspondidos na prática da utilização dos produtos. Será desta forma, tendo como veículo o próprio produto, que conseguiremos reforçar cada vez mais as nossas marcas nos mais diversos mercados onde atuamos. Desde há 15 anos que apostamos na divulgação das nossas marcas e produtos nos mais importantes certames internacionais do setor, em Nuremberga, na Insight´s X, onde já este ano participamos, depois da interrupção devida à pandemia, para apresentar os nossos novos catálogos e na Paperworld, em Frankfurt, agora incorporada na feira Ambiente 23, a realizar entre 3 e 7 de fevereiro de 2023 e onde mais uma vez estaremos presentes. Esta persistência ao longo dos anos tem gerado uma consolidação e crescimento sustentado com abertura de novos clientes e mercados, alicerçando as marcas com uma rede alargada de distribuidores.

PME Mag. – Como é trabalhar com mercados tão diferentes e com necessidades completamente distintas? Por exemplo, o mercado asiático que é evidentemente diferente do mercado europeu e/ou americano?

P. C. – A nossa abordagem normal aos mercados de exportação, indiferentemente da sua geografia, consiste na apresentação dos nossos catálogos desenvolvidos numa lógica de regresso às aulas. Apresentamos as nossas coleções “Back to Schooll” sazonais que variam completamente de ano para ano. As coleções “Back to School” permanentes que apresentam coleções com um ciclo de vida normal de três a quatro anos e, finalmente, o nosso catálogo de produtos permanentes onde são apresentados os produtos mais clássicos e consistentes ao longo do tempo, nomeadamente os mais relacionados coma componente “Office” do nosso negócio. Existem, no entanto, mercados que, pela sua especificidade, volume e importância tornam viável a criação de catálogos com gamas dedicadas, colmatando assim algumas lacunas em produtos com características locais ou regionais. Com esta abordagem vamos abrangendo com os nossos catálogos e marcas de uma forma consistente cada vez mais geografias e mercados, dando uma resposta coerente e adaptada em termos de gama a cada um deles.

PME Mag. – Sendo uma empresa fundada em 1970, sentem dificuldades em acompanhar as novas necessidades do mercado e, consequentemente, dos consumidores?

P. C. – Fizemos esta pergunta a nós mesmos há alguns anos e embora esta preocupação estivesse sempre presente, definimos nessa altura como estratégia desenvolver uma empresa dentro do grupo que, de uma forma independente e contando com quadros jovens e com uma localização distinta do nosso ambiente, fosse responsável por desenvolvimento de produto para incorporação nos nossos catálogos. Foi desta forma que conseguimos não só manter-nos atualizados, como até de alguma forma influenciar aquilo a que normalmente se chama “Moda Escolar” no que diz respeito aos produtos utilizados pelas camadas mais jovens e com tendências mais atuais.

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