Por: Ana Vieira
José Eduardo Carvalho foi reeleito, no dia 29 de fevereiro, presidente da Associação Industrial Portuguesa – Câmara de Comércio e Indústria (AIP-CCI) para liderar a maior e mais antiga associação empresarial portuguesa até 2027.
A lista candidata aos órgãos sociais, liderada por José Eduardo Carvalho na Direção, conta ainda com Pedro Ferraz da Costa na Mesa da Assembleia Geral e Mara Almeida no Conselho Fiscal. Foi eleita por 98% dos votos expressos, sendo 1% de votos nulos e 1% de votos brancos, de acordo com a Associação.
Em entrevista à PME Magazine, José Eduardo Carvalho, presidente da AIP-CCI, defende um papel mais interventivo na política económica, cabendo “às associações empresariais conceber e executar programas e ações que melhorem a produtividade e a qualidade de gestão das empresas”.
PME Magazine (PME Mag.) – No âmbito da reeleição de José Eduardo Carvalho para presidente da AIP, é referido que a Associação “assumirá um papel mais interventivo nas áreas da política económica. Como o pretendem fazer?
José Eduardo Carvalho (J. E. C.)- No modelo de associativismo empresarial atualmente vigente, compete às confederações empresariais conceber, negociar e tentar formatar a política económica e pública; e exercer o monopólio da representatividade associativa na concertação social e na intervenção pública sobre as matérias que aí são discutidas. Compete às associações empresariais conceber e executar programas e ações que melhorem a produtividade e a qualidade de gestão das empresas; e intermediar a política pública entre os organismos do Estado e as empresas, exercendo uma ação supletiva a essas organizações na execução dessas políticas e dinamizar a sua procura.
A AIP acha que o movimento associativo deve assumir uma estratégia de maior compromisso nas fases recessivas do ciclo económico, e outra de maior afirmação, exigência e confronto na defesa dos interesses empresariais, nas fases de crescimento da economia. Nem sempre isto tem ocorrido. Por isso, achamos que existe um deficit de intervenção associativa sobre alguns aspetos da política económica e pública que é necessário refletir com alguma profundidade. Prioritariamente iremos tentar fazê-lo no seio dos órgãos sociais da CIP. Depois avaliaremos se será necessário escalar a intervenção. Existe nas empresas um sentimento de desconforto com as reversões ocorridas na legislação laboral, na contradição existente entre rigidez da legislação e os efeitos da atual revolução tecnológica, sobre algumas matérias consagradas na agenda de trabalho digno e sobre a política fiscal existente. Também existem outras áreas onde é necessário ter uma intervenção mais sustentada. Refiro-me ao conflito entre crescimento económico e proteção ambiental, sobre a política de investimento em infraestruturas e ainda sobre alguns aspetos da política pública sobre capitalização e redimensionamento das empresas e o papel do Banco de Fomento.
PME Mag. – Que apoios da AIP podem as empresas portuguesas contar para a transição digital e energética?
J. E. C. – É um dos eixos estratégicos do nosso plano de atividades. Temos um portfólio de ações e projetos que vão desde a introdução de Inteligência Artificial (IA) na gestão de planeamento de produção e sistemas de computação avançado no processo produtivo; no apoio à implementação de projetos de instalação de unidades de produção de biometano. Desenvolvemos planos de formação de técnicos de hidrogénio; criamos competências internas na área das certificações energéticas; dinamizamos a constituição de UPAC’s e CER’s; vamos gerir um grande projeto de comércio digital no distrito de Lisboa; integramos consórcios para dinamizar pólos de inovação digital; e lideramos projetos de digitalização de “chão de fábrica” que é um dos nossos principais objetivos.
PME Mag. – Como é que a AIP-CCI prevê promover a capitalização e melhoria da estrutura de capitais das empresas?
J. E. C. – A insuficiência de capitais é um dos grandes problemas dos balanços das empresas. Estima-se que 25% tenham capitais próprios negativos. A política pública está dotada de recursos financeiros e instrumentos para financiar operações de reforço de capitais próprios. O programa Consolidar tem 1,1 milhões de euros e há poucas operações na fase de “closing”. Compete às associações e à AIP em particular, dinamizar a procura destes instrumentos e propor o redesenho do programa face à evidente inadequação ao tecido empresarial que temos.
Achamos também que deveria ser criado um forte programa de reestruturação financeira das empresas que conjugasse instrumentos de capital e quasi capital; ações preferenciais remíveis, capital reversível, dívida subordinada, obrigações participantes e instrumentos de titularização da dívida.
A AIP apresentou ao Ministro da Economia um programa para uma emissão grupada de obrigações, elaborado em conjunto com o BCP, que o Banco de Fomento até ao momento não se mostrou muito disponível para trabalhar e envolver-se.
PME Mag. – Que mecanismos disponibiliza a AIP para aumentar a capacidade exportadora e de internacionalização das empresas?
J. E. C. – O aumento da competitividade externa da nossa economia foi o principal sucesso da política económica dos últimos 10 anos. Política pública, empresas e associações conseguiram que o peso das exportações no PIB atingisse valores superiores a 50%. Há objetivos ainda a superar: aumentar a base exportadora do tecido empresarial; aumentar a intensidade exportadora das empresas; diversificar a exportação para mercados extracomunitários.
Para o segmento mais competitivo do tecido empresarial já se ultrapassou a fase de consolidação do crescimento das exportações e entrou-se na fase de internacionalização. Para isso, o papel do Banco de Fomento seria importante, mas não sei se a sua estratégia será essa.
A AIP-CCI conta com 118 associações empresariais filiadas e mais de 6.100 associados diretos.