Por: Mafalda Marques e Ana Vieira
Carlos Pais Correia é o cofundador e CEO da Affinity, uma empresa portuguesa de consultadoria em tecnologias de informação.
Com as celebrações dos 12 anos ainda frescas, a Affinity atingiu os 17 milhões de euros em volume de negócios, em 2023, e olha para o futuro com uma perspetiva ainda mais global.
Coach de nível 1 certificado pela International Coaching Federation, lançou dois livros dedicados a CEOs: “CEO – Manual de Sobrevivência” e “CEO da Minha Vida”.
Em entrevista à PME Magazine, Carlos Pais Correia, explica que os seus livros são uma forma de inverter uma tendência portuguesa da falta de apoio e direção quando se chega a uma posição de topo. “Foi uma forma de eu inverter um pouco essa tendência de partilhar as coisas boas e também as que não são tão boas, que de facto temos de lidar quando estamos à frente de uma organização”, explica o executivo.
PME Mag. – Como surgiu o primeiro livro, CEO Manual de Sobrevivência?
Carlos Pais Correia (C. P. C.) – O meu primeiro livro, “CEO – Manual de Sobrevivência” foi lançado no ano da covid-19, e, portanto, foi escrito para CEOs de empresas, com o propósito de ser uma espécie de um assessor ou um assistente para novos ou antigos CEOs. Sendo que eu sempre achei que em Portugal a malta não gosta de partilhar nada, fica tudo muito entrincheirado, e principalmente para as posições de topo, não há assim grande apoio que se possa ter, infelizmente.
E, portanto, foi uma forma de eu inverter um pouco essa tendência de partilhar as coisas boas e também as que não são tão boas, que de facto temos de lidar quando estamos à frente de uma organização.
“Peguei na componente técnica de gestão de uma empresa para fazer a gestão da nossa vida pessoal, como se fosse uma empresa”.
E, depois, o segundo livro, “CEO da minha vida” é uma espécie do yin e yang do primeiro. Surgiu, quatro anos após o primeiro, desde o feedback das pessoas que vieram falar comigo e falavam deste e daquele ponto, ou deste e daquele capítulo, que também conseguiam passar para a sua esfera pessoal. Foi aí que se fez luz. E, portanto, o que é que eu fiz? Peguei na componente técnica de gestão de uma empresa para fazer a gestão da nossa vida pessoal, como se fosse uma empresa. Esta é a missão do segundo. Porque, se formos a ver, há muita coisa que se cruza. Podemos ter uma estratégia corporativa, mas também podemos ter uma estratégia pessoal. Temos a gestão financeira de uma organização, mas também temos a gestão financeira, agora muito falada como literatura financeira. Podemos também falar dos recursos humanos da nossa empresa, mas também falamos dos recursos humanos da nossa vida pessoal, nem que seja a nossa rede de amigos, com quem nos casamos, com quem eu decido namorar.
Peguei também no conceito de caixa de ferramenta de gestão do primeiro livro e passei para a caixa de ferramenta de gestão da nossa vida pessoal. E depois tem uma parte mais filosófica, em que a vida também acaba por ser uma realidade complexa, onde falo sobre a cultura de emprego, a visão de emprego e como é que o emprego olha para o mundo, ligado à nossa vida pessoal.
PME Mag. – E como é que a partilha destes conhecimentos acontece dentro da empresa?
C. P. C. – Para já, os livros estão disponíveis na nossa biblioteca corporativa e como não tenho nada a ver com a vida pessoal das pessoas, eu só posso ser um instrumento de influência positiva, mas depois está na decisão de cada um avançar ou não.
Já dentro da empresa, o cenário é outro. Enfim, tenho o controle da forma como quero que as coisas sejam feitas e aconteçam. Isto tem a ver com o mundo do planeamento, definição de estratégias, comunicação interna, desenvolvimento da atividade de grupo, follow ups regulares e com alguma proximidade.
“Tentamos alavancar o melhor de cada um, acelerar os processos de integração e formação das pessoas (…)”
De facto, nós aqui na empresa temos um modelo que destoa do paradigma atual, do remoto, sendo nós uma empresa tendencialmente presencial. Tentamos alavancar o melhor de cada um, acelerar os processos de integração e formação das pessoas, e garantimos o feedback imediato, que para nós é muito importante.
PME Mag. – Dentro da empresa têm em conta os planos individuais de carreira e de progressão pessoal?
C. P. C. – Cada pessoa está dentro de uma área específica e com o perfil específico, sendo que depois tem a oportunidade de brilhar ao mais alto nível. Qualquer um pode lá chegar, aliás, eu até tenho muito na vida a trabalhar sobre isso, qualquer um pode chegar ao meu lugar, não é mesmo algo que faço questão de prender a vida toda.
PME Mag. – À frente da Affinity, o que é que lhe falta fazer?
C. P. C. – A empresa estar em velocidade cruzeiro a 100%, comigo atrás, a assistir do banco de trás. Ao ponto de todo o processo de decisão ser automático, e é possível, acredite. Isso dá-me pica.
Recentemente, mais uma empresa portuguesa de tecnologia foi vendida à Dinamarca, e é uma pena que quem decide já não está cá. Ou seja, quem sente já não vai estar em Lisboa ou no Porto, vai estar na Dinamarca, em Estocolmo, ou França, e por aí fora. Eu, como empresário, sinto alguma pontinha de tristeza. Enfim, não me tira o sono, obviamente que não, mas gostava de ver mais ambição e talento por cá.
PME Mag. – E acha que é mesmo uma questão de saturação do mercado ou as empresas para crescer têm que ter injeção internacional ou serem compradas?
C. P. C. – Eu acho é que nós temos de fazer o movimento ao contrário. Nós estamos já com o plano de ir para Espanha, porque está aqui ao lado, ir progressivamente aumentando o impacto global. Mas o nosso negócio é global, quer do ponto de vista do negócio, quer do ponto de vista da contratação. Eu tenho equipas fora a contratarem. Nós temos pessoas, de facto, nesse caso, de equipa de negócio, também a prospetar fora de portas. Quer do ponto de vista físico, à moda antiga, old school, bater à porta, quer usando ferramentas de Inteligência Artificial, tecnologias para acelerar aquele trabalho de sapa até chegar ao cliente e começar. E, portanto, o nosso lugar, hoje em dia, é cada vez mais internacional.
Eu estou a falar agora que podemos replicar este modelo em outras geografias, que depois, por sua vez, vão também fazer o seu caminho, mas sempre com uma abordagem portuguesa, de alguém que tem uma sensibilidade humana, que se calhar em outras geografias não estão assim tão viradas, e para nós é importante pois queremos passar estes exemplos, pelo menos, aos nossos filhos.
PME Mag. – Qual é o modelo de internacionalização da Affinity?
C. P. C. – Feito de Portugal para fora e de fora para Portugal. Portanto, nós angariamos operações, projetos na área da Tecnologias de Informação, na Dinamarca, por exemplo, e depois entregamos lá, com todo o trabalho a ser desenvolvido em Portugal. É entregue lá, usando a maravilha que é a cloud.
A covid também acelerou o processo de convencer empresas de fora a confiarem no nosso trabalho. Nós temos uma estrutura de centralidade a nível nacional em que as equipas podem estar divididas pelo Algarve, Porto ou Lisboa, mas todas a trabalhar para aquele projeto de Paris, por exemplo.
PME Mag. – Como é que a Affinity promove a diversidade cultural mantendo o ADN da empresa?
C. P. C. – Isso é uma das riquezas da organização e nós cultivamos a diferença. Na nossa equipa de gestão temos uma predominância feminina. Agora, fala-se muito da igualdade de salários, mas para mim é mérito puro e duro. Depois, também somos sensíveis às mães, que têm os seus filhos, e que têm uma situação a gerir diferente. Mas neste caso, e para confirmarem, o melhor será mesmo falarem com as mães da nossa empresa. Mas, de facto, um modelo de flexibilidade para garantir que conseguem conciliar os objetivos profissionais com as necessidades familiar, é o melhor.
“Na empresa, incentivamos a frequência de aulas de português a par de todo um processo formativo de aculturação (…)”
Fruto da contratação internacional nós temos imensas nacionalidades: norte de África, Egito, Marrocos, Tunísia, Brasil, Venezuela, Argentina, um ou dois espanhóis e alguns franceses. Na empresa, incentivamos a frequência de aulas de português a par de todo um processo formativo de aculturação, não só à empresa, mas também ao país. Porque alguém, por exemplo, que vem da Turquia, quando chega a Portugal pode sentir-se deslocado. E, portanto, explicamos como é que funcionamos, os modos, os costumes, etc. para eles perceberem quando há alguma fricção.
PME Mag. – E para 2025, quais são os marcos a atingir?
C. P. C. – Ser mais global, sempre mais global, queremos sempre mais e continuar a crescer. Reforçámos as equipas no Porto e este ano esperamos já começar a ver o fruto desse investimento no Norte, mas se não for possível, será a nível nacional.