Por: Ana Vieira
A startup Emissium, com raízes em Portugal e na Suíça, permite reduzir as emissões de CO₂ através de dados de eletricidade em tempo real. Assim, as empresas conseguem realizar operações quando a eletricidade tem a pegada de carbono e o preço mais baixos.
Com uma equipa de dez pessoas, a Emissium conquistou o 1º lugar no Start Summit, na Suíça, ao competir com duas mil startups, assegurando um fundo para investimento no valor de 500 mil euros.
Em entrevista à PME Magazine, Rafael Castro-Amoedo, CEO e cofundador da Emissium, sublinha que “faltava uma ferramenta que permitisse medir, em tempo real, o impacto real das suas decisões de consumo elétrico”.
PME Magazine (PME Mag.) – Como surgiu a Emissium?
Rafael Castro-Amoedo (R. C. A.) – A Emissium nasceu do meu doutoramento e do meu co-founder Alessio e da necessidade que vimos e falamos com as empresas de tornar visível um impacto invisível: as emissões associadas ao consumo de eletricidade. Embora muitas empresas já estejam comprometidas com metas de descarbonização, faltava uma ferramenta que permitisse medir, em tempo real, o impacto real das suas decisões de consumo elétrico.
“(…) conseguimos ajudar as empresas a consumir electricidade quando o preço é mais baixo”
A nossa visão é simples: transformar cada kWh consumido numa escolha consciente, guiando empresas para um uso mais inteligente e sustentável da energia elétrica. Ao mesmo tempo, como temos modelos extremamente granulares conseguimos ajudar as empresas a consumir electricidade quando o preço é mais baixo, permitindo atingir esta dualidade (win-win) de preço e emissões reduzidas. De uma forma mais resumida, vemo-nos como a Bloomberg dos dados de eletricidade.
PME Mag. – Como é que a Emissium utiliza dados em tempo real para ajudar as empresas a reduzir as emissões de CO₂ no consumo de eletricidade?
R. C. A. – A Emissium fornece dados granulares, em tempo real e a nível regional, sobre a intensidade carbónica da eletricidade — ou seja, quanta emissões de CO₂ estão associadas à energia disponível em cada momento. Com estes dados, as empresas podem ajustar o seu consumo para os períodos em que a eletricidade é mais limpa, mas também mais barata. Fazemos isso através de uma API que se integra com sistemas de gestão de energia, dashboards operacionais ou plataformas digitais, permitindo decisões automáticas e informadas.
PME Mag. – De que forma os data centers e outras indústrias intensivas em energia podem ajustar suas operações para minimizar a pegada de carbono sem comprometer a eficiência?
R. C. A. – Empresas com elevado consumo energético e com alguma flexibilidade nas suas operações, como data centers, gestores e/ou operadores de veículos elétricos e postos de carregamento, indústria em geral, podem aplicar estratégias como o carbon-aware scheduling — adaptar cargas de trabalho flexíveis para horários com menor custo e intensidade carbónica.
Com os dados da Emissium, estas operações podem ser otimizadas automaticamente, sem afetar o desempenho. A eficiência operacional mantém-se, mas a pegada ambiental diminui significativamente.
PME Mag. – Além da redução de emissões, que outros benefícios financeiros e operacionais as empresas podem obter ao otimizar o uso de eletricidade com base nos dados da Emissium?
R. C. A. – Além da descarbonização, há ganhos claros em termos de custos: em muitos mercados, os períodos de baixa intensidade carbónica coincidem com preços mais baixos da eletricidade. Ao alinhar consumo com esses momentos, as empresas reduzem faturas energéticas. Adicionalmente, ao ter um sistema de rastreio da eletricidade a cada 15 minutos, as empresas podem vir a reduzir eventuais créditos de carbono que comprem, melhorar indicadores ESG e antecipar-se a requisitos regulatórios — tudo isto reforça a sua competitividade e reputação.
PME Mag. – Quais são os principais desafios na implementação dessa abordagem e como a Emissium ajuda as empresas a superá-los?
R. C. A. – Os principais desafios são a integração com sistemas existentes, a variabilidade operacional e a resistência à mudança. Na Emissium respondemos com uma solução modular e de fácil integração, suporte técnico contínuo e uma forte componente educacional. Trabalhamos lado a lado com os nossos clientes para que as decisões de energia passem a ser também decisões estratégicas de sustentabilidade.
PME Mag. – Como vê o futuro da gestão inteligente do consumo energético?
R. C. A. – O futuro passa por tornar o consumo elétrico tão inteligente quanto a produção já está a tornar-se. Vamos assistir a uma eletricidade mais limpa, mas também mais volátil — o que exige decisões dinâmicas por parte dos consumidores. Acreditamos que a inteligência energética estará integrada em todos os sistemas operacionais das empresas, permitindo um consumo mais eficiente, resiliente e sustentável.

PME Mag. – Quais as possibilidades que se abrem com a conquista do 1º lugar no Start Summit, na Suíça?
R. C. A. – Esta conquista valida a relevância da nossa missão a nível europeu e global. O 1º lugar no Road to START Summit em Lisboa, organizado pelo START Lisbon, foi uma etapa essencial que nos preparou para a grande competição no START Summit na Suíça.
Essa jornada abriu portas a novas parcerias estratégicas, acesso a investidores com visão de impacto e oportunidades de internacionalização. Mas, acima de tudo, reforçou a nossa confiança de que estamos no caminho certo para ajudar a descarbonizar a economia digital — um passo essencial para um futuro neutro em carbono.