Por: Ana Vieira
A Geor é uma empresa global que fornece serviços de outsourcing de recursos humanos, processamento de salários, conformidade fiscal e cumprimento de regulamentos locais, para empresas que pretendem contratar remotamente noutros países.
Considerando a legislação laboral protecionista dos trabalhadores na União Europeia, cada vez mais empresas optam por contratar em países como o Brasil, Índia e Filipinas, especialmente na área das Tecnologias de Informação.
Para Sergio Artimenia, Chief Revenue Officer da Geor, a propósito da participação da empresa na Web Summit Lisboa, “os salários na área da tecnologia no Brasil são cerca de 40–50% inferiores aos de Portugal, o que o torna atraente para startups da UE. O processo de contratação é rápido, normalmente concluído em 2 a 3 semanas”. Assim, a “contratação na América Latina e Ásia tornou-se essencial para o crescimento do setor tecnológico europeu”.
PME Magazine (PME Mag.) – Quais são os principais desafios que as startups enfrentam na União Europeia em termos de leis laborais e processos de contratação? E como isso afeta a sua competitividade global, particularmente em Portugal?
Sergio Artimenia (S.A.) – As startups na UE frequentemente enfrentam processos de contratação complexos e demorados, influenciados pelas rigorosas diretrizes laborais da União e pelas regulamentações nacionais. As empresas europeias precisam cumprir a Diretiva de Tempo de Trabalho, que limita horas semanais e exige períodos de descanso, enquanto as leis de igualdade, assédio e licenças parentais acrescentam camadas de conformidade.
Embora Portugal seja relativamente mais flexível que a França ou a Itália, ainda impõe requisitos específicos, como registos detalhados dos colaboradores, análises de disparidade salarial por género, e condições rígidas nos tipos de contrato e benefícios. Além disso, os empregadores devem guardar documentação por até cinco anos, aumentando a carga administrativa e o risco de não conformidade.
“Em Portugal, as startups enfrentam obrigações consideráveis com indemnizações por despedimento (…)”
As implicações financeiras também são significativas. Em Portugal, as startups enfrentam obrigações consideráveis com indemnizações por despedimento — até três meses de salário, dependendo do tempo de serviço do colaborador. Os custos adicionais com contribuições obrigatórias à segurança social e benefícios, até mesmo em contratos de curta duração, sobrecarregam startups com orçamentos limitados.
Além disso, a obtenção de autorizações de trabalho para talento não europeu pode demorar até três meses na Alemanha e Espanha, e em Portugal, o processo para integrar um novo colaborador, especialmente não europeu, pode ser desafiante. Estes fatores, embora protetivos, atrasam a contratação e dificultam o crescimento das startups sediadas na UE, dificultando competir com empresas de regiões menos regulamentadas, onde a contratação é mais rápida e os custos de trabalho são menores.
PME Mag. – Tendo em conta os desafios, como é que a contratação de talentos na América Latina e Ásia, regiões com legislação laboral mais flexível, oferece uma vantagem às startups europeias? Quais são as competências mais procuradas nessas regiões?
S. A. – Em Portugal, os custos de contratação em tecnologia variam conforme a posição, mas geralmente são mais acessíveis do que em outros países da Europa Ocidental. O salário anual médio para profissionais de TI de nível médio ronda entre 35.000 € e, com cargos séniores podendo chegar a 60.000 € ou mais.
Além disso, as empresas devem cobrir benefícios obrigatórios, como segurança social (23,75%), e outros incentivos, como subsídio de refeição e seguro de saúde. Com todas as contribuições, o custo total de emprego pode superar o salário bruto em 30 a 40%. O tempo de contratação em Portugal é de aproximadamente 4 a 6 semanas, dependendo da especialização da vaga e da procura do mercado.
“Os salários na área da tecnologia no Brasil são cerca de 40–50% inferiores aos de Portugal (…)”
Na América Latina, o Brasil, por exemplo, oferece um processo mais simplificado, permitindo que empresas contratem programadores competentes a custos mais baixos e com prazos mais rápidos do que na Europa. Os salários na área da tecnologia no Brasil são cerca de 40–50% inferiores aos de Portugal, o que o torna atraente para startups da UE. O processo de contratação é rápido, normalmente concluído em 2 a 3 semanas, especialmente ao recrutar programadores experientes em sistemas “backend”, análise de dados e tecnologia em nuvem.
A Ásia oferece ainda mais economia, especialmente em países como Índia e Filipinas, onde os salários ficam aproximadamente 30–60% abaixo dos níveis da UE. A linha de contratação em TI é eficiente, geralmente entre 2-4 semanas, com processos de recrutamento simplificados. Esses países têm pools de talento especializados em IA, desenvolvimento de “software” e atendimento ao cliente a preços muito competitivos. Para startups europeias, tanto a América Latina quanto a Ásia oferecem vantagens de custos e eficiência no recrutamento, sem comprometer a qualidade.
PME Mag. – Como é que a Geor transforma o processo de contratação para startups portuguesas que enfrentam esses obstáculos regulatórios?
S. A. – A Geor elimina essencialmente o fardo regulatório para startups, atuando como uma Employer of Record (EOR), ou seja, nós gerimos todas as obrigações de conformidade, folha de pagamento e contratos nos países onde os nossos clientes precisam contratar talento.
“Oferecemos um único ponto de contacto para aquisição e gestão de talentos”
A plataforma simplifica a contratação de especialistas, centralizando tarefas administrativas e proporcionando acesso a um pool global de profissionais qualificados. Oferecemos um único ponto de contacto para aquisição e gestão de talentos, cuidando de tudo. Assim, se uma startup em Lisboa quiser contratar um programador no Brasil, não precisa se preocupar em estabelecer uma entidade legal lá ou em entender as leis laborais brasileiras. Cuidamos de tudo, desde contratos de trabalho até conformidade fiscal, tornando o processo muito mais fácil para a startup.
PME Mag. – Quais são os benefícios de utilizar os serviços da GEOR em comparação com o modelo de contratação direta?
S. A. – As principais vantagens de utilizar a Geor em vez do modelo de contratação tradicional são a rapidez e a redução de custos, sem dúvida.
Configurar uma contratação direta internacionalmente geralmente envolve registar uma entidade legal, entender as regulamentações fiscais locais e assegurar a conformidade tanto com as leis trabalhistas portuguesas quanto estrangeiras. A contratação tradicional por canais diretos exige verificações de conformidade e o estabelecimento de sistemas locais de folha de pagamento. Esse processo pode levar de 2 a 4 meses, no melhor cenário.
Em contraste, o nosso serviço de EOR reduz esse tempo em até 80%. A integração de novos colaboradores pode ser realizada em 1-2 semanas, uma vez que temos inúmeros talentos internacionais pré-selecionados e altamente qualificados. Gerimos todo o ciclo de emprego, desde contratos até a folha de pagamento mensal.
“Nos mercados da América Latina e Ásia, os contratos são mais flexíveis e as leis laborais geralmente favorecem trabalho de curto prazo (…)”
O custo também é um fator importante. A contratação direta implica em contratos de longo prazo, especialmente em países com proteções fortes aos trabalhadores. Nos mercados da América Latina e Ásia, os contratos são mais flexíveis e as leis laborais geralmente favorecem trabalho de curto prazo ou por projeto, reduzindo o risco financeiro para startups.
Além disso, ao considerar o custo de estabelecer uma entidade legal no exterior, que pode custar milhares de euros, usar uma EOR como a GEOR é muito mais acessível. Oferecemos uma taxa mensal fixa por colaborador, que inclui folha de pagamento, conformidade e suporte de RH, facilitando para startups prever e gerir os seus custos de contratação.
PME Mag. – Como é que a Geor ajuda startups a cumprir prazos de projeto ao integrar talentos rapidamente? Pode partilhar exemplos de startups que se beneficiaram desta abordagem?
S. A. – Sem dúvida. Um dos nossos clientes, uma startup de tecnologia portuguesa que desenvolve aplicações de IA, precisava contratar cientistas de dados urgentemente para cumprir prazos de desenvolvimento. Eles inicialmente consideraram contratar diretamente em Portugal, mas o tempo necessário para as autorizações de trabalho e os custos elevados os levaram a explorar a contratação na Índia através da GEOR.
Ao trabalhar connosco, conseguiram integrar três especialistas em análise de dados em apenas dez dias, em contraste com os dois a três meses estimados pelos canais tradicionais. Esse rápido recrutamento permitiu-lhes cumprir um marco crítico de produto e garantir financiamento adicional. Os fundadores destacaram como a rapidez e simplicidade da GEOR em gerir conformidade e folha de pagamento proporcionaram-lhes uma vantagem competitiva significativa. É esse tipo de resultado que buscamos, permitir que startups mantenham o ritmo dos seus objetivos sem se perder em obstáculos administrativos.