Por: Sara Fonseca e João Monteiro
CEO da Ericsson em Portugal desde julho do ano passado, Sofia Vaz Pires é a voz da liderança desta tecnológica e da mudança que quer operar no mercado português, vendo neste mercado uma oportunidade para as empresas de apresentarem projetos cada vez mais inovadores. Em entrevista à PME Magazine, a responsável pela Ericsson em Portugal contou um pouco mais sobre os planos da empresa para o país e deixou ainda alguns conselhos para as mulheres que queiram assumir cargos de liderança.
PME Magazine (PME Mag.) – Qual a importância do mercado português para o grupo Ericsson?
Sofia Vaz Pires (S. V. P.) – O que verificamos é que Portugal é um país competitivo e atrativo para o investimento externo, em especial no setor das TI. É, também, reconhecido pelo seu desenvolvimento tecnológico e interesse transversal da população por matérias de cariz digital. Embora não tenhamos uma massa crítica nacional especialmente vasta, o mercado nacional tem um potencial extraordinário. Não é por acaso que a nível global somos vistos como incubadora, tanto de startups tecnológicas, como plataforma de teste de conceitos inovadores para multinacionais, capaz de formar vasto número de talentos de superior qualidade académica. Na verdade, o grande desafio é mesmo, numa primeira fase, atrair talento e, numa fase distinta, reter esse talento no mercado local de trabalho, para, dessa forma, trazer ganhos acrescidos à economia nacional. Neste sentido, consideramos que o nosso papel passa por oferecer condições favoráveis para proporcionar a atração e retenção de talento na Ericsson Portugal, bem como para posicionar o nosso país como uma referência a nível tecnológico através de atividades com impacto direto no mercado nacional ou noutras geografias, a partir de talento sediado em Portugal.
PME Mag. – O setor da tecnologia ainda é daqueles que não tem tantas mulheres. Qual a política da Ericsson Portugal no que toca à igualdade de oportunidades?
S. V. P. – A Ericsson gosta de reter todos os seus talentos, não apenas o talento feminino. Mas, e se falar apenas nas mulheres, estamos a avançar com inúmeras parcerias, com o objetivo de mitigar esse problema, que infelizmente ainda se verifica no setor. E quero destacar o trabalho desenvolvido em conjunto com a Associação Portuguesa para a Diversidade e Inclusão. Nesse sentido, participámos no “1.º Encontro Aliança para a Igualdade nas TIC”, uma iniciativa conjunta entre a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género e a Associação Portuguesa para a Diversidade e Inclusão. Assinámos, também, uma carta de compromisso que pretende contribuir de forma concreta e sistemática para a promoção da inclusão digital das mulheres e a sua participação nas engenharias e nas tecnologias. Participámos, ainda, na quinta edição do programa “Engenheiras por um dia”, que visou promover a opção pelas engenharias e pelas tecnologias junto das jovens estudantes dos ensinos básico e secundário. Quisemos, com isso, desconstruir a narrativa que associa estes temas apenas ao domínio masculino. Este é um estereótipo que urge combater. E, se se confirmarem as indicações positivas relativas ao fim de pandemia, esperamos voltar às comunidades e escolas de ensino secundário, no sentido de promover as profissões junto das jovens mulheres. Mas há muito por onde crescer. Veja-se um estudo da UNESCO, que reconhece que até 2025 a Europa terá sete milhões de novos empregos vocacionados para a componente de engenharia e tecnologia, sem que haja talento suficiente para suprir necessidade. A solução passa por potenciar muito mais mulheres licenciadas em TIC, que contrarie os parcos 3% que se verificam atualmente.
PME Mag. – Que conselho daria às jovens mulheres que queiram atingir posições de liderança?
S. V. P. – Aproveitem todas as experiências académicas, desfrutem do vosso percurso de vida, mantendo o foco naquilo que sejam os vossos objetivos e ambições. Ao longo da minha vida senti que, quanto mais difíceis, mais enriquecedores se tornam os desafios, e que cada desafio tornou-se numa oportunidade. Assim, sejam ousadas, curiosas e entusiastas. E estejam cientes de que vão encontrar inúmeros obstáculos, cuja superação vos tornará mais fortes e capazes.
PME Mag. – O que a atrai mais na posição que ocupa?
S. V. P. – A oportunidade de contribuir para que a Ericsson mantenha a posição de liderança e referência no mercado das telecomunicações. Quero aportar ainda maior valor ao nosso negócio, em estreita articulação com os nossos colaboradores e parceiros. Este é um desafio para o qual quero trazer algo de diferenciador, com base na minha experiência profissional de outros mercado, empresas, múltiplas funções e personalidade. Sei bem que terei a meu cargo equipas altamente especializadas e competentes. Dessa forma, acredito que tudo flua de forma muito positiva.
PME Mag. – Trabalhou em vários mercados como, Espanha, Reino Unido, América Latina, entre os anos de 2011 e 2020. Quais as experiências mais enriquecedoras na sua carreira profissional e que ainda hoje a guiam?
S. V. P. – Tenho uma experiência profissional que me levou a vários continentes. Tal resultou num contacto com as mais diversas culturas e dinâmicas, que me permitiu desenvolver uma capacidade para gerir múltiplos desafios associados a funções tão diversas, como vendas, estratégia, operações, parcerias ou gestão de portefólio. Por exemplo, na BT exerci cargos de desenvolvimento de negócio na conquista de novos clientes, definição de estratégia e liderança de operações na abertura de novos mercados, além do lançamento de novos produtos na Europa, América do Sul e a nível mundial. Antes de regressar a Portugal, tive na Ricoh um duplo cargo executivo, com responsabilidade por todo o departamento de vendas internacionais da EMEA, para além de liderar a nível mundial áreas tão transversais como a unidade de estratégia, marketing, parcerias e consultoria de vendas, para o crescimento de contas globais com novos produtos e serviços IT. Tudo isto resultou numa crescente capacidade de adaptação a novas situações e desafios, com naturais resultados no desempenho das equipas e do negócio.
PME Mag. – O que a levou a voltar a Portugal?
S. V. P. – Desde logo, a possibilidade de estar mais perto da família. Senti, também, que poderia contribuir para o desenvolvimento do setor tecnológico em Portugal. Como já referi, embora de pequena dimensão, encontramos aqui um excelente incubador, até pelo perfil do consumidor final, vocacionado para a adoção de novas tecnologias. Vejo também uma capacidade das empresas de tecnologia em apresentar propostas inovadoras e com benefício associado. Esta forma de Portugal apresentar-se no mercado global entusiasma-me, pelo que pretendo ter um papel num futuro que está já a chegar a todos nós.
“Senti que poderia contribuir para o desenvolvimento do setor tecnológico em Portugal. Como já referi, embora de pequena dimensão, encontramos aqui um excelente incubador, até pelo perfil do consumidor final, vocacionado para a adoção de novas tecnologias.”
PME Mag. – Quais os principais desafios que a Ericsson Portugal enfrenta atualmente?
S. V. P. – A Ericsson quer transportar para Portugal a sua posição de liderança global no desenvolvimento e implementação da tecnologia 5G, crucial para a estratégia nacional de Transformação Digital. Numa economia global e integrada, é fundamental adotar os conceitos tecnológicos mais inovadores. Assim, queremos posicionar-nos em projetos diferenciadores que coloquem o país na vanguarda digital. Sabemos qual a nossa posição, com cada vez mais redes 5G ativas, patentes, acordos e contratos comerciais na área do 5G. E em Portugal não deixaremos de desenvolver um grande esforço por demonstrar a bondade das nossas propostas e serviços, junto de todos os agentes económicos e sociais.
PME Mag. – A Ericsson encontra-se bem colocada no mercado no que toca ao 5G. Qual o impacto que isso terá na operação em Portugal?
S. V. P. – A Ericsson está há muito tempo pronta para fornecer tecnologia 5G em território nacional. Assumimos um total compromisso com Portugal e o seu desenvolvimento económico e tecnológico. Há quase 70 anos de forma interrupta em Portugal, não vemos esta operação numa perspetiva estritamente comercial, mas antes de uma forma mais estrutural, que não se iniciou com o desenvolvimento do 5G e não terminará com a sua implementação. No final de 2019 desenvolvemos um estudo, ainda perfeitamente atual, que aponta para um impacto adicional de 3,6 mil milhões de euros na economia portuguesa até 2030, no âmbito da indústria das tecnologias de informação e comunicação em Portugal. Outros trabalhos indicam uma criação de valor económico do 5G para Portugal que aumentará exponencialmente a médio-longo prazo, mais concretamente, 17 mil milhões de euros até 2035, e a beneficiar transversalmente a economia nacional. Acompanhámos a transformação de Portugal para um país competitivo, capaz de atrair investimento externo. Vamos continuar a partilhar o nosso know how no desenvolvimento social e económico do país, neste momento com a implementação do 5G.
PME Mag. – Quais são os planos para o futuro da Ericsson?
S. V. P. – Os nossos planos são muito simples, queremos continuar a ser a empresa líder tecnológica à escala global, com cabal compromisso junto de clientes e parceiros, através das melhores ofertas de serviços. Basta verificar os números atuais e a forma global como a Ericsson está a expandir o negócio para percebermos que somos o fornecedor por excelência de soluções tecnológicas. Por exemplo, somos líderes globais, com 170 acordos e contratos comerciais na área do 5G, junto de operadores de telecomunicações dos cinco continentes, já com 114 redes 5G ativas, estando 64 delas representadas na Europa. E ao nível de I&D, encontramo-nos na liderança nas patentes de soluções de 5G, com cerca de 15,8% do total.
PME Mag. – Que resultados esperam alcançar este ano em Portugal em termos de faturação?
S. V. P. – Somos uma empresa cotada em Bolsa, com exigências junto de acionistas, os quais serão os primeiros a ter acesso a essa informação. A seu tempo, os números globais das operações desenvolvidas pela Ericsson serão devidamente divulgados.