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ATOMO Capital Partners
Miguel Subtil, managing director da ÁTOMO Capital Partners (Fonte: Divulgação)

“A transição energética tem custos, mas está associada a enormes oportunidades” – Miguel Subtil

Por: Filipa Ribeiro

A Átomo Capital Partners tornou-se num player de relevo no setor da energia renovável e da sustentabilidade. Nasceu com a ambição de contribuir para a descarbonização da economia e é hoje uma empresa constituída por uma equipa multidisciplinar que auxilia em todo o processo de desenvolvimento até à fase ready to build.

Miguel Subtil, managing director da ÁTOMO Capital Partners, em entrevista à PME Magazine, conta quais os projetos que a empresa tem implementado e de que modo estes podem ajudar as PME em Portugal.

PME Magazine (PME Mag.) – Com que objetivo foi criada a ÁTOMO Capital Partners?

Miguel Subtil (M.S.) – Foi criada com o objetivo de ser parte ativa no processo de transição energética e do desenvolvimento sustentável. As empresas têm de ter um propósito, um desígnio. Acreditamos que não tem de haver um trade-off entre ter um impacto positivo na sociedade versus retorno financeiro. O maior desafio que temos enquanto comunidade global é perceber como conseguiremos continuar a melhorar as nossas condições de vida, num planeta com recursos finitos, uma população global em crescimento acelerado e em emergência climática. Estava encontrado o nosso propósito, a nossa missão, que materializamos em quatro áreas de negócio – Utility Scale (Grandes projetos de produção de energia), Energy as a Service (dedicado ao autoconsumo e comunidades de energia), Electric Mobility e Real Estate Sustainability.

PME Mag. – Quais os projetos que têm implementado e que investimentos têm feito relativamente ao setor da energia renovável e da sustentabilidade?

M.S. – Os grandes projetos de produção de energia renovável de grande escala (Utility Scale), que desenvolvemos com investidores e produtores independentes de energia (IPP) são os mais representativos pela sua dimensão. Esta área continua a ser, por enquanto, a que tem maior peso no nosso volume de negócios, desde logo, porque foi a que iniciamos primeiro, antes dos primeiros leilões solares de 2019, e a que teve nos anos subsequentes enorme desenvolvimento. Atuamos como developers destes grandes projetos (solares, eólicos, híbridos e hidrogénio), integrando todos os serviços necessários até à fase ready to build (RtB), lidando e negociando com todas as entidades necessárias e obtendo todas as licenças.

Por outro lado, este mercado está atualmente numa fase em que as oportunidades de acesso à rede elétrica são mais escassas, potenciando operações de M&A. Temos também sido muito procurados para apoiar nestes processos, nomeadamente com a realização de DD Técnicas, Ambientais e de Licenciamento. Para além destes, apostamos muito na área de autoconsumo e comunidades de energia. É fundamental que a produção descentralizada de eletricidade seja massificada, mesmo sem o investimento por parte dos clientes que pode ficar a nosso cargo. Utilizar ao máximo o potencial solar junto dos locais de consumo, com valores de tarifa muito competitivo e com ganhos muito significativos para os nossos clientes contribui para a eletrificação da economia, mas também para o aumento da competitividade das empresas portuguesas.

PME Mag. – Porquê apostar também na mobilidade elétrica e em novas tecnologias?

M.S. – Na área de mobilidade elétrica estamos a lançar a operação. Somos operadores de Posto de Carregamento (OPC) e estamos numa fase em que assistimos a um fenómeno acelerado de adoção de veículos elétricos por parte da população. As estimativas variam, mas prevê-se que em média, em Portugal, cerca de 30-40% dos novos veículos registados em 2030 sejam elétricos. Isto é uma enorme revolução. Mudamos completamente a forma como utilizamos os nossos veículos e como os dotamos de energia para circular, mudamos os nossos hábitos e temos de adaptar a infraestrutura para fazer face a esta nova realidade. Muitos postos de carregamento terão de ser instalados para fazer face a este crescimento de veículos elétricos e o carregamento público terá um papel fundamental, já que com a massificação prevista nem todos terão a possibilidade de carregar o VE em casa ou no escritório.

Estamos neste momento a negociar com investidores para escalarmos rapidamente o negócio e, por outro lado, com proprietários, investidores imobiliários, promotores e entidades públicas no sentido de obtermos um pipe-line de localizações que potencie o crescimento que projetamos. Estamos ainda muito atentos a novas tecnologias na área de storage. Conseguir armazenar de forma eficiente é fundamental para a estabilidade do sistema elétrico e existem muitas tecnologias em fase de teste que nos interessa aprofundar.

PME Mag. – De que modo a ÁTOMO Capital Partners apoia as PME em Portugal?

M.S. – Este é um ponto crucial da nossa estratégia, central naquele que é o nosso propósito de contribuir para a descarbonização da economia, aumentando a competitividade das empresas. Os custos com a energia e a adaptação a um novo paradigma energético é essencial para que as PME encarem de forma mais competitiva os desafios do futuro. Atualmente, a produção de energia com recurso a tecnologia solar, por exemplo, é a forma mais barata de se obter a eletricidade necessária para a operação das empresas. É uma oportunidade única podermos antecipar uma transição que veio para ficar e começar a reduzir custos o mais cedo possível. Claro que muitas vezes a gestão financeira das empresas está direcionada para a sua atividade core, havendo pouca disponibilidade para investir em soluções renováveis, mesmo que com retorno financeiro. Nestes casos, o investimento pode ficar também por nossa conta, usufruindo as empresas do benefício, sem custos de investimento.

O que fazemos é conceber a solução de acordo com as necessidades das empresas, implementando, construindo e operando as centrais sem qualquer custo de investimento para os nossos clientes, que terão o benefício de redução dos custos com energia, contribuindo também eles para a descarbonização da economia. Por outro lado, é ainda possível conceber comunidades de energia com o alargamento destes benefícios a outras empresas e entidades próximas, otimizando o dimensionamento destes sistemas. A Átomo posiciona-se como um parceiro fundamental para o aumento da competitividade das PME sem que estas tenham de procurar apoios ou subsídios que sempre tardam, atrasando as decisões, com evidentes custos de oportunidade.

PME Mag. – Qual o balanço dos três anos de atividade da empresa?

M.S. – Fazemos um balanço muito positivo. Desenvolvemos mais de 900MW de projetos, o que corresponderá a cerca de 600 milhões de euros de investimento associado. É claro que o DNA ambicioso e desinstalado da empresa nunca permite que estejamos satisfeitos, nem mesmo quando se supera largamente os objetivos. Tem corrido muito bem e o posicionamento da empresa tem-se revelado adequado ao momento de transição climática que vivemos. A incerteza gera sempre oportunidades, mas o importante é deter o conhecimento necessário para as conseguir aproveitar e fazer com que os nossos clientes e parceiros ganhem com isso. Estamos em tempo de transição e muitos paradigmas estão a mudar, o que gera riscos que muitos não consideraram e outros não esperavam ter de incorporar. Parece-nos, neste contexto, que o imobilismo é bem mais arriscado do que estruturar de forma adequada esta mudança. A transição energética e climática tem custos, claro, mas que estão associados a enormes oportunidades. Nesse sentido, queremos sempre mais e procuraremos aproveitá-las bem.

PME Mag. – A internacionalização passa pelas perspetivas de futuro da ÁTOMO?

M.S. – Sim, claramente! Este é um momento de transição global, com desafios e oportunidades idênticas em todos os países. Acompanhamos de perto, quer o desenvolvimento tecnológico, quer as mudanças regulatórias globais, o que, com a experiência e capacidade que temos, nos coloca em excelente posição neste setor em diversas geografias.