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Manuel Pizarro, diretor geral ZØR
Manuel Pizarro, diretor geral da ZØR (Foto: Divulgação)

“Acredito que a informação é chave para tomar decisões responsáveis” – Manuel Pizarro

Por: Rafaela Silva

Há 20 anos no mercado, a empresa portuguesa ZØR tem-se distinguido pelas suas constantes soluções tecnológicas de cadeia térmica para os setores alimentar, saúde e farmacêutico. É através das soluções que desenvolve e os serviços de consultoria que oferece que a ZØR tem a capacidade para apoiar organizações nos processos de distribuição, armazenamento e exportação.

Manuel Pizarro, diretor geral da ZØR, explica em entrevista à PME Magazine como é que a empresa tem desenvolvido soluções sustentáveis e como é que se chama a atenção dos clientes para a questão da sustentabilidade nas empresas de logística. Ao mesmo tempo, o diretor geral faz uma retrospetiva dos últimos anos e uma previsão sobre projetos futuros.

PME Magazine (PME Mag.) – Como surgiu a ZØR? Como analisa o trabalho desenvolvido nos últimos anos?

Manuel Pizarro (M. P.) – A ZØR nasce com a preocupação de desenvolver inovação e soluções integradas com princípios que são desejados pelos consumidores, versus resolver de forma isolada uma determinada necessidade ou ponto crítico. Isto significa que olhamos para o problema ou necessidade que o cliente tem e o resolvemos com soluções que vão além da necessidade imediata, mas que incorporam uma visão de longo prazo e de sustentabilidade da solução proposta. O mundo encontra-se em grande mudança, quer a nível dos consumidores quer no que diz respeito à indústria que desenvolve soluções. E, muitas vezes, a preocupação tem sido a de conseguir o máximo de resultados prioritários para o momento, sem considerar o forte impacto que terão. Na ZØR, gostamos de ter uma visão para o futuro, resolvendo o presente. Consideramos que é necessário transitar de análises focadas apenas nos custos por solução, sem ter em conta o custo global, o impacto no planeta, os custos sociais de ter produções longínquas, os riscos de não ter a indústria e a logística próxima. É este caminho de mudança que temos estado a fazer nos últimos anos e que queremos transmitir de forma vincada também com a mudança da nossa marca, em Junho de 2021, de APP Thermal Chain Innovation para ZØR – uma empresa com uma nova energia e nova mentalidade.

PME Mag. – A ZØR baseia a sua atividade no desenvolvimento de inovação e soluções para a cadeia térmica com base numa abordagem sustentável. Como é que a vossa empresa promove e aplica soluções sustentáveis junto dos clientes?

M. P. – A ZØR sempre teve como driver a sustentabilidade e a máxima reutilização das soluções sem afetar a performance. Percebemos que se não mudarmos a forma como produzimos e utilizamos materiais como o plástico, em 2050 haverá mais plástico que peixes no oceano. As soluções ZØR procuram reduzir a utilização de plástico, por exemplo, incentivando a reciclagem e uma maior reutilização de materiais. Sempre que possível, as nossas soluções têm sido desenvolvidas e implementadas de forma a permitir a economia circular, contribuindo assim para a redução da poluição e especialmente dos materiais de uso único. O ideal seria consumirmos menos, mas o mundo não está ainda preparado para isso. Com o crescimento da população mundial, empresas como a nossa têm de fazer com que os seus princípios sejam reais e aplicáveis. Temos de ter (e temos) uma missão que corresponde no futuro a uma maior sustentabilidade. Temos de contribuir para que todos nós sejamos responsáveis, tal como temos vindo a fazer, porque só se todos formos responsáveis e responsabilizados é que vamos conseguir deixar para as gerações futuras, para os nossos descendentes, o planeta que eles tanto merecem.

“Olhamos para o problema ou necessidade que o cliente tem e resolvemo-lo com soluções que vão além da necessidade imediata, mas que incorporam uma visão de longo prazo e de sustentabilidade da solução proposta.”

PME Mag. – Tendo em conta a conjuntura pandémica e todos os desafios que acompanharam, como é que a ZØR conseguiu responder às questões ambientais? Que mudanças ou adaptações foram feitas?

M. P. – Na muito forte ligação da ZØR à logística, seja ela de last mile ou de long mile, estamos comprometidos com o desenvolvimento de soluções que permitam uma boa experiência para os nossos clientes, de forma a que os consigamos fidelizar. À preocupação com a satisfação do cliente, acrescentamos a nossa preocupação com o ambiente e o planeta, e acredito que esta combinação tem sido uma das razões para o sucesso que temos. Os nossos comportamentos têm de corresponder aos princípios e às tendências atuais numa perspetiva de inovação, por isso temos parcerias com universidades e centros de inovação, para nos permitir construir o nosso caminho. Não fornecemos apenas produtos, estabelecemos relações de compromisso. Para dar um exemplo, para além da ZØR criámos também a “ZØR Mor” possibilitando-nos trabalhar, para além da cadeia térmica, a minimização de riscos microbiológicos, e a otimização da prevenção, segurança e interação. Como fazemos isto? Procuramos criar em cada fornecimento um programa onde todas estas ações se encontram já materializadas e quantificadas de forma que a experiência dos nossos clientes seja cada vez mais confortante. Esta nova forma de abordar os desafios que nos apresentam tem tido uma quase total aceitação dos nossos clientes, e a agregação destes resultados da ZØR Mor cria cada vez mais relações responsáveis e de partilha de objetivos.

PME Mag. – Em que medida o e-commerce veio ajudar o negócio? Houve mais procura, cresceu durante o período de confinamento?

M. P. – A nossa empresa tem mais de 20 anos, pelo que ajudou a desenvolver, em conjunto com os grandes retailers, as soluções que, hoje em dia, dão resposta às novas necessidades do cliente. O tempo é cada vez mais escasso e desde o início destas mudanças que temos ajudado na criação de programas e soluções para as entregas ao domicílio dos supermercados e para as encomendas preparadas prontas para recolha. Logo, o e-commerce e delivery são uma parte muito relevante da nossa atividade e da procura de respostas. É interessante pensar que, mesmo antes da pandemia, e em conjunto com os principais players no mercado, já estávamos a desenvolver soluções que no momento da pandemia vieram dar resposta rápida aos novos desafios. Ou seja, o nosso capital de experiência era cada dia mais valorizado, o que levou as grandes operações de e-commerce e delivery a procurarem-nos e, felizmente, estamos a conseguir responder com grande efetividade e com ainda mais respostas do que os nossos clientes procuravam inicialmente, o que nos traz bastante confiança para o futuro. Estamos, neste momento a inovar de acordo com as novas tendências que se viram agudizadas com estes confinamentos. Além de propor soluções logísticas inovadoras, introduzimos variáveis de segurança que, neste momento, são prioridade e penso que vieram para ficar. Os clientes não estão dispostos a passar pelo mesmo, logo esforçamo-nos para que, no final do dia, eles tenham a melhor experiência possível na utilização das nossas soluções, pois elas fazem parte do circuito de consumo de bens essenciais, como são os produtos farmacêuticos e alimentares. Nunca foi tão importante não desperdiçar, por isso procuramos que exista o menor desperdício possível desses bens. O nosso objetivo é contribuir para uma sociedade que consiga o menor desperdício possível, é dar segundas utilizações, é procurar que no final haja aproveitamento para os mais desfavorecidos, e é ambicionar chegar mesmo a atingir o que se denomina por “zero waste”.

“Os nossos comportamentos têm de corresponder aos princípios e às tendências atuais numa perspetiva de inovação.”

PME Mag. – Qual foi o maior desafio que a ZØR e as empresas de logística tiveram que ultrapassar durante a pandemia?

M. P. – Com as falhas na cadeia de abastecimento, tivemos de identificar os fornecedores prioritários que nos permitissem acompanhar diariamente todos os processos, de modo a não existirem roturas. Como sabe o espaço aéreo foi praticamente fechado, o que fez com que tivéssemos de nos aprovisionar dos bens mais prioritários e, felizmente, conseguimos. Tenho perfeita consciência que conseguimos dar resposta aos desafios que enfrentámos e estamos a ser valorizados por isso.

PME Mag. – De acordo com o seu ponto de vista, como é que se cria awareness para a questão da sustentabilidade em empresas de logística?

M. P. – Acredito que a informação é chave para tomar decisões responsáveis. Não podemos ser fundamentalistas com alguns materiais para os quais ainda não existe substituição, mas temos de criar programas de maior circularidade para procurar dar resposta, sem criar problemas de abastecimento dos bens essenciais que são fundamentais e não podem faltar. O importante é que todas as empresas tenham noção de que temos de conseguir tomar decisões responsáveis para o futuro, mas para tal têm de ter o conhecimento para desenvolver novas soluções.

“Estamos neste momento a inovar de acordo com as novas tendências que se viram agudizadas com estes confinamentos.”

PME Mag. – Sente que o público e/ou clientes estão bem informados sobre questões ambientais? O que é o público procura na ZØR? Ou seja, em que medida é que a vossa empresa se distingue das demais?

M. P. – Durante a pandemia, a ZØR tomou a iniciativa de desenvolver três webinares sobre como superar situações extremas, envolvemos os principais impulsionadores destas mudanças, para tão rápido quanto possível nos podermos alinhar e procurar passar a mensagem para o público. Acho que a antecipação destes cenários nos ajudou a refletir, responsabilizar e atuar.

PME Mag. – Sabemos que a ZØR está a desenvolver projetos a nível internacional. Como é que olha para os futuros processos de internacionalização?

M. P. – Acabámos de participar no desenvolvimento de uma solução de distribuição de medicamentos de um dos maiores laboratórios mundiais e contribuímos assim para se ter rapidamente soluções que tornassem possível o processo de vacinação em curso. Para a ZØR fazer parte desta missão tão responsável e importante ajuda-nos a olhar para o futuro com esperança e a ver um percurso do qual nos podemos orgulhar, ao observarmos os resultados que ajudámos a conseguir e ao vermos como as soluções que ajudámos a desenvolver tiveram um papel tão importante em criar novas esperanças a pessoas, que tão preocupadas e desanimadas estavam. Fomos contactados pelos mais diversos países e ainda hoje temos processos em curso para colaborar no processo de vacinação em massa nos países em desenvolvimento, os quais não podemos permitir que fiquem de fora. Acabámos de desenvolver um projeto de entregas de alimentos ao domicílio, procurando dar resposta às encomendas superiores nestes tempos difíceis e estamos a desenvolver vários projetos na Europa que esperamos concretizar, não só com a ZØR, mas também com a ZØR Mor.