Por: Carla Bodião, Head of Legal & Compliance da JLL Portugal
Em 2020, participei num workshop sobre Legal Design Thinking, pois o tema despertou-me interesse por ser “fora da caixa”.
Será possível aplicar Design Thinking no Direito? A um mundo tão cheio de formalismos, tradições, linguagem própria (o chamado “legalês”), muitas vezes impercetível para quem nos ouve?
Descobri que não se tratava apenas de uma questão estética, relacionada com o visual dos contratos, petições iniciais ou requerimentos, mas de uma mudança de mindset no meio jurídico, que implicava uma visão mais ampla sobre as reais necessidades dos clientes.
Mas o que é o Design Thinking?
Design Thinking é um método prático-criativo que visa a solução de problemas. Nesse sentido é uma forma de pensar focada em soluções, como um objetivo inicial, e não nos problemas propriamente ditos.
Este método não se baseia em dados estatísticos, mas aposta na vertente mais “humana”. É preciso criar conexão com as pessoas através da empatia, colaboração, transparência e diversidade.
É, sem dúvida, necessária uma maior interação com o cliente, ou um maior envolvimento em determinado projeto, compreendendo os problemas existentes, de modo que, em conjunto, consigamos desbravar novos caminhos para a resolução dos desafios apresentados.
No mundo do Direito é possível aplicar esta técnica, criando novos métodos de trabalho e utilizando ferramentas que o tornem mais produtivo e eficiente.
O Legal Design Thinking tem como principal foco o cliente, pelo que é imperativo simplificar!
Não só na comunicação, como no layout de documentação jurídica (desde que seja preservado o seu conteúdo), fatores certamente geradores de um maior interesse e envolvimento do cliente, que cada vez mais procura um tipo de serviço jurídico diferente e inovador.
O processo de Legal Design Thinking assenta em cinco etapas:
Descoberta – na identificação do problema; Interpretação – deveremos resumir o problema, se possível numa frase, para que exista um maior foco na sua resolução; Ideação – fase da criatividade; Experimentação – colocar a ideia em prática; Evolução – fase contínua de aperfeiçoamento da ideia.
Com estas etapas são criadas várias interações em busca de um resultado adequado.
O sucesso deste processo não só depende da criação de empatia com o cliente e de saber quais as suas reais necessidades e as diversidades existentes, como também do trabalho com equipas multidisciplinares, da realização de brainstormings; de criatividade e de inovação.
Reunidos todos estes fatores, será possível criar soluções simplificadas, gerar mais valor e melhores resultados.
A implementação deste modelo no mundo do direito é, sem dúvida, um enorme desafio, mas já é visível uma mudança no modus operandi dos departamentos jurídicos de empresas e das sociedades de advogados que recorrem a este método.
Repensam-se novas formas de trabalhar, aposta-se na inovação com recurso a tecnologias (inteligência artificial, big data, visual law) e em técnicas inovadoras.
Este método revolucionário é uma ferramenta poderosa na resolução dos problemas e veio para ficar no mundo do Direito.