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Wanda Ferreira participou no movimento #retratosàporta para fotografar famílias no Dia da Mãe

“As pessoas têm emoções maravilhosas de retratar” – Wanda Ferreira

Mariana Barros Cardoso

Formada em psicologia, Wanda Ferreira, encontrou na fotografia um método diferente de “ouvir” as pessoas. Tendo no mote as emoções das pessoas como a mais forte forma de expressão para eternizar momentos, a fotografa do Algarve, aproveitou o Dia da Mãe em confinamento para retratar as famílias algarvias.

Com sessões à porta de casa, de 10 minutos, e pro bono, Wanda Ferreira, percorreu cerca de 10 famílias para resgatar sorrisos de um período difícil. A ideia surgiu depois de ver uma iniciativa nos EUA mas também a portuguesa Rita Ferro Alvim, após publicitar no seu instagram o movimento #retratosàporta, criado pela própria (Rita Ferro Alvim), moveu fotógrafos de norte a sul do país.

Desde cedo que Wanda Ferreira fotografa mas só há 3 anos é que começou a investir em material profissional e a promover o trabalho de memorizar a vida das pessoas. Em entrevista à PME Magazine a psicóloga afirma que “fotografar é escrever com luz” e que “é um documento fundamental na história de qualquer pessoa” mas que demora tempo para reembolsar o investimento neste tipo de trabalhos.

PME Magazine – Como é que surgiu a ideia de fotografar as famílias à janela?Foi uma ideia que colmatou de um movimento?

Wanda Ferreira – No inicio desta pandemia vi que alguns fotógrafos de família que sigo nos Estados Unidos, continuavam a fazer sessões fotográficas com as famílias mas à janela de casa ou à porta, e achei uma ideia muito querida e original, neste tempo estranho que o mundo está a viver. Mas nessa altura, entrámos em Estado de Emergência em Portugal, e não era possível fazer.

PME Mag. – Como é que as famílias reagiram à sugestão de serem fotografas em tempo de confinamento?
W.F. –
Muito bem! Tinha algum receio que por cá achassem um pouco estranho ou banal uma fotografia à janela, mas entretanto, por coincidência, a Rita Ferro Alvim deu voz à iniciativa e publicitou na conta dela de instagram os #retratosàporta ,  para o Dia da Mãe. De repente, o movimento estendeu-se a fotógrafos de norte a sul de Portugal e Ilhas, e as famílias ficaram mesmo muito felizes e agradecidas com esta lufada de ar fresco, por um lado, e com uma recordação que vai ajudá-las a contar um pouco deste período vivido, por outro.

PME Mag. – Há custos associados a este movimento?
W.F. –
Este movimento foi completamente pro bono em termos monetários, mas muito compensador a vários níveis.

PME Mag. – Como é que se faz para captar o melhor das pessoas numa altura em que as relações interpessoais, e tão importantes na essência do click, estão condicionadas?
W.F. – Sinceramente, não senti condicionamento nenhum. É certo que foram mini mini sessões, 10 minutos cada, onde dava apenas tempo para uma curta conversa, mas em cada uma das 10 famílias que fotografei senti uma boa energia e felicidade, pelo menos naquele momento.

PME Mag. – Em termos práticos, de cuidados com o equipamento e distanciamento social, quais são as maiores diferenças encontradas?
W.F. – A distância! Nesta fase de retorno, as sessões fotográficas vão ser em exterior, eu vou usar máscara, e não haverá contacto físico com os fotografados.

PME Mag. – Numa altura de crise económica, como é que, enquanto fotografa, consegue criar nas pessoas a necessidade de uma imagem que atualmente se consegue com recursos gratuitos?
W.F. – É desafiante. É certo que hoje em dia podemos tirar diariamente dezenas de fotografias com o telemóvel, e isso pode levar a que por vezes se desvalorize o trabalho de um fotógrafo, mas quem faz uma sessão fotográfica reconhece que vale bem a pena. Não só pela qualidade de imagens obtidas, como pela essência do que é captado durante as sessões, e a experiência vivenciada. As minhas sessões são descontraídas e o objectivo é conseguir captar a autenticidade do(s) fotografado(s), e que estes se consigam rever no resultado final. Quero que as pessoas olhem para as fotografias e se identifiquem, que se emocionem, que imprimam ou façam um álbum com aquelas imagens, e que ao fim de alguns anos continuem a voltar aqueles momentos. Uma família que faça uma sessão fotográfica por ano, por exemplo, fica com um documento de valor inestimável, e o investimento que é feito é bem menor do que se gasta por vezes em tantas coisas que não nos acrescentam nada! Isto para não falar que quem tem crianças pode ver bem o seu crescimento de ano para ano, e ficar pasmado com as diferenças!

PME Mag. – É urgente reinventar o negócio da imagem e da fotografia?
W.F. –
Acho que todas as áreas se reinventam um pouco consoante os desafios que se apresentam, até porque à velocidade que o mundo se altera hoje me dia, quem não se reinventa cai no esquecimento. A fotografia tem evoluído bastante a vários níveis, não só tecnológico, tem muitas vertentes e abordagens, e acredito que seja cada vez mais valorizada. O sucesso do #retratosàporta é bastante representativo disso. Há sempre mais para aprender, mais para ensinar e inovar também! 

PME Mag. – O investimento compensa? É facilmente recuperável?
W.F. – A maioria das pessoas não tem noção do investimento que é feito em material e em formação, as horas despendidas não só nas sessões mas depois em edição também, porque todas as fotografias são editadas. É preciso gostar muito do que se faz! E leva algum tempo a recuperar.

PME Mag. – A fotografia eterniza o momento. É esse o mote que acredita levar as pessoas a contratar este tipo de serviços?
W.F. –
A fotografia é um documento fundamental na história de qualquer pessoa. É a ela que recorremos para rever momentos, relembrar fases da nossa vida ou contar histórias aos nossos filhos. Hoje em dia, quando alguém contrata um fotógrafo julgo que primeiro é porque se identifica com o olhar desse profissional, a forma como capta e transmite o que vê, e depois porque quer imagens que contem uma história, a sua história. E isso é difícil de conseguir com selfies no telemóvel!

PME Mag. – As pessoas ainda são a melhor ferramenta de trabalho?
W.F. –
Sim, sem dúvida. As pessoas têm personalidade, emoções, diferentes acontecimentos na sua vida que são maravilhosos de retratar. As crianças então, têm expressões únicas, quando as deixamos serem elas próprias, sem forçar sorrisos.

PME Mag. – Qual é o segredo do sucesso da fotografia?
W.F. – Através da fotografia podemos captar emoções e guardar memórias, e podemos voltar a elas sempre que quisermos.

PME Mag. – Fotografia é?
W.F. – É escrever com luz!