Por: Ana Vieira
Por um mundo mais verde e descarborizado, a Átomo Capital Partners desenvolve projetos para grandes investidores ou produtores de energia renováveis em Portugal.
No caso das Pequenas e Médias Empresas (PME), apesar do investimento inicial, “ao gerarem a sua própria energia através de sistemas de autoconsumo, as PME podem reduzir drasticamente os custos energéticos, diminuindo assim a sua dependência da rede elétrica convencional”, afirma José Campos e Sousa, Business Development da Átomo Capital Partners, em entrevista à PME Magazine.
PME Magazine (PME Mag.) – Como surgiu e como funciona a Átomo Capital Partners?
José Campos e Sousa (J. C. S.) – A Átomo Capital Partners surge da vontade de participar activamente no sector da energia, especialmente numa altura em que se verificou uma significativa revolução no paradigma energético. O ponto de partida para a Átomo materializou-se com a percepção das grandes oportunidades geradas por ocasião dos primeiros leilões solares de 2019, tendo a equipa começado a envolver-se ainda numa fase anterior de preparação e antecipação desses procedimentos competitivos.
Os leilões não só abriram portas para a entrada de novos players como também contribuíram, de certo modo, para a democratização do sector, atraindo o interesse de uma gama mais ampla de entidades, para além das grandes utilities que historicamente dominavam o mercado. Nesse contexto, a Átomo surge com o propósito e a ambição de auxiliar os investidores internacionais e Independent Power Producers (IPP) no desenvolvimento integrado desses projectos, oferecendo, numa óptica de one stop shop, o conhecimento e o know-how de uma equipa multidisciplinar com muitos anos de experiência no desenvolvimento de projectos de grande escala.
A Átomo tem consolidado a sua posição como um parceiro de grande valor, desempenhando um papel significativo como developer de projetos, não apenas de grande escala (solar, eólica, hidrogénio e baterias), mas também no campo do autoconsumo. Nesse campo, a nossa abordagem é fundamentada na aplicação da vasta experiência no desenvolvimento de projectos de produção de energia, para atender às necessidades específicas de consumidores comerciais e industriais, reconhecendo o significativo potencial para optimizar a eficiência energética, reduzir custos, aumentar a competitividade das empresas e contribuir para a descarbonização da economia.
PME Mag. – Quais são as vantagens e os benefícios do autoconsumo solar para as PME?
J. C. S. – Ao gerarem a sua própria energia através de sistemas de autoconsumo, as PME podem reduzir drasticamente os custos energéticos, diminuindo assim a sua dependência da rede elétrica convencional. Apesar do investimento inicial nestes sistemas poder parecer elevado, na realidade ele traduz-se em poupanças significativas a longo prazo. Com períodos de retorno reduzidos e uma vida útil média entre os 25 e os 30 anos, as centrais de autoconsumo oferecem uma vantagem adicional relacionada com a previsibilidade e estabilidade nos custos. Isso permite que as PME tenham uma visão mais clara e consistente dos seus encargos energéticos a longo prazo, tornando-as menos suscetíveis às flutuações nos preços dos combustíveis fósseis e nas tarifas de eletricidade.
Para as empresas que não possuem capacidade para realizar o investimento inicial, ou que optam, por motivos estratégicos, por não o fazer, a Átomo oferece soluções de autoconsumo sem necessidade de investimento por parte dos clientes. Desenvolvemos e fornecemos centrais de autoconsumo na modalidade PPA (Power Purchase Agreement), onde é acordado um preço por kWh indexado ao consumo efetivo de energia proveniente da central. Isso proporciona uma alternativa viável para empresas que desejam aproveitar os benefícios do autoconsumo solar sem comprometer os seus recursos financeiros.
Além dos evidentes benefícios económicos, há uma forte dimensão reputacional em jogo. Incorporar soluções de energia solar demonstra um compromisso com a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental, o que pode representar uma vantagem competitiva significativa num mercado cada vez mais consciente destas questões. Isto pode levar a uma valorização da marca e da imagem corporativa das empresas, contribuindo para uma melhoria da reputação perante fornecedores e clientes.
PME Mag. – Existe algum regime de benefícios financeiros e fiscais para promover a implementação de energias renováveis por parte das PME?
J. C. S. – O Governo Português tem desempenhado um importante papel na promoção da transição energética e na descarbonização da indústria, especialmente através de programas como o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Nos últimos anos, têm sido disponibilizados subsídios e subvenções específicamente direccionados às pequenas e médias empresas, com o intuito de incentivar investimentos e projectos mais sustentáveis que permitam aumentar a competitividade do tecido empresarial.
Actualmente, embora não haja procedimentos abertos e se verifique pouca visibilidade sobre o lançamento iminente de novos avisos, é importante destacar que o apoio governamental permanecerá vital para impulsionar a descarbonização do sector empresarial.
Quanto aos incentivos financeiros, várias instituições financeiras têm disponibilizado empréstimos com taxas de juro mais favoráveis para investimentos considerados sustentáveis. Estes empréstimos oferecem às PME a oportunidade de realizar investimentos em energia renovável, eficiência energética e outras iniciativas sustentáveis, com condições financeiras mais acessíveis e vantajosas.
É fundamental que as empresas estejam atentas às oportunidades de financiamento e apoio disponíveis, mesmo que não haja lançamento iminente de novos programas. Manter-se informado sobre as políticas governamentais e estar em contacto com instituições financeiras pode ser crucial para conseguir aproveitar essas oportunidades quando elas surgirem.
PME Mag. – Que retorno financeiro pode ter uma PME com um projeto de autoconsumo?
J. C. S. – O retorno financeiro de um projecto de autoconsumo para uma PME pode variar dependendo de vários factores, incluindo a dimensão do sistema instalado, o padrão de consumo de energia da empresa, o custo inicial do investimento e o custo actual da energia contratada com o comercializador. Contudo, geralmente, os projectos de autoconsumo oferecem um retorno financeiro bastante atractivo a médio e longo prazo.
Em termos gerais, o retorno de um projecto de autoconsumo pode ser calculado com base nas economias geradas pela redução dos custos com energia eléctrica da empresa. Com base nos projectos que temos desenvolvido na Átomo é possível atingir, em média, poupanças na factura de energia na ordem dos 20% a 30%.
Essas economias são alcançadas principalmente pela redução ou eliminação da necessidade de comprar energia eléctrica à rede, substituindo-a pela electricidade gerada no próprio local de consumo. Nos casos em que há excedente, é também possível injectá-lo na rede, conseguindo-se dessa forma uma remuneração adicional pela energia que não é autoconsumida, ainda que não seja esse o principal objectivo deste tipo de projectos. É importante ressaltar que o retorno financeiro de um projeto de autoconsumo não se limita apenas às economias directas nos custos com energia, podendo também incluir benefícios intangíveis, como uma imagem corporativa mais sustentável e responsável, potencialmente resultando numa maior fidelização de clientes e numa vantagem competitiva no mercado.