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José Marques, diretor na WTW Portugal
José Marques, diretor na WTW Portugal (Foto: Divulgação)

Bons salários não garantem bem-estar financeiro

Por: José Marques, diretor na WTW Portugal

Quem não ouviu já histórias sobre pessoas que ganharam a lotaria e gastaram tudo em meses? Para se atingir bem-estar financeiro é necessário algum conhecimento, mas também (alguma) disciplina. Ter um bom salário é um bom ponto de partida, mas também é preciso saber, e conseguir, gastá-lo adequadamente.

O conhecimento de temas que afetam a nossa saúde financeira pode ser adquirido a qualquer momento através dos múltiplos conteúdos que se podem encontrar online, embora nem sempre seja fácil identificar qual a informação que é realmente útil e sem interesses comerciais.

A disciplina financeira, essa, é mais difícil de adquirir em idade adulta. Alguém conhece um médico ou enfermeiro fumador? Por isso, talvez seja importante haver aulas (em casa ou na escola) sobre “aprender a pensar no longo-prazo e as desvantagens da gratificação imediata”.

Como trabalhador por conta de outrem, olho para o meu empregador como fonte de bem-estar, especialmente financeiro (e sim, também procuro desafio intelectual, mas é sobre o bem-estar financeiro que me estou aqui a debruçar). Numa altura em que a rotatividade nas empresas é cada vez maior e o talento escasso (para onde terá ido?) as empresas têm uma oportunidade de oferecer aos colaboradores uma proposta de bem-estar financeiro que pode ir além do seu salário.

Aquilo que proponho é que as empresas ajudem os colaboradores a perceberem a sua situação financeira e como melhorá-la, mas que também os ajudem a ganhar os hábitos certos, de forma a pôr em prática o que aprenderam. O resultado desta abordagem, se bem-sucedida, é maior produtividade, melhor atração e retenção de talento e trabalhadores mais felizes.

Mas como? Uma maneira de abordar o tema é utilizando os passos típicos de qualquer processo transformativo:

  • Criar sentido de urgência – será que os colaboradores das empresas sabem que, com quase toda a certeza, as suas contribuições de 11% e os 23.75% da empresa para a segurança social não serão suficientes para impedir que as pensões reduzam drasticamente nas próximas décadas?
  • Educar – É mais fácil ganhar hábitos de poupança se soubermos como poupar e as vantagens de o fazer. As empresas podem, e devem, dar formação aos colaboradores em múltiplas áreas do conhecimento financeiro (por exemplo inflação, taxas de juro, crédito, etc…), nomeadamente disponibilizando conteúdos e encorajando a sua utilização.
  • Dar ferramentas – Além da formação, os colaboradores das empresas preferem que seja o empregador a disponibilizar ferramentas e simuladores, do que correrem o risco de acabarem por usar soluções que sejam mais prejudiciais do que benéficas, o que inevitavelmente acontecerá se não tiverem o conhecimento e as ferramentas adequadas.
  • Reforçar mensagens continuamente – Estes processos funcionam melhor se se for reforçando a mensagem ao longo do tempo com novos conteúdos e formações (se não fosse assim, porque é que eu teria que fazer uma formação sobre o código de conduta da WTW todos os anos?)

Vamos tirar Portugal da cauda da Europa no que respeita à literacia financeira!