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Mariana Morgado Pedroso (Foto: Divulgação)

Como fazer uma microempresa crescer em Portugal?

Por: Mariana Morgado Pedroso, diretora-geral Architect Your Home Portugal

Em Portugal, e consultando dados de 2017 (INE), verificamos que existem 1.260.436 empresas. Destas, apenas 1.202 são grandes empresas. Daí, parece-me premente escrever sobre uma questão com a qual nos temos deparado na nossa empresa: o peso dos impostos na tesouraria e resultados anuais limita o crescimento da mesma – como ultrapassar isto?

Esta questão afeta 1 milhão e duzentas empresas – ou seja 99% das empresas existentes em Portugal. Destas 99% de empresas existentes em Portugal, 96% são microempresas, com menos de 10 pessoas e cujo volume de negócios é inferior a 2 milhões de euros. É aí que se situam a maioria das empresas, sendo esta uma questão que afeta a quase totalidade dos empresários portugueses, na qual nos incluímos.

No final de 2012, em conjunto com uma sócia, abri as portas do meu gabinete de arquitetura. Com um investimento baseado em capitais próprios e no subsídio de desemprego próprio, com um plano de negócios muito controlado e com o apoio do PAECPE – Programa de Apoio ao Empreendedorismo e à Criação do Próprio Emprego – um dos programas apoiados pelo IEFP para estimular a criação do próprio emprego e que nos permitiu lançar o nosso negócio.

Aos poucos fomos ganhando o nosso lugar no mercado, com muito trabalho e muitas horas a fazer multitarefas, em que cada uma se desdobrou em todas as profissões para conseguir controlar custos e atingir objetivos, uma vez que numa microempresa não há normalmente capacidade financeira para contratar pessoal para os vários departamentos e, portanto, rapidamente se conclui que teremos que ser o gestor, diretor, financeiro, comercial, administrativo e, no nosso caso, juntando o arquiteto, o decorador, o publicitário, o criativo, etc. Subcontrata-se algumas das profissões que não poderíamos fazer nós mesmos e fazem-se omeletes sem ovos.

Com um conjunto de variáveis em jogo que vão desde o mercado precisar dos serviços que estávamos a prestar, criatividade e adaptação, para que nos tornássemos um recurso valioso para muitos parceiros. Com muito profissionalismo, perfecionismo e obsessão com prazos e dedicação a quem trabalha connosco e clientes. Dedicando 16 horas ou mais por dia (e as restantes horas para dormir e família, quando assim era possível), conseguimos implementar o nosso negócio, com alterações na sociedade, que entretanto se desfez e refez com novo sócio, maternidade e filhos pelo meio, muitos percalços, batalhas, derrotas e vitórias – 7 anos depois – temos uma empresa que conquistou o seu lugar,  com a sua quota de mercado no âmbito dos projetos de arquitetura e decoração em Portugal.

Neste momento, como microempresa que somos, ressentimo-nos com uma dificuldade que parece inultrapassável no atual regime de impostos em Portugal.

Contratar mais pessoal para cumprir com a procura. Contratar pessoas para cada departamento para um atendimento mais eficiente. Crescer de forma sustentada, sem ter que endividar para crescer. Mas aumentar o número de colaboradores significa aumentar muitíssimo a carga fiscal e, fazendo contas, rapidamente se conclui que não se consegue crescer de forma sustentada. Temos uma carga fiscal altíssima, tal como se verifica junto na tabela “Taxing Wages 2019” publicada pela OECD, onde vemos Portugal a ocupar o 14.º lugar na tabela de maior cobrança de impostos e segurança social, à frente de países como a Dinamarca, o Reino Unido e o Japão, e questiono-me como podemos ultrapassar esta batalha? Com os impostos a pesar significativamente no dispêndio mensal de uma empresa, em que tanto a empresa como o trabalhador se ressentem com isso, parece que o único que sai beneficiado é o Estado.

Mas a longo prazo, que benefícios pode esta situação trazer? Queremos aumentar os funcionários e as taxas são tão altas que o aumento fica diluído em impostos. Queremos que a economia seja dinâmica, aumentar o poder de compra, pagar salários condizentes com o custo de vida – esse que aumentou a olhos vistos desde que Portugal se tornou um destino apelativo para os investidores estrangeiros – com rendas que não são suportáveis pela maioria dos jovens que estão em início de carreira e do outro lado empresas que precisam de aumentar o número de colaboradores, mas que para tal têm de contratar, os contratos com novas regras lançadas este ano, que vão contra tudo o que é necessário para dinamizar o mercado, que não fomentam a competitividade e “agarram” os funcionários às empresas, contratos não adaptados a este novo mundo de “Millennials” que não pedem contratos blindados, mas dinamismo e ordenados justos.

Lança-se o repto – a quem de direito – é urgente reduzir a carga fiscal nas empresas para fomentar o desenvolvimento e o crescimento da grande massa empresarial portuguesa. É intolerável que os contratos de trabalho favoreçam apenas o trabalho “sem termo”, tem que haver flexibilidade contratual para facilitar a transição dos trabalhadores.
Só assim o mercado ganhará dinâmica para permitir às 99% das empresas portuguesas crescerem.