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Saponina
Liliana Dinis, proprietária da Saponina, no atelier da marca (Foto: Divulgação)

“Cosmética é bem-estar e queremos proporcionar bem-estar a vários níveis” – Liliana Dinis

Por: Diana Mendonça

Liliana Dinis é a criadora da Saponina, marca biológica, vegan e zero waste, que nasceu com o intuito de uma mãe cuidar da pele atópica da filha da forma mais natural possível. A trabalhar há mais de 20 anos na área da cosmética, Liliana sentiu necessidade de criar outro tipo de respostas, apresentando várias propostas que vão desde os sabonetes, aos desodorizantes sólidos, aos dentífricos e aos amaciadores. À conversa com a PME Magazine, Liliana Dinis contou-nos o percurso da marca e a forma como enfrentam os desafios diários.

 

PME Magazine (PME Mag.) – Como é que surgiu a ideia de criar a Saponina?

Liliana Dinis (L. D.) – A Saponina nasceu primeiramente para cuidar da pele da minha filha, porque quando ela era pequena tinha pele atópica e todos os médicos e dermatologistas que visitava recomendavam sempre muitas substâncias químicas que eu não queria utilizar. Esta minha preocupação de mãe acabou por também me levar a ir um bocadinho mais longe e, com base também no meu background, a desenvolver produtos para cuidar da pele dela, que fossem completamente isentos de componentes tóxicas ou nocivas para a sua pele. Mas também falou mais alto a minha preocupação ambiental em utilizar substâncias limpas e biodegradáveis. A dada altura comecei a perceber que o mercado tinha necessidade de outro tipo de respostas, numa fase em que as pessoas procuravam já alternativas biológicas e livres de químicos e de plástico. E não havia assim tantas respostas zero waste em Portugal e esse processo gradual também me levou a criar diferentes respostas. Fomos a primeira marca portuguesa a desenvolver uma linha biológica, zero waste, biodegradável, vegan sustentável.
Já existiam marcas que faziam sabonetes, mas champôs sólidos, desodorizantes sólidos, dentífricos e amaciadores era novidade.

 

PME Mag. – Quais os principais desafios e limitações que uma empresa como a vossa enfrenta?

L. D. – O que sentimos muito em Portugal são os preços das matérias-primas. Somos um país fantástico, com imensa capacidade para produzir determinadas matérias-primas, mas, por vezes, essa matéria-prima custa-me em Portugal três vezes mais do que a mesma matéria-prima biológica e certificada noutro país da Europa. E já estou a falar com custo de transporte. Procuramos, sempre que possível, o local, precisamente também para reduzir o impacto do transporte e de todos os fatores inerentes à poluição, mas também para contribuir para a economia portuguesa. Quer em termos de matérias-primas e agora nesta fase de pós-pandemia e de guerra, em que estamos a sentir tantas alterações, sentimos também o aumento do preço das matérias-primas e outras que nem sequer conseguimos encontrar. Por exemplo, o óleo de amêndoas doces, que é produzido em Trás-os-Montes, a pressão, a frio, biológico e certificado custa três vezes mais do que o óleo de amêndoas doces produzido na Alemanha. E às vezes queremos ter o português, mas isso obriga-nos a ter um preço de venda ao público que depois o consumidor final não iria querer apagar.

 

PME Mag. – Que experiência traz para a marca, tendo em conta que trabalhou durante vários anos na área da cosmética?

L. D. – Foram mais de duas décadas a trabalhar em equipa, com diferentes departamentos de diferentes marcas que, sem dúvida, me ajudaram bastante a compreender e a analisar melhor o mercado. Muitas vezes as formulações, as texturas, a fitoterapia, cosmetologia variam muito de cultura para cultura. Trabalhei com marcas japonesas e francesas e é engraçado ver que há mercados tão diferentes do nosso. É curioso perceber o que é que para certos países é muito mais procurado e relevante e depois trazer esse know-how e adaptá-lo ao nosso mercado, ao que o nosso consumidor procura.

 

PME Mag. – Além da venda de produtos vocês desenvolvem workshops. Porquê esta aposta?

L. D. – Os workshops são algo que sempre quis, porque acredito que o nosso espaço não deve ser apenas de venda de produtos. Procuro que a Saponina também seja vista como uma marca de bem-estar. Acreditamos que os workshops aproximam as pessoas e, por isso, procuramos ter diferentes workshops, desde tapeçaria, ilustração, entre outros. Parámos um bocadinho no verão, mas a partir de setembro iremos retomar com diferentes workshops e outras experiências. O que procuramos é que sejam sempre grupos pequenos, entre oito a dez pessoas no máximo.

 

PME Mag. – Quais são os produtos mais vendidos?

L. D. – Felizmente, toda a nossa marca vende bem. Existem uns produtos mais sazonais e alturas do ano em que vendemos mais. A linha que vendemos mais é a linha de bebé. Não sei se é por ter sido dos primeiros produtos que desenvolvi ou pela história da marca. Por outro lado, os nossos básicos são produtos que vendemos sempre. Portanto, o champô desodorizante, amaciador e o sabonete são produtos que estão sempre a ser procurados, seja na loja online.

 

PME Mag. – Desde 2016 até agora, que balanço faz da marca?

L. D. – A marca tem vindo sempre a crescer. Fomos a primeira marca portuguesa a ter uma resposta muito completa e fomos ganhando, naturalmente, a confiança dos consumidores. Com a pandemia não tivemos um crescimento muito grande, mas continuámos a crescer, mesmo tendo de nos reajustar. Só agora, nesta fase do pós-pandemia e guerra, é que sentimos uma estagnação que, a meu ver, não tem que ver com dificuldades de estratégia, mas com dificuldades do consumidor final em acompanhar subidas de preços tão rápidas e toda esta instabilidade. Temos tentado perder margem para não subir muito os nossos preços, o que também não nos permite o crescimento que era esperado.

 

PME Mag. – Na pandemia, as pessoas voltaram-se mais para a compra nos pequenos negócios. Esta tendência está a inverter-se novamente?

L. D. – Além do que vendíamos no atelier, também fazemos muitos eventos e durante a pandemia estávamos impossibilitados de fazer qualquer tipo de evento. Portanto, as vendas seriam só inerentes ao online e nós, não tendo loja online, as encomendas eram todas feitas via e-mail. Sentimos um carinho enorme das pessoas, muitas nossas clientes e outras pessoas novas que acabaram por chegar, pois pesquisaram por marcas locais. Ajustámo-nos a essa fase e, inclusive, tínhamos dias de entregas aos domicílios, visto o número de encomendas. Agora sinto que as pessoas acabam por dispersar mais e vão a um ponto onde conseguem comprar tudo no mesmo espaço. As pessoas vão tentando fazer o melhor que podem também com o tempo, a disponibilidade e os recursos financeiros que têm.

 

PME Mag. – Que caminhos é que Portugal ainda precisa de percorrer para ser mais sustentável na cosmética?

L. D. – É muito importante haver decisões do Governo para obrigar as empresas a seguirem esse caminho. Nós, como marca, sempre tivemos a preocupação de criar sólidos para não ter plástico ou que usem o mínimo de plástico possível. Existem estudos em universidades no nosso país e lá fora que mostram a importância de utilizar bioplástico ou outros materiais feitos a partir de substâncias vegetais que substituam o plástico na íntegra. São perfeitamente funcionais, mas como ainda há muito poucas marcas a utilizar, a matéria-prima ainda é muito cara. Se estas preocupações começarem a estender-se às empresas de uma forma mais insistente, se calhar estas começam a procurar outras soluções e se muitas pessoas tiverem de comprar também conseguimos ter um preço melhor e mais oferta.

 

PME Mag. – A guerra na Ucrânia está a ter impacto na vossa atividade?

L. D. – Esta guerra veio demonstrar o quão estamos dependentes de outros países para tantas matérias-primas quando temos capacidade de as produzir. Muitas empresas nem sabem que existem respostas cá. Percebo que muitas vezes poderá ser uma questão de preço e que, mesmo com transporte, é mais fácil importar a um preço mais equilibrado. Mas isto é uma oportunidade para muitas empresas reajustarem a sua oferta e perceberem a capacidade e a abertura que poderá haver se produzirem a bons preços para o mercado local. Em termos de matéria-prima, sentimos que a oferta ficou limitada e obrigou-nos a procurar outro tipo de soluções. Mas uma das coisas de que não quero abdicar, apesar do aumento dos preços, é a qualidade a que habituei os meus clientes.

 

PME Mag. – Quais os valores que definem a marca?

L. D. – Considero a Saponina uma marca simples, honesta, e que sempre procurou estar em permanente sintonia com a natureza. Acima de tudo, é o respeitar os ritmos e ciclos da natureza e o procurar desenvolver lotes pequenos para reduzir o desperdício. A sustentabilidade, não testar em animais, a preocupação ambiental, são coisas importantes para a marca, mas também para quem colabora connosco. É importante que quem está connosco esteja em sintonia com os nossos valores, acima de tudo.

 

PME Mag. – Quantas pessoas atualmente trabalham na empresa?

L. D. – Neste momento somos quatro. Há alturas, como no Natal, em que precisamos de recorrer a mãos extras para nos ajudar em certos dias. Esperamos que as coisas evoluam e que se possa aumentar a equipa. Mas isto é um processo que vamos avaliando a cada dia. Quero que a marca cresça e que se ajuste ao mercado também de forma natural, saudável e nunca abdicando dos valores que defendemos.

 

PME Mag. – Tem intenção de internacionalizar a marca?

L. D. – Neste momento não fazemos revenda. Temos muita procura e fazemos, pontualmente, algumas parcerias com espaços e projetos que querem muito ter a nossa marca. Mas, para já, queremos consolidar e solidificar bem a nossa marca no mercado português. No futuro, estaremos sempre abertos a novos desafios. Acredito que é um processo.

 

PME Mag. – Quais são os planos para o futuro?

L. D. – Em breve teremos algumas novidades na área do desenvolvimento de produtos, mas também a nível de atividade da marca. Queremos num curto espaço de tempo apresentar outras propostas. Acreditamos que cosmética é bem-estar e queremos proporcionar bem-estar a vários níveis a quem está connosco e temos algumas ideias, parcerias e algumas atividades para desenvolver ainda este ano. Estas novas ideias vão trazer um outro lado da marca e um envolvimento mais profundo com os nossos produtos.