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Qualquer empresa proativa na transição para a economia circular pode juntar-se à plataforma ECOnnect Portugal (Foto: Divulgação)

ECOnnect Portugal: a plataforma que dá vida aos projetos de economia circular

Por: Diana Mendonça

Foi no verão de 2019 que tudo começou. Filipa Gouveia, fundadora da ECOnnect Portugal, apercebendo-se das dificuldades dos cidadãos em identificar os projetos de economia circular existentes na comunidade envolvente, nas suas variadas vertentes, decidiu criar uma plataforma em que agregasse vários projetos de economia circular em Portugal.

“Se todos somos parte desta transição, é urgente conectar todos os elos da cadeia de valor”, explica Filipa Gouveia.

O desafio de implementar um projeto como este implicou não só olhar para a perspetiva do consumidor, mas também para as startups e empresas que praticavam o conceito de economia circular em Portugal.

“Muito para além de mapear iniciativas e identificar redes, é urgente criar soluções para que se possam conhecer, interligar, colaborar e gerar soluções conjuntas”, afirma a fundadora do projeto.

A plataforma ECOnnect Portugal ganhou asas através do apoio do programa StartUp Voucher, desenvolvido pela IAPMEI, I. P. – Agência para a Competitividade e Inovação, com mentoria da incubadora Famalicão Made IN, que permitiu que o projeto passasse da fase de ideação à fase do desenvolvimento e concretização.

O início do projeto coincidiu com o primeiro confinamento. Apesar dos atrasos e incertezas trazidos pela situação pandémica nas primeiras semanas, Filipa Gouveia diz que o projeto desenvolveu-se de forma “bastante dinâmica” e que o contacto das empresas para o estabelecimento de parcerias “acabou por ser acelerado devido ao crescimento exponencial das reuniões online”.

Segundo a organização Circle Economy, atualmente, vivemos na era em que mais de 91% dos recursos extraídos do meio ambiente são descartados. De acordo com a organização, o modelo económico atual está formatado para consumir e descartar, não reintegrando os recursos descartados no ciclo produtivo.

Neste sentido, para Filipa Gouveia, a grande vantagem da economia circular é “criar impacto positivo para as pessoas, planeta, prosperidade, paz e parcerias. Como? Através da adoção de uma abordagem regenerativa e restauradora, na qual o valor e utilidade dos nossos recursos são continuamente preservados – durante o maior período de tempo possível. Assim, o foco está na sua (re)valorização, através da sua reutilização, partilha, reparação, remanufatura, entre outros.”

“Numa economia circular, os processos, produtos, serviços, materiais são (re)desenhados desde o princípio de forma a não gerar desperdício. O foco está, assim, na eficácia. Não se procura simplesmente minimizar ou compensar o impacto negativo decorrente das nossas atividades, mas sim apostar em fluxos circulares contínuos”, salienta a fundadora da plataforma.

Antoine Lavoisier diz que “na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Para Filipa Gouveia esta é uma boa forma de entender alguns princípios e vantagens da circularidade: “Na verdade, quanto mais soluções encontrarmos inspiradas pela natureza, e funcionarmos como autênticos ecossistemas a nível empresarial e comunitário, através de lógicas de colaboração simbióticas, mais rapidamente vamos conseguir fazer desta transição uma realidade”.

Segundo dados da PORDATA, em 2020, Portugal apresentou uma taxa de utilização de material circular de apenas 2,2%. A média europeia é de apenas 12,8%. Segundo o Circularity Gap Report, o índice global de circularidade desceu de 9,1% em 2018 para 8,6% em 2022.”

Todas as empresas que sejam proativas na transição para a economia circular podem juntar-se à plataforma ECOnnect Portugal. Para aderir à mesma, basta aceder ao website da plataforma e fazer o registo na área profissional, que engloba a resposta a um questionário. Até ao final de 2022, a inscrição e utilização da plataforma é gratuita, após essa data passa para um modelo de subscrição paga.

“Esta rede funciona como um ecossistema intersetorial, onde se procura estabelecer conexões entre setores que possam colaborar numa lógica de circularidade (alimentar, têxtil, biotecnologia, construção, entre outros). Já contamos com mais de 125 entidades de diferentes naturezas: startups, freelancers, empresas, ONG, associações, IPSS, municípios, escolas, movimentos cívicos, cooperativas, entre outros”, destaca a responsável.

As empresas que se juntam à rede ECOnnect Portugal beneficiam das parcerias criadas entre os parceiros, do motor de busca da plataforma, das agendas de ações formativas e dos canais de comunicação da plataforma. Brevemente, a fundadora pretende “lançar eventos exclusivos com o objetivo de facilitar networking, match-making e co-desenhar soluções circulares criativas entre a própria comunidade”.

Como objetivos futuros, Filipa Gouveia pretende otimizar, expandir e monetizar a plataforma, de forma a continuar a desenvolver o trabalho feito até agora e captar novos membros para a rede: “Consolidar parcerias com empresas, entidades e municípios é um fator-chave da nossa estratégia. A internacionalização da plataforma é uma intenção que está no nosso horizonte, numa perspetiva a longo prazo”.

Quanto ao futuro da economia circular em Portugal, Filipa Gouveia revela que o país tem acompanhado as tendências da União Europeia.

“O enquadramento legislativo europeu tem pautado esta transição, com diversos instrumentos que a têm catalisado (Plano de Ação da Economia Circular, Green Deal, Waste Framework Directive, entre outras). Atualmente, existem sinais de evoluções positivas a nível nacional. Destaco, por exemplo, a iniciativa Nacional Cidades Circulares (InC2). A nível empresarial e organizacional, destaco todas as boas práticas apresentadas na conferência ‘Smart growth: o papel da economia circular’, dinamizada no passado dia 5 de maio, pela Smart Waste Portugal. Também no portal ECO.NOMIA promovido pelo Ministério do Ambiente, podemos encontrar dezenas de projetos com boas práticas de circularidade”, conclui a responsável.

A ECOnnect Portugal acredita que “a transição para a circularidade não está apenas reservada aos governos, empresas ou grandes organizações. Todos os cidadãos podem dar o seu contributo no seu dia a dia, por exemplo, através de hábitos de reparação, compostagem e reutilização.”