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François-Pierre Puech
François-Pierre Puech, senior manager da Robert Walters Portugal (Foto: Divulgação)

“Empresas e espaços de trabalho não ficaram isentos de alterações” – François-Pierre Puech

A Covid-19 resultou em mudanças nas mais variadas áreas e o desenho e a experiência do local de trabalho não são exceção. François-Pierre Puech, senior manager da Robert Walters Portugal, fala um pouco do novo panorama associado à experiência de trabalho, que surge como resultado da pandemia.

PME Magazine – Dadas as novas demandas, os espaços de escritórios estão a adaptar-se bem?

François-Pierre Puech – O impacto da pandemia não se reflete apenas na atividade económica, mas também numa adaptação forçada da nossa forma de viver e trabalhar. O confinamento que experimentámos a uma escala global foi uma situação sem precedentes que impactou, entre outras coisas, as nossas relações sociais, a educação dos nossos filhos e também a nossa relação com o trabalho. E o mundo pós-pandemia terá também implicações (aliás, já tem) na nossa maneira de viver e trabalhar. Empresas e espaços de trabalho não ficaram isentos de alterações por várias razões: implementação do teletrabalho; medidas profiláticas (distanciamento social, taxa de ocupação de espaços fechados); digitalização de parte do nosso trabalho; a otimização financeira e redução de custos associados. Num estudo recente realizado pelo Robert Walters Group em todo o mundo, 37% das mais de 5.000 empresas participantes afirmam considerar uma redução nos espaços de trabalho. Essa redução é possível graças à flexibilidade do horário de trabalho (35% das empresas mencionadas), à implementação de turnos (39% das empresas) e à generalização do teletrabalho (86% das empresas desejam implementá-lo após a pandemia). No geral, muitas empresas perceberam durante a pandemia que os seus espaços de trabalho são muito grandes e mal adaptados às novas medidas sanitárias, como espaçamento entre mesas, corredores de circulação unidirecional, salas de reuniões não adaptadas às medidas de distanciamento, etc.

PME Mag. – Qual seria o espaço de trabalho ideal?

F. P. – O espaço de trabalho ideal atualmente deve primeiro respeitar as medidas sanitárias (espaço entre mesas, corredores de sentido único, marcações no chão), ou permitir que estas sejam implementadas rapidamente. Depois, deve também permitir uma limpeza segura com políticas de clean desk, paperless e áreas comuns que garantam a segurança sanitária. Enquanto alguns especialistas falam do escritório 4.0 como um espaço semiaberto (combinação de espaços abertos e salas fechadas) e a implementação do conceito de hot desks, outros consideram que o modelo de open space não resistirá à pandemia e que voltaremos a ter espaços mais fechados. De qualquer forma, um escritório ideal terá acesso às últimas tecnologias com o aumento da digitalização da empresa, e permitirá conciliar o trabalho no escritório com medidas flexíveis de teletrabalho. Finalmente, é importante entender que os novos espaços de trabalho devem ter em conta o tipo de trabalho e a personalidade de cada funcionário, bem como as necessidades de cada empresa.

PME Mag. – O conceito de hot desk não fica em risco, devido às questões de segurança dos trabalhadores, tendo em conta a pandemia?

F. P. – O conceito hot desk facilitará a redução (downsize) dos espaços de trabalho, pois assume que nunca está toda a equipa no escritório ao mesmo tempo, ao permitir horários de trabalho flexíveis, a implementação de turnos e o teletrabalho alguns dias por semana. Obviamente, como mencionámos antes, só se pode implementar se for possível respeitar de facto as medidas sanitárias, e isso é responsabilidade de todos, do empregado e do empregador. Os profissionais devem adaptar-se a trabalhar sem papel, sem os seus objetos pessoais em cima da mesa ou nas gavetas, deixando o espaço de trabalho livre de qualquer objeto ao sair (cabos, copos sujos, etc.). Quanto ao empregador, deverá garantir a limpeza de cada zona de trabalho todos os dias, assim como uma boa organização para evitar que estejam demasiadas pessoas no escritório em simultâneo. Por exemplo, pode implementar-se um sistema de reserva de horas, salas ou mesas no escritório. O hot desking também garante uma maior fluidez entre as diferentes equipas de trabalho e permitirá maior comunicação e melhor entendimento da empresa como o seu próprio ecossistema.

PME Mag. – Qual a opinião acerca do teletrabalho, depois da Covid-19? É expectável que se mantenha?

F. P. – A Covid-19 desencadeou a maior experiência mundial de teletrabalho e os resultados foram positivos: embora o maior receio das empresas fosse uma diminuição da produtividade, 32% dos profissionais inquiridos a nível global acreditam que a sua produtividade se manteve estável, e 45% afirmam que a sua produtividade aumentou. Como o teletrabalho e a flexibilidade vieram para ficar, o próximo desafio será duplo. Primeiro, adaptar e reforçar a importância dos relacionamentos interpessoais e da comunicação para manter a dinâmica do trabalho e, segundo, passar de uma avaliação com base na medição do tempo de trabalho para a medição dos resultados alcançados. Sobre este último ponto, as diferenças entre os setores de atividade vão aumentar: as equipas de tecnologia e contact center poderão facilmente passar a ser totalmente remotas, enquanto as equipas de recursos humanos ou de business support não terão tanta facilidade. Mas sim, sem dúvida, é provável que a maioria das empresas implemente medidas mais flexíveis e permita o teletrabalho com maior frequência, dependendo do tipo de negócio.