Por: Ana Rita Justo
A Rittal e a R&M organizam, na próxima quinta-feira, às 14h30, o evento “Next Level for Datacenter”. Dezenas de especialistas em centros de dados irão reunir-se no Arquiparque, em Miraflores, para discutir os novos desafios na segurança informática das empresas. Falámos com o diretor-geral da Rittal, Jorge Mota, e com o regional manager da R&M para a Península Ibérica, Manuel Blasco Delgado, sobre o que esperar deste evento.
PME Magazine – Qual o objetivo desta conferência?
Jorge Mota – Após vários anos de recessão económica e forte desinvestimento em infraestruturas IT, há atualmente uma nova orientação dos agentes económicos cuja tendência é o reforço dos investimentos em Portugal, e consequentemente também nas infraestruturas de apoio ao negócio, nomeadamente as infraestruturas de datacenter, quer para clouds públicos como privados, bem como mini-datacenters para “Edge Computing”.
Sendo a Rittal um dos principais players mundiais na área das infraestruturas para datacenter, sentimos ser o momento adequado para informar o mercado acerca das nossas soluções e das razões porque é que estas são tão bem-sucedidas internacionalmente, estando a equipar milhares de datacenters em todo o mundo, sendo um deles, “Lefdalmine datacenter”, um dos maiores do mundo e o maior da Europa, com níveis de eficiência de cerca de 1.1PUE [n. d. r. níveis de eficiência energética].
Assim, o objetivo é mesmo o de informar os CIO [n. d. r. chief information officer] e as suas equipas técnicas da existência de soluções altamente eficientes e que os podem ajudar a atingir os seus objetivos, quer ao nível da eficiência na segurança, como na eficiência do controlo de custos.
Manuel Blasco Delgado – Enquanto fornecedor global com uma abordagem de serviços integrados para fibra ótica e cablagem em cobre, a vastidão dos produtos e serviços da R&M ajuda o cliente a encontrar a solução de cablagem mais eficiente, poupando custos com a redução dos tempos de instalação e configuração, ao mesmo tempo que mantêm as necessidades da sua rede em foco. Os nossos produtos e serviços são baseados numa parceria estreita e colaborativa com os nossos clientes, e os nossos colaboradores com a sua relação de longo prazo, pelo que pensámos que devíamos dedicar um dia a uma conferência sobre as melhores soluções de alta performance das operações de datacenter. Em conjunto com a Rittal, mostraremos aos conferencistas o que é melhor para datacenters e o que podem esperar do desenvolvimento de infraestruturas de excelência.
PME Mag. – Como serão os centros de dados do futuro?
J. M. – Se considerarmos que futuro é amanhã, então poderemos afirmar que os datacenters serão, cada vez mais, infraestruturas capazes de responder às necessidades dos utilizadores, disponibilizando um conjunto de serviços, tais como: alta segurança contra atos de terrorismo, sismos, incêndios, inundações, intrusão, disponibilidade 365 [dias] sob 24 [horas] com taxas de up time de 99,9998%, com elevada eficiência de consumos energéticos, sendo a energia consumida proveniente de fontes renováveis, atingindo PUE tão próximo quanto possível de 1.1. Para que tal aconteça é necessário escolher corretamente o parceiro para implementação do projeto, garantindo que a solução a implementar é uma solução com o selo de garantia de qualidade e certificado por laboratórios internacionalmente creditados.
Os datacenters são desenvolvidos para responder às necessidades de cada cliente, pelo que, não sendo todos iguais, nem com as mesmas características base, devem garantir os níveis de serviço acima descritos.
Public cloud datacenter, private cloud datacenter ou Edge Datacenter são, ao nível da infraestrutura, variantes que devem garantir a mesma qualidade de serviço, embora com dimensões consideravelmente diferentes. Um public cloud datacenter pode ter milhares de metros quadrados e alojar milhares de bastidores, enquanto um Edge Datacenter pode ser constituído por um mini-datacenter para alojar somente um bastidor. As dimensões estão nos antípodas uma da outra, no entanto, os níveis de segurança e qualidade de serviço garantido são idênticas.
M. B. D. – Os datacentres do futuro serão muito mais eficientes, uma vez que o nível de utilização de sistemas de TI irá aumentar drasticamente, aumentando a densidade dos racks [n. d. r. móvel para albergar servidores]. Vai aumentar a utilização da virtualização. Além disso, estimamos que os grandes datacenters serão ainda maiores, e que os pequenos serão mais numerosos. Este aumento no número de datacenters pequenos será impulsionado pela internet das coisas, redes sociais e pela consolidação do cloud computing.
Estas tendências irão impulsionar a grande densidade de plataformas de fibra ótica, de forma a otimizar a ocupação de racks e aumentar a taxa de transferência de links, de acordo com as exigências do mercado.
PME Mag. – Porque é que esta deve ser uma preocupação fulcral para as empresas?
J. M. – O datacenter é uma infraestrutura que visa garantir a adequada proteção da informação da organização. Muitas vezes, há a tendência de associar à palavra datacenter a imagem de um espaço complexo e extremamente caro onde estão instalados os computadores e equipamentos de comunicação, e que tem custos exorbitantes. Ora, isto não corresponde totalmente à verdade. É um facto que é necessário cuidar e proteger a informação, mas também é verdade que o queremos fazer de forma sustentável e que esse recurso não se transforme num “elefante branco” capaz de sorver os recursos financeiros disponíveis. Assim, é importante que a dimensão do datacenter se adeque às reais necessidades. Se o que eu tenho a proteger cabe numa unidade de disco de 2 ou 3 terabytes, não necessito de um datacenter de 30m2. Necessito somente de um datacenter para proteger um rack onde está instalado o meu servidor e a minha unidade de disco. Assim, desde que este cumpra os níveis de serviço indicados anteriormente, eu tenho a minha informação protegida a um baixíssimo custo.
M. B. D. – As principais preocupações dos gestores de infraestruturas estão relacionadas com o calor, a energia, a eficiência, a disponibilidade, a monitorização e gestão das infraestruturas. Tudo isto significa custos adicionais para as empresas que não estavam incluídos no orçamento, pelo que as novas tendências de datacenters aliviaram o trabalho dos gestores e focam-se agora em gerar níveis de alta performance.
Os níveis de utilização de datacenters serão maiores, terão mais visibilidade e espera-se que conduzam a uma performance mais eficiente. 72% dos especialistas do setor esperam que os níveis de utilização de recursos de TI sejam de, pelo menos, 60% dentro de dez anos, quando hoje essa utilização não vai além dos 12%. Por isso, ou a densidade dos datacenters sobe de acordo com estas medidas, ou terão de ser expandidos.
Se as empresas querem evoluir e crescer com novos modelos de negócio, os seus datacenters terão de evoluir de acordo com esses modelos.
PME Mag. – O mercado português está ciente da importância de ter um bom datacenter?
J. M. – O mercado português é um mercado maduro ao nível das tecnologias de informação. O problema do mercado português não está na consciência das suas necessidades, mas sim ao nível da qualidade da oferta e da seriedade com que alguns potenciais fornecedores atuam no mercado. São promovidas no mercado português soluções que dizem cumprir os pressupostos de segurança e disponibilidade de serviço de um datacenter, no entanto, quando analisadas as supostas soluções verifica-se que não só não cumprem qualquer uma das normas internacionais aplicadas à segurança dos datacenters, como ainda colocam em total risco os equipamentos neles instalados e toda a informação que se desejava proteger. Por isso, é muito importante que os responsáveis de TI pela implementação de projetos de datacenter estejam atentos e solicitem sempre os certificados IP, IK, Burglary, Fire protection FXX, etc. Só através da apresentação dos certificados, passados por entidades acreditadas internacionalmente, é possível ter a garantia de que a solução cumpre os requisitos de proteção requeridos.
M. B. D. – No geral, os gestores portugueses de datacenters estão muito conscientes da importância de uma boa infraestrutura de datacenter. Na prática, nem todos os datacenters em Portugal estão preparados para o futuro, mas isso deve-se mais à falta de orçamento do que à falta de conhecimento.
PME Mag. – Com tantas ameaças cibernéticas, que medidas é que as empresas devem tomar para garantir a segurança dos seus centros de dados?
J. M. – Foi o que mencionei na questão anterior.
M. B. D. – De um modo geral, a segurança é uma prioridade na gestão do datacenter. Por um lado, lidar com a iminente entrada em vigor (maio de 2018) do novo regulamento europeu de proteção de dados (GDPR) e, por outro, saber lidar com possíveis ataques cibernéticos.
É óbvio que quantos mais dispositivos ligamos para facilitar a gestão e os automatismos, as hipóteses de um ciberataque aumentam. Nos últimos meses, temos assistido em todo o mundo a ataques contra organizações de prestígio. Neste momento, os ataques estão a ocorrer a todos os níveis e a cloud é um dos alvos, tendo em conta a grande quantidade de dados que aloja. Por tudo isto, o setor dos datacenters está cada vez mais preocupado com a cibersegurança e em investir em soluções que lhe permita colmatar essas falhas. Nesse sentido, é importante implementar medidas adequadas a cada tipo de datacenter que permitam identificar um possível ataque e acionar mecanismos de prevenção.
Os sistemas de gestão automática de infraestruturas (AIM) contribuem para as infraestruturas cablares para este propósito. Com este tipo de sistemas, cada movimento não autorizado ou mudança na interconexão dos sistemas pode ser supervisionado e alerta para que qualquer violação física possa ser evitada.
PME Mag. – Quais os maiores desafios que as empresas enfrentam, atualmente, nesta área?
J. M. – O maior dos desafios que as empresas enfrentam atualmente, nesta área, prende-se com a necessidade de encontrar o equilíbrio entre a necessidade da empresa no momento atual e perspetivar as suas necessidades num futuro a dez anos. Um datacenter, seja grande ou pequeno, deverá ser uma infraestrutura preparada para servir a organização durante 10 a 15 anos. Assim, é necessário ponderar a eventual necessidade de adaptar a infraestrutura às necessidades de cada momento, sem que isso implique gastos avultados ou transformações radicais. No caso da Rittal, as nossas soluções de datacenter são extremamente versáteis e modulares, permitindo um crescimento à medida das necessidades, sem desperdiçar os investimentos já realizados. Desde o mini-datacenter até à sala cofre, todas as nossas soluções podem crescer de acordo com o crescimento de necessidades. Neste caso aplica-se o princípio “Pay as You Grow” [n. d. r. paga à medida que vai crescendo].
M. B. D. – As novas tecnologias, hoje em dia, exigem um grande reajustamento nos datacenters ao nível global. Muitas organizações têm de atualizar os sistemas de cablagem antes de avançarem com a virtualização de projetos, por exemplo. Muito do trabalho que está, atualmente, a ser planeado em grandes datacenters exige cablagem que transmita a 40 e a 100 gigabytes por segundo. Até ao momento, a única alternativa para esta taxa de transferência é a fibra ótica.
Por isso é que estamos a estudar como manufaturar cabos de cobre para 40 e 100 gigabytes por segundo.
Além disso, com o aumento dos esforços para tornar os datacenters mais ecológicos, a taxa de eficiência energética PUE, uma variável definida pela The Green Grid para medir a eficiência nos datacenters, será, provavelmente, um grande desafio no futuro.