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Miguel Mascarenhas CEO FIXANDO
Miguel Mascarenhas, CEO da Fixando (Foto: D. R.)

“É essencial investir no mercado digital” – Miguel Mascarenhas

Por: Afonso Godinho

Com o setor terciário a sofrer enormes quebras, por força do confinamento na atual situação pandémica, a Fixando realizou uma análise onde afirma que, em média, este setor chega a perder cerca de 4 biliões por mês. A maior plataforma nacional de contratação de serviços locais decidiu lançar medidas de apoio aos profissionais deste setor, graças ao seu modelo de trabalho remoto, que tem englobado várias iniciativas, desde workshops a sessões de esclarecimento. 

Em entrevista à PME Magazine, Miguel Mascarenhas, CEO da Fixando, aborda o cenário atual do setor terciário, sublinhando as perspetivas da empresa quanto aos desenvolvimentos futuros do mesmo, bem como os serviços e as iniciativas que tem vindo a desenvolver. 

PME Magazine – Como avaliam o impacto deste novo confinamento no setor terciário? Quais as perspectivas para o primeiro semestre deste ano?

Miguel Mascarenhas – O novo confinamento poderá resultar em quebras na ordem dos 35% comparativamente aos valores da realidade pré-pandemia, seguindo assim a tendência negativa, ainda que menos acentuada, que se verificou num primeiro confinamento (com quebras na ordem dos 89%). A descida do preço médio de transação, aliada à quebra na procura, impedirão a necessária recuperação de um setor que se encontra, neste momento, muito fragilizado. No entanto, a implementação de medidas de proteção individual, a recuperação da confiança dos consumidores e a adaptabilidade dos prestadores de serviços e empresas à nova realidade (através de modelos de negócio alternativos) terá capacidade para atenuar ligeiramente as consequências e impedir que o setor caia drasticamente como aconteceu num primeiro confinamento. Excetua-se, contudo, o setor dos eventos, que num primeiro confinamento registou uma quebra superior a 85%, com perdas estimadas que, num setor avaliado nos 900 milhões de euros podem representar quebras na ordem dos 765 milhões de euros, e que no segundo confinamento continua com uma quebra média mensal na ordem dos 80%, sem sinais de recuperação futura. Mantendo-se esta tendência negativa, o setor dos eventos poderá atingir perdas no valor de 890 milhões de euros e provocar o encerramento de diversas empresas, colocando em risco milhares de postos de trabalho.

PME Mag. – Quais as expetativas e projetos para o desenvolvimento do setor terciário, dada a atual situação pandémica?

M. M. – O primeiro semestre de 2021 afirmava-se essencial para a recuperação dos negócios que ficaram estagnados no início da pandemia. Contudo, o novo confinamento obrigou o setor a abrandar e a afastar-se, cada vez mais, dos resultados necessários para garantir a continuidade de muitas pequenas e médias empresas. As quebras neste período poderão atingir, mensalmente, os 4 mil milhões de euros para os profissionais da área. Acreditamos, ainda assim, que, caso as medidas sejam aliviadas a partir de maio, será possível assistirmos a um crescimento na ordem dos 69% que permitirá, ainda que lentamente e com algumas quebras típicas da sazonalidade, recuperar dos meses anteriores e entrar no segundo semestre com alguma estabilidade. Até ao final do ano, projetamos que o setor consiga alcançar os valores pré-pandemia, ainda assim, a recuperação dos valores perdidos ao longo do último ano apenas será possível em 2022. Conforme referido anteriormente, no que diz respeito aos setores dos eventos, o paradigma é mais dramático: com diversos profissionais sem lucros há vários meses, um cenário de desconfinamento poderá trazer alguma esperança, dependendo da evolução da situação pandémica e das restrições em vigor que poderão, ou não, voltar a adiar os eventos presenciais (casamentos, batizados, entre outros), contudo, ainda que expectamos algum crescimento nos meses de maio e junho, este não será suficiente para atenuar o impacto negativo da pandemia neste setor. No que diz respeito a projetos, acreditamos que o essencial é continuar a investir no mercado digital, encarando as plataformas de contratação de serviços online como o modelo indispensável para garantir a continuidade dos negócios, mesmo num cenário pós-pandemia. 

Mantendo-se esta tendência negativa, o setor dos eventos poderá atingir perdas no valor de 890 milhões de euros e provocar o encerramento de diversas empresas.

PME Mag. – Qual consideram ter sido a maior mudança no setor ao longo do último ano? Como é que fizeram a adaptação a esta nova realidade?

M. M. – Enquanto plataforma de contratação de serviços online, sempre tivemos consciência da importância do digital para criar novas oportunidades de negócio. Ainda assim, por vezes, encontrávamos uma certa resistência por parte dos profissionais que sempre privilegiaram os modelos tradicionais de negócio. Assim, a maior mudança no setor foi, sem dúvida, a necessária transição para o digital. No último ano, assistimos à capacidade incrível de adaptação dos prestadores de serviços a novas circunstâncias: desde o personal trainer que passou a dar aulas por zoom ao eletricista que oferece consultoria através do WhatsApp. A pandemia, as regras de distanciamento social e o confinamento provaram aos portugueses que é possível fechar negócios à distância e que as ferramentas digitais são fundamentais em qualquer negócio, pois apenas estas conseguem garantir que a vida e as empresas não estagnam. Na Fixando, temos realizado várias iniciativas com vista a preparar os nossos profissionais para uma realidade mais digital, através de workshops e sessões de esclarecimento e temos, cada vez mais, vindo a apostar em ferramentas que permitam aos profissionais continuar a prestar os seus serviços mesmo num contexto pandémico, nomeadamente através da criação de um método de pagamento 100% digital, de um selo profissional seguro e da disponibilização de um calendário gratuito e online para ajudar na gestão de clientes dos profissionais.

PME Mag. – Quais dos vossos serviços têm sido os mais procurados ao longo da atual situação pandémica?

M. M. – No ano de 2020, lançámos cerca de 20 categorias exclusivas de prestação de serviços online e em 2021 mais de 63% dos profissionais registados presta serviços remotamente. Destacam-se, assim, como serviços mais procurados ao longo do último ano, os serviços remotos que criámos no âmbito do primeiro confinamento, com relevância para o serviço de personal trainer online, entrega de refeições e estafetas, psicologia e nutrição. Já no que diz respeito a serviços tradicionais, destacamos a certificação energética, hotel e creche para animais, serviço de limpeza, reparação e assistência técnica de equipamentos, treino de cães, remodelação e construções, pintura e estofador.

No ano de 2020, lançámos cerca de 20 categorias exclusivas de prestação de serviços online e em 2021 mais de 63% dos profissionais registados presta serviços remotamente.

PME Mag. – Quais os serviços que destacam no apoio às empresas? E qual tem sido o feedback das mesmas?

M. M. – Temos sentido, como já referido, uma fantástica adaptabilidade por parte das empresas e dos profissionais do setor dos serviços à transição para o digital. Ainda assim, foi necessário criarmos mecanismos de apoio que facilitassem esta transição. Destacamos, por isso, Fixando Pay, que permite aos profissionais serem pagos pelos serviços de uma forma 100% online e os webinares que temos vindo a realizar ao longo deste último ano e que visam contribuir para a melhoria da presença online dos profissionais e para potenciar o crescimento dos seus negócios.