Sexta-feira, Novembro 8, 2024
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“Estamos à procura de investidores que possam ajudar a escalar o negócio nos Estados Unidos” – Fernanda Vasconcelos

Por: Ana Vieira


A Nolita, startup portuguesa que desenvolveu uma tecnologia que permite eliminar açúcares e adoçantes adicionados utilizando fibras pré-bióticas, está à procura de investidores para entrar no mercado norte-americano.

Em março deste ano, a empresa registou a sua primeira patente, uma inovação que permite criar produtos sem adição de açúcares/adoçantes através de uma técnica termomecânica que molda as propriedades das fibras.

Em entrevista à PME Magazine, Fernanda Vasconcelos, cofundadora e diretora geral da Nolita, realça a “responsabilidade de criar soluções escaláveis que permitam abrandar a atual epidemia de doenças crónicas, criando uma versão saudável de tudo o que é doce e pouco saudável”.

 

PME Magazine (PME Mag). – Como surgiu a Nolita?
Fernanda Vasconcelos (F. V.) – A Nolita surgiu da minha experiência pessoal. Há uns anos percebi que não me estava a alimentar tão bem como eu pensava e decidi mudar a minha alimentação. Foi muito difícil encontrar produtos saudáveis para pequenos-almoços e lanches. Fiquei assustada porque comecei a ler os rótulos dos alimentos e apercebi-me que a grande maioria dos produtos tem muitos aditivos e demasiado açúcar. Até o presunto e o queijo têm adição de açúcar, antioxidantes e conservantes!

“(…) comecei a fazer o meu próprio pão, granolas e barritas, apesar de não ter grande amor pela cozinha”

As bolachas, granolas e preparados para panquecas contêm hidratos de carbono altamente refinados, e grandes quantidades de açúcar, disfarçadas por estarem contidas no mel, geleia de agave ou nas tâmaras que são adicionados. Por isso comecei a fazer o meu próprio pão, granolas e barritas, apesar de não ter grande amor pela cozinha… mas tenho uma paixão louca pela comida. Mais tarde percebi que não era a única a sentir esta necessidade e que havia uma procura no mercado por este tipo de produtos. Tal coincidiu com uma altura em que não me estava a sentir desafiada pela minha profissão, pelo que decidi arriscar tudo, deixar o meu emprego de diretora de marketing num grupo de empresas tecnológicas, e dedicar-me a fabricar e vender produtos sem açúcar para pequenos-almoços e lanches.

Fico triste ao ver como tantas pessoas destroem a sua saúde todos os dias com dietas pobres em proteínas, gorduras saudáveis e fibras. Sinto-me na responsabilidade de criar soluções escaláveis que permitam abrandar a atual epidemia de doenças crónicas, criando uma versão saudável de tudo o que é doce e pouco saudável.

 

PME Mag. – Como é que a tecnologia de fibras pré-bióticas da Nolita se diferencia de outras soluções no mercado de produtos sem açúcar?
F. V. – As fibras são consideradas muito saudáveis. Existem inúmeros estudos a descrever os seus benefícios. Por isso decidimos usá-las nos nossos produtos e acabámos por descobrir um processo que nos permite adoçar e caramelizar sem qualquer adição de açúcar ou adoçantes.

“Os estudos indicam que os adoçantes artificiais são todos nocivos para a saúde.”

Os produtos doces sem açúcar adicionado que estão no mercado são habitualmente adoçados com tâmaras (que contêm 75% de açúcar) ou adoçantes sem açúcar. Os estudos indicam que os adoçantes artificiais são todos nocivos para a saúde. Quanto aos adoçantes naturais, as melhores opções parecem ser a stevia, o fruto dos monges e a alulose, no entanto também não são perfeitos. Há estudos que indicam que a stevia pode prejudicar os rins, o sistema reprodutor e o sistema cardiovascular. Aliás, a união europeia recomenda que o consumo de stevia não exceda os 4mg por kg de peso corporal. O fruto dos monges não é permitido na união europeia por haver suspeitas de que pode prejudicar os rins e os órgãos reprodutores. A alulose também não é permitida na união europeia dado que certos estudos indicam que promove o crescimento de bactérias prejudiciais à saúde e pode aumentar o risco de infeções.

Os efeitos nocivos dos adoçantes são bastante claros atualmente, tendo em conta os estudos disponíveis, infelizmente esta informação ainda não está muito disseminada no público em geral, apesar de ser possível descobri-la com uma simples pesquisa no google.

No ano passado, a Organização Mundial de Saúde criou um guia para explicar porque não recomenda o uso de adoçantes sem açúcar para controlo de peso ou redução do risco de contrair doenças, onde detalha as evidências científicas e justifica a sua recomendação da seguinte forma:

– os adoçantes não têm benefícios de longo prazo no controlo de peso e
– os adoçantes têm efeitos secundários nocivos, tais como o aumento do risco de contrair diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e também aumentam o risco de mortalidade em geral.

É por isso que continuamos a apostar nas fibras. É algo que o ser humano já consome há muito tempo e que comprovadamente não apresenta nenhum risco para a saúde. Deixa-me muito feliz ter descoberto uma solução para substituir o que faz mal à saúde (açúcares e adoçantes) pelo que falta na nossa alimentação e que nos faz tão bem: a fibra que sustenta a saúde intestinal.


PME Mag. – Quais são os principais desafios enfrentados pela Nolita para escalar os seus produtos no mercado dos EUA?
F. V. – Os principais desafios para escalar nos EUA são:
– a distância, que dificulta o contacto direto e regular com os potenciais compradores,
– a concorrência, pois há muita inovação no mercado e o espaço de prateleira é limitado,
– o capital necessário para investir em viagens, feiras, promoções e cash-flow para produzir as primeiras encomendas.

PME Mag. – Como é que a empresa pretende atrair investidores americanos, considerando o mercado competitivo de alimentos saudáveis nos EUA?
F. V. – Os consumidores americanos estão muito mais bem informados do que eu imaginava e procuram produtos com as características que os nossos têm. Tal acontece porque existem influenciadores credíveis (médicos, cientistas, etc) com milhões de seguidores que têm feito um trabalho fantástico de educação do consumidor através das redes sociais.

Sabia que 75% dos americanos estão a tentar reduzir o consumo de açúcar? Para as pessoas que vivem em lares com rendimentos superiores a cem mil dólares por ano, o 2º fator de escolha de um produto é o facto de ser saudável, sendo o 1º fator o sabor. Para além disso, um estudo recente da Euromonitor Internacional concluiu que “Embora os consumidores queiram reduzir o açúcar, não há grande clamor por adoçantes naturais como a stévia, que tem registado um abrandamento do crescimento. […] Os adoçantes artificiais parecem altamente impopulares entre os consumidores.”

“(…) não existe nenhuma marca nos EUA com produtos doces e caramelizados sem adição de açúcar nem adoçantes”

Felizmente para nós, não existe nenhuma marca nos EUA com produtos doces e caramelizados sem adição de açúcar nem adoçantes, pelo que iremos usar a nossa vantagem competitiva para convencer os retalhistas a ceder-nos espaço de prateleira.

PME Mag. – Em que consiste a patente da empresa?
F. V. – O que queremos proteger com o nosso pedido de patente é o nosso processo proprietário, que nos permite usar fibra para adoçar e caramelizar. Trata-se de uma nova técnica termomecânica, que molda as propriedades da fibra. Tal significa que apenas são aplicados processos físicos mínimos durante o fabrico do produto, evitando todo o processamento químico. Esta inovação pode ser aplicada em diversas categorias de alimentos, como granolas, barras de cereais, bolachas e muito mais.

No início do ano recorremos a uma empresa independente para elaborar um painel sensorial com o objetivo de perceber se a nossa solução era tão doce como o açúcar. Ficámos surpreendidos, pois os consumidores atribuíram um nível de doçura superior aos nossos produtos quando comparados com uma versão modificada em que a fibra é substituída por açúcar branco corrente.

 

PME Mag. – Qual a presença da marca em Portugal?
F. V. – Atualmente temos uma gama com 28 referências: as granolas são os produtos que mais vendemos, mas temos também frutos secos caramelizados, preparados para panquecas e queques e preparados para pão.

Em Portugal, estamos presentes em mais de 100 pontos de venda, tal como o El Corte Inglês, o Celeiro, farmácias e lojas biológicas. Estamos também presentes no digital, quer com a nossa loja online, quer através de marketplaces como a loja do Casal Mistério.

Sempre soubemos que em Portugal teríamos um crescimento limitado, porque trabalhamos um nicho num país que já de si tem uma dimensão muito pequena. No entanto, foi uma aposta consciente, pois queríamos cometer os erros todos de uma pequena empresa a iniciar-se numa área de negócio dominada por gigantes num mercado com pouca visibilidade, onde conseguíssemos testar e corrigir rapidamente.


PME Mag. – Qual é a estratégia da Nolita para educar os consumidores sobre os benefícios das fibras pré-bióticas e seu impacto na saúde intestinal?
F. V. – Seriam necessários muitos recursos para educar o consumidor. É algo que só as empresas muito grandes conseguem fazer, como por exemplo a Nestlé, Mondelez, Mars ou a General Mills. É por isso que estamos agora a apostar em força num mercado onde grande parte dos consumidores já estão educados e têm poder de compra para adquirir os nossos produtos. Nada melhor do que aparecer nas prateleiras dos supermercados americanos depois dos grandes influenciadores da longevidade e do “healthy leaving” dizerem aos seus milhões de influenciadores que o açúcar faz mal, os adoçantes são ainda piores, e que devíamos consumir muito mais fibra. A “gut health” tem sido muito discutida a nível mundial. Já toda a gente sabe que “o intestino é o nosso 2º cérebro”. A frase pegou muito bem, o que demonstra que os consumidores já começam a ter o nível de educação desejável para a comercialização em escala de produtos com pré e/ou probióticos.

 

PME Mag. – Qual foi a faturação em 2023?
F. V. – A Nolita ainda é uma empresa muito pequena, mas acredito que temos agora todas as condições para crescer a grande velocidade. Com esta inovação revolucionária, pretendemos conquistar os consumidores dos EUA, um mercado que representa cerca de 16% do setor global de produtos saudáveis, estimado em 1.500 mil milhões de dólares, cerca de 1.500 mil milhões de dólares, cerca de 1.340 mil milhões de euros. Para alcançar esse objetivo, estamos à procura de investidores que possam ajudar a escalar o negócio nos Estados Unidos.

Estivemos recentemente na Fancy Food Show, em Nova Iorque, e percebemos o potencial deste mercado para os produtos Nolita. Acreditamos que podemos chegar a 1 milhão de euros de vendas em 2026 com o mercado dos EUA.

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