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Artur Salada Ferreira, administrador do Lisboa Biz (Foto: Inês Antunes)

Foguetes antes da festa

Por: Artur Salada Ferreira, administrador do Lisboa Biz

Ainda a procissão estava no adro e já se lançavam foguetes vindos dos diversos responsáveis políticos do nosso país. Afinal, o milagre transformou-se em desastre. Os números de infetados por Covid-19 começaram a disparar e por pouco a situação não ficou descontrolada.

Obviamente, não duvidamos das boas intenções dos protagonistas. O desconhecimento generalizado e ânsia de mostrar resultados, do ponto de vista económico e sanitário, conduziram a população a um sentimento de que tudo estava a correr bem e de que os sacrifícios não eram assim tão necessários.

Embora as minhas crónicas abordem, normalmente, assuntos de natureza social e financeira, não podia deixar de falar neste “pandemónio” que a todos aflige e cujas consequências são imprevisíveis. Seguramente serão bastante penalizantes para todos nós.

Durante este período, em que vigoraram diversas medidas excecionais, tem sido possível observar belos momentos de política nacional, que a Europa bem beneficiaria em seguir o exemplo.

Toda a Assembleia da República, num raro momento de unanimidade, se prontificou a validar as medidas de intervenção excecionais propostas pelo Governo.

Por sua vez, a União Europeia demorou uma eternidade a reagir, não tendo nunca de forma clara conseguido alcançar um entendimento generalizado.

Nesta crise, o Sistema Nacional de Saúde teve uma intervenção a todos os títulos meritória e, apesar de todas as dificuldades em termos de falta de equipamentos e de pessoal, deixou uma impressão assaz positiva.

“A União Europeia demorou uma eternidade a reagir, não tendo nunca de forma clara conseguido alcançar um entendimento generalizado.”

As primeiras medidas de apoio financeiro com vista a minimizar o impacto da pandemia eram aceitáveis no conteúdo, porém, muito lentas na sua implementação. O tão proclamado lay-off simplificado revelou-se uma ferramenta de reduzido montante, mas, pior do que isso, muito moroso na sua implementação, o que de resto vem sendo característico deste tipo de medidas em Portugal.

Também a Europa não conseguiu entender-se numa ação conjunta, num momento tão crítico e de dificuldade tão transversal a todos os países da União Europeia. Não existindo uma política europeia que previsse uma intervenção a uma só voz numa situação de pandemia, os países europeus reuniram-se com o objetivo de lançar medidas de política económica e social, que globalmente evitassem a queda brutal dos PIB de todos os países da União Europeia. Os europeístas convictos estarão por esta altura a perguntar-se: “Onde está a Europa?”.

Este incidente deixou mais uma vez claro que o modo de tomada de decisões por parte dos responsáveis europeus tem de ser revisto, sob pena de barrar outras decisões de igual importância no futuro, uma vez que os responsáveis de cada país não tomam decisões em prol do bem comum europeu, mas antes são motivados por pretensos interesses nacionais.

A nível de política interna, não podia deixar de referir a incompreensível nomeação de Mário Centeno para governador do Banco de Portugal. Não tanto pela sua preparação, mas antes pela sua posição política de ex-ministro das Finanças. A proximidade da nomeação para o cargo de governador, com a saída do cargo de ministro das Finanças, leverá a que muitos dos atos praticados pelo ministro cessante sejam controlados pelo próprio enquanto governador do Banco de Portugal.

Nunca antes tínhamos assistido a uma transição tão apressada do Ministério das Finanças para governação do Banco de Portugal. Seria de esperar que quem tanto ser orgulhava do sucesso da sua governação não abandonasse o barco quando se adivinhava que este estava prestes a afundar-se.